Santander restringe vale-transporte e põe em risco segurança de funcionários

Como se não bastasse o Call Center do Santander ser localizado em área de risco e de difícil acesso, o banco ainda está anunciando mudanças na concessão do vale-transporte que colocam em risco os empregados. O objetivo claro do banco é reduzir despesas, mas a situação é mais complexa que isso. A escolha do modal de transporte pelos trabalhadores nem sempre se dá pelo custo, mas por outros fatores, como segurança, proximidade do local de embarque e desembarque, tempo de deslocamento, etc.

No início de outubro o banco informou que fará a roteirização dos trajetos dos funcionários e apresentará individualmente. Se o empregado não concordar, poderá recusar a rota proposta e outra lhe será apresentada. Isto pode se repetir mais uma vez e, caso não concorde com as opções oferecidas, terá que justificar o motivo, apresentando a razão que o fez escolher os modais que vinha utilizando. Os valores de vales-transporte concedidos aos funcionários cobrem apenas os modais mais baratos de transporte e privilegiam as integrações oferecidas pelo sistema do Bilhete Único.

O banco pretende economizar impondo riscos severos aos empregados e a rota elaborada para calcular o valor do benefício é, muitas vezes, mal feita. “A roteirização tem falhas, como linha de ônibus extinta. E ainda situações perigosas, como a necessidade de descer na Avenida Brasil de madrugada, passar por dentro de comunidades e áreas de risco”, critica Marcos Vicente, dirigente sindical e representante da Fetraf-RJ/ES na COE Santander. Há também um limite máximo bastante amplo para as caminhadas entre o destino e o local de embarque ou desembarque: 700 metros, ou 500 metros para Pessoas com Deficiência. “Querer que o empregado caminhe 700 metros já é errado, mas obrigar uma PcD a andar meio quilômetro até pegar condução só para o banco economizar é muito além do absurdo”, acrescenta o sindicalista.

A mudança contraria a lei 7.418-1985, que instituiu o vale-transporte para o trabalhador. No artigo 4º está determinado que o benefício seja concedido ao trabalhador “no serviço de transporte que melhor se adequar”, e não no que tiver custo mais baixo. E “se adequar” inclui a garantia de condições aceitáveis, como trajetos a pé mais curtos, segurança, melhor rota, menor tempo, etc. No caso dos trabalhadores do call center, onde há a maior concentração de funcionários com deficiência dentro do banco, a situação envolve, ainda, a questão da acessibilidade, que não pode ser descartada sob risco de inviabilizar o deslocamento do empregado.

Reincidência

Já não é a primeira vez que funcionários do banco se deparam com este problema. Em 2008, quando ainda era ABN Real, os funcionários da região metropolitana do Rio de Janeiro – a capital, mais Niterói e Baixada Fluminense – tiveram o mesmo embate. Na ocasião o banco contratou uma consultoria para elaborar as rotas. Em trajetos que poderiam ser feitos de metrô ou de ônibus o modal rodoviário foi imposto por ser mais barato, ainda que o tempo de deslocamento fosse muito maior. Baldeações foram eliminadas em favor de viagens únicas mesmo que isto implicasse em maior tempo de espera pela condução ou risco à segurança. O trajeto aceitável a pé era de 800 metros, liberando o banco de complementar o valor de uma segunda passagem. Além de impor as rotas aos trabalhadores, o banco também planejava impor roteirização de trajetos aos funcionários que viessem a ser contratados a partir daquela data.

A Fetraf-RJ/ES interpelou o ABN Real numa mesa redonda na DRT e foi feito um ajuste para acomodar as necessidades dos empregados. “O banco queria economizar e partiu do princípio que os empregados estavam se aproveitando do benefício. O trabalhador é sempre visto como desonesto, mas o que acontece na maioria das vezes é que os empregadores não dão a menor importância às condições de transporte a que submetem seus funcionários”, conclui Marcos Vicente.

Providências

O movimento sindical está atento à situação e vai agir para evitar que os empregados sejam pressionados a aceitar rotas de transporte que não sejam adequadas. “Os bancários que não conseguirem manter sua opção de rota e se sentirem prejudicados pela mudança arbitrária devem procurar orientação junto ao Sindicato, para que possamos tomar as medidas cabíveis”, recomenda Marcos Vicente. “Se for necessário, vamos encaminhar denúncia ao Ministério Público do Trabalho e demais órgãos de defesa”, anuncia o dirigente.