Quarta-feira, 15, é dia de mobilização nacional contra o PL 4330

A aprovação do texto-base do PL 4330 na última quarta-feira ameaça a classe trabalhadora, pondo fim a conquistas trabalhistas históricas e fundamentais ao escancarar a possibilidade de terceirização do trabalho em todas as atividades. Ainda na semana passada, a CUT soltou orientação para seus filiados, definindo o próximo dia 15, quarta-feira, como Dia Nacional de Luta contra o PL 4330. Retardamento de início de expediente, paralisações de 24 horas e atos públicos deverão acontecer em todo o país em protesto contra a aprovação do projeto.

No Rio de Janeiro, os bancários vão participar do grande ato convocado pela CUT e outras centrais. A manifestação começa com a concentração na Cinelândia, às 16h, e segue em passeata até a sede da Firjan, a federação das indústrias do estado. “Precisamos de muita mobilização para tentarmos barrar a aprovação do PL 4330 no Congresso. Os filiados devem enviar dirigentes e trazer faixas e bandeiras de suas entidades para demonstrar o repúdio dos bancários fluminenses à nova lei da terceirização”, orienta Nilton Damião Esperança, presidente da Fetraf-RJ/ES.

Vale-tudo

Depois de inúmeras tentativas de flexibilizar as leis trabalhistas, os empresários resolveram mudar a estratégia e desengavetar o projeto de lei 4330, proposto pelo então deputado federal por Goiás Sandro Mabel, na época filiado ao PL. Sindicalista patronal e empresário, Mabel se destacou pela luta por uma reforma tributária que retirasse taxas e encargos da atividade empresarial. Em 2004, propôs o projeto que, se não acabava com a CLT, descobriu uma forma de contorná-la, generalizando uma forma alternativa de contratação de mão de obra que precariza o trabalhador e, assim, diminui os custos da mão de obra.

O PL 4330 quase entrou em votação em meados de 2013, mas uma forte ofensiva dos sindicalistas de todo o Brasil junto aos parlamentares acabou levando ao engavetamento do texto. Mas, logo no início da atual legislatura o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, anunciou que o colocaria em votação e se empenhou ao máximo por sua aprovação. Mesmo impedido de votar pelo regimento da casa, Cunha foi o maior defensor do projeto, chegando a convocar sessões extraordinárias e defendeu a votação em caráter de urgência para que tudo acontecesse da maneira mais rápida possível. (Veja, abaixo, como votaram os deputados federais do estado do Rio de Janeiro)

O movimento sindical enviou representantes a Brasília para acompanhar a votação na última semana. A Fetraf-RJ/ES enviou os diretores Leonice Pereira, Paulo Garcez, Rafanele Alves e Rubens Branquinho, além do presidente, Nilton Damião Esperança. Todos os sindicatos filiados também enviaram representantes.

Mas a entrada dos trabalhadores foi barrada, enquanto os representantes do empresariado foram recebidos nas galerias do plenário. “Eduardo Cunha proibiu a entrada dos trabalhadores na casa que pertence ao povo, que inclusive o elegeu, bem como a todos os demais parlamentares”, relatou Nilton Damião. “Cunha agiu como se o Congresso fosse propriedade sua e ainda mandou a polícia legislativa e a PM reprimirem com violência a manifestação que as centrais fizeram na Praça dos Três Poderes. Trabalhadores apanharam e foram tratados como bandidos por policiais e seguranças truculentos”, acrescentou o presidente da Fetraf-RJ/ES.

Bom para quem?

A história mostra que a terceirização sempre foi uma medida catastrófica para o trabalhador. Além de ganharem cerca de 24 % a menos, em média, que um trabalhador contratado diretamente, os terceirizados também têm piores condições de trabalho, o que resulta num índice de acidentes de trabalho. Em média, os acidentes envolvendo terceirizados passam de 75 % do total – na Petrobras, chega a 80 % . Além disso, com a terceirização, há risco de haver redução dos postos de trabalho, já que os subcontratados trabalham cerca de 3 horas a mais que os trabalhadores diretos.

Outro dado alarmante é o risco de precarização absoluta, com redução do trabalhador à condição análoga à de escravo. Nos últimos anos, 90 % dos trabalhadores escravizados libertados por diligências do Ministério do Trabalho eram terceirizados. Hoje, mesmo com todas as restrições legais que existem, a terceirização atravanca a Justiça Trabalhista, já que mais de 15 mil processos que tramitam no TST são referentes a trabalhadores terceirizados.

Pesadelo

Qualquer trabalhador terceirizado sonha em ser efetivado, para ganhar um salário melhor e gozar de todos os benefícios que recebem os empregados diretos. Caso o PL 4330 acabe virando lei, vai acontecer justamente o contrário. Funcionários contratados diretamente perderão seus empregos e serão substituídos por terceirizados. Mesmo que o mesmo trabalhador continue na empresa, terá que se submeter à contratação como terceirizado, com salário menor e menos benefícios.

Como terceirizados, os trabalhadores enfrentam, além da instabilidade profissional, as infrações trabalhistas. É muito comum que firmas terceirizadoras de mão de obra deixem de cumprir suas obrigações, não depositando FGTS, nem recolhendo contribuições ao INSS. Não é raro também acontecer irregularidade nos pagamentos dos salários, vale-transporte e tíquetes refeição.

O que muda

Há vários pontos muito negativos no texto base do PL 4330, mas o mais importante diz respeito à abrangência da terceirização. Hoje a subcontratação só é permitida em poucos casos, e nunca na atividade-fim da empresa. Por exemplo, uma padaria não pode terceirizar padeiros, um banco não pode subcontratar bancários, um hospital é proibido de contratar como terceirizados seus médicos e enfermeiros. Nas atividades-meio, como limpeza e manutenção e vigilância, é permitido terceirizar. Isto é o que determina a Súmula 331 do TST, o documento que unifica as decisões da Justiça Trabalhista. A proposta do PL 4330 é permitir que toda e qualquer atividade profissional seja terceirizada, havendo apenas a necessidade da empresa contratada ser especializada no serviço que vai prestar. Para o relator do texto, deputado Arthur Maia (PMDB-BA), esta única restrição é suficiente, mas os sindicalistas, já acostumados à rotina dos terceirizados, garantem que é pouco.

Outra questão complexa diz respeito à contratação de trabalhadores como pessoas jurídicas, os PJs. A chamada “pejotização” é outra forma de precarizar o trabalhador, remunerando o trabalho sem pagar direitos trabalhistas. Uma tentativa de oficializar esta prática – que é proibida, mas comum – foi feita como “contrabando” na chamada Lei da Super Receita, em 2007, com a transferência do poder de fiscalização do Ministério do Trabalho para o Ministério da Fazenda. Com isso, desde que os impostos de todos os CNPJs envolvidos estivessem em dia, o trabalhador poderia receber contra apresentação de nota fiscal. Mas a Emenda 3 foi vetada pelo então presidente Lula e o MTE continuou com poder de multar e obrigar a contratação do PJ caso fique caracterizado que este trabalhador nas mesmas funções dos contratados diretos. Com a terceirização irrestrita, a contratação de empresas “de uma só pessoa” será legitimada.

Com a transformação do PL 4330 em lei, todos os direitos assegurados hoje nos contratos de trabalho diretos entre trabalhador e empresa onde desempenha sua função serão esquecidos. Os empresários vão procurar cada vez mais firmar contratos que reduzam o custo do trabalhador. E quem ganha com isso, definitivamente, não é o assalariado. “Ao invés de contratarem funcionários qualificados, os empresários vão investir na rotatividade, não se preocupando sequer com a saúde desses trabalhadores. Temos a certeza de que, liberando a terceirização da atividade fim, teremos, por exemplo, pessoas trabalhando nos bancos sem serem bancários e recebendo salários e direitos bem menores do que os da categoria organizada nacionalmente”, esclarece Nilton Damião Esperança.


 


Como votaram os deputados federais do estado do Rio de Janeiro:


























































































































































Alessandro Molon PT Não
Benedita da Silva PT Não
Cabo Daciolo PSOL Não
Chico Alencar PSOL Não
Chico D’Angelo PT Não
Clarissa Garotinho PR Não
Deley PTB Não
Fabiano Horta PT Não
Glauber Braga PSB Não
Jandira Feghali PCdoB Não
Jean Wyllys PSOL Não
Luiz Sérgio PT Não
Marcelo Matos PDT Não
Miro Teixeira PROS Não
Alexandre Serfiotis PSD Sim
Alexandre Valle PRP Sim
Altineu Côrtes PR Sim
Aureo Solidariedade Sim
Celso Jacob PMDB Sim
Celso Pansera PMDB Sim
Dr. João PR Sim
Ezequiel Teixeira Solidariedade Sim
Fernando Jordão PMDB Sim
Francisco Floriano PR Sim
Hugo Leal PROS Sim
Julio Lopes PP Sim
Leonardo Picciani PMDB Sim
Luiz Carlos Ramos PSDC Sim
Marquinho Mendes PMDB Sim
Otavio Leite PSDB Sim
Paulo Feijó PR Sim
Roberto Sales PRB Sim
Rodrigo Maia DEM Sim
Rosangela Gomes PRB Sim
Sergio Zveiter PSD Sim
Simão Sessim PP Sim
Soraya Santos PMDB Sim
Walney Rocha PTB Sim

Fonte: Da Redação – Fetraf-RJ/ES