Novo PDV e presidente privatista ameaçam Caixa

Duas notícias assustaram os empregados da Caixa nos últimos dias. Primeiro foi a indicação do banqueiro Pedro Guimarães, declaradamente a favor de privatizações, para a presidência da estatal. Depois, a empresa soltou comunicado informando a abertura de mais um novo PDV – chamado de Programa de Desligamento de Empregado (PDE).

O novo PDV prevê o desligamento de 1.600 empregados – e também a extinção dos postos de trabalho, já que não haverá novas contratações. O prazo para adesão já começou, na última segunda-feira, 26, e vai só até dia 30. Funcionários que já estão aposentados ou que terão os requisitos para aposentadoria até o fim do ano, os que têm mais de 15 anos de casa e os que têm adicional de função incorporado. De PDV em PDV – cada um com um nome diferente – a Caixa já perdeu cerca de 16 mil empregados desde 2015. Depois de fechar 2014 com mais de 101 mil funcionários, a Caixa tem hoje cerca de 85 mil, antes dos desligamentos do programa recém iniciado. Vale lembrar que uma portaria do DEST publicada em julho de 2013 autorizava a empresa a contratar 9.873 empregados até o final de 2015 e que o Acordo Aditivo de 2014 previa a abertura de dois mil postos de trabalho. O último concurso, realizado em 2014, aprovou mais de 30 mil candidatos.

O enxugamento da estrutura – e seu impacto positivo no lucro da Caixa – são medidas claras de preparação para a privatização. “A direção da Caixa se orgulha de apontar a economia de gastos com pessoal que os PDVs vêm proporcionando e o impacto dos desligamentos no lucro. Mas não dimensiona o prejuízo para o atendimento à população e os danos à saúde dos empregados. O lucro do banco não pode ser obtido com o sacrifício dos funcionários e usuários”, destaca Luiz Ricardo Maggi, diretor de Bancos Federais da Fetraf-RJ/ES. O presidente eleito e sua equipe já deixaram claro que vão privatizar tudo o que puderem, o mais rápido que conseguirem.

A escolha do nome que vai presidir a empresa é o maior indício de que a Caixa está na mira do presidente eleito. Embora caiba ao chefe do Executivo nomear os presidentes das estatais, o “superministro” Paulo Guedes já declarou que prefere o banqueiro Pedro Guimarães, sócio do banco de investimentos Brasil Plural, um especialista em privatizações. O indicado participou da privatização do Banespa e tem doutorado em Economia pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, com uma tese sobre o processo de privatizações do Brasil.

Reações

A representante dos empregados no Conselho de Administração, Rita Serrano, já emitiu nota destacando que a medida vai trazer impacto negativo no atendimento e para os empregados que ficarem. Rita ressaltou que a redução do quadro de pessoal “aumenta a pressão e a sobrecarga de trabalho”. O presidente da Fenae, Jair Pedro Ferreira, lembrou que o aumento das atribuições e piora o quadro de assédio moral e tem impacto importante na saúde dos empregados. Jair também apontou o enfraquecimento da empresa. “O que temos hoje é um recuo da atuação da Caixa, que está lucrando mais, mas à custa de menos crédito para a população, aumento de juros e tarifas e retirada de direitos dos trabalhadores”, declarou.

Quanto à indicação de Pedro Guimarães, as entidades representativas de funcionários já se posicionaram contra, através de nota. Além da questão da privatização, os empregados apontam conflitos de interesse, já que o indicado está envolvido em situações que o impedem de assumir a presidência de estatais. Seu banco é credor no processo de recuperação judicial de uma empresa que também tem como credores o BB e a Caixa. A empresa de Guimarães também é suspeita de supervalorização artificial de um fundo do qual é gestora, o que causou prejuízos à Funcef e à Petros. Atualmente o banco Brasil Plural é um dos investigados na Operação Greenfield, realizada pela PF e pelo Ministério Público Federal. “O problema não é só a postura privatista de Pedro Guimarães. Sua indicação contraria o discurso moralizador do presidente eleito, já que o indicado participou de operações escusas que prejudicaram a Caixa e a Funcef, e está sob investigação”, critica Luiz Ricardo Maggi.

Confira abaixo a íntegra da nota das associações de pessoal da Caixa sobre a indicação de Pedro Guimarães:

Nota das entidades representativas dos empregados da Caixa

É com imensa preocupação que as entidades representativas dos empregados da Caixa Econômica Federal acompanham o anúncio de que o sócio e diretor do Banco Brasil Plural, Pedro Guimarães, será o presidente da empresa pública.

O Brasil Plural é o principal credor no processo de recuperação judicial da empresa Ecovix, na qual Caixa e Banco do Brasil também são credores. É evidente, portanto, a incompatibilidade, por conflito de interesses, de um sócio-diretor do Brasil Plural ocupar qualquer cargo de gestão nos bancos federais.

Além do evidente impedimento, pesa contra a empresa de Pedro Guimarães a suspeita de envolvimento na supervalorização artificial registrada pelo FIP Florestal, fundo do qual a Brasil Plural é gestora. A operação causou prejuízos à Funcef e à Petros e está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal no âmbito da Operação Greenfield.

Esses motivos tornam a indicação de Guimarães extremamente temerária e suspeita, para muito além dos interesses privatistas os quais, ademais, jamais foram mantidos em segredo.

É importante lembrar que a Caixa não pertence a um governo, mas ao Estado brasileiro. Ela mantém hoje a melhor estrutura de capital entre todos os bancos brasileiros, já alcançou este ano o maior lucro da sua história, vem sendo administrada nas últimas gestões por empregados de carreira e continua sendo o banco essencial para a sociedade. Precisamos estar atentos!

Fórum das Entidades Representativas dos Empregados da Caixa

 

Fonte: Fetraf-RJ/ES