BBVA PODE VOLTAR A TER BANCO NO PAÍS

O BBVA estuda voltar a ter um banco no Brasil. A idéia, segundo o chefe do escritório do banco espanhol no Brasil, Alberto Charro, é atender à demanda de investidores institucionais, empresas e fundos de hedge (menos avesso a riscos) clientes de Madri, Nova York e Londres por operações em reais. “Queremos fazer derivativos estruturados para nossos clientes no país”, diz ele. “Temos uma demanda que precisa ser atendida com uma certa urgência”, afirma.


Para realizar atividades de tesouraria para clientes, é necessário ter um banco no país ou fazer parcerias com algum banco local. Hoje, o BBVA tem um escritório de representação no Brasil, com cerca de 25 funcionários, e uma participação de 5% no capital do Bradesco. A participação foi acertada quando o então BBV vendeu o seu banco no Brasil ao Bradesco, em 2003, após ter atuado no país desde 98, quando comprou o Excel.


Segundo Charro, o tesoureiro do BBVA para América Latina, Gerardo Vargas, está em visita ao Brasil para conhecer tesourarias, entre elas a do Bradesco. “Vários executivos do banco virão para cá antes de tomarmos uma decisão”, disse. Segundo ele, a opção de comprar um banco no Brasil está descartada.


Hoje, apesar de só ter um escritório no Brasil, o banco já consegue montar estruturas de forma a oferecer empréstimos em reais a seus clientes e de acordo com as normas do Banco Central. O banco deu garantia total, por meio de uma carta de crédito “stand-by”, a um empréstimo-ponte feito pelo Bradesco de R$ 562 milhões ao consórcio de empresas espanholas Cobra, Elecnor e Isolur que venceram leilão de concessão de linhas de transmissão de energia no Brasil, diz Paulo Machado de Carvalho, responsável pelas operações de finanças estruturadas.


“Somos um escritório de representação, mas nossa capacidade de empréstimos às empresas brasileiras é bem maior do que muitos bancos estrangeiros com subsidiárias no país”, afirma Charro. O banco tem limite de US$ 6 bilhões disponível para exposição ao Brasil no mercado externo e tem mais de US$ 2 bilhões em carteira. “Podemos realizar até US$ 750 milhões para apenas um cliente”, conta.


Essa disponibilidade para Brasil no balanço aliada à crescente internacionalização das empresas brasileiras têm feito o BBVA crescer na atividade de fusões e aquisições. O banco tem presença em países da América Latina (o BBVA tem filiais na Argentina, Chile, Colômbia, México, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, Venezuela e Uruguai), o que lhe traz uma vantagem comparativa: conhecimento das empresas locais. Assessorou o grupo Mapfre Seguros na aquisição da Nossa Caixa Vida e Previdência e o grupo Agbar na venda da Águas Guariroba.


“Com o real valorizado, as empresas brasileiras estão aproveitando a oportunidade e comprando outras em países na região”, diz Reynaldo Passanezi, que desde janeiro se tornou o chefe da área de fusões e aquisições para América Latina do BBVA. Antes, ele cuidava da atividade só no Brasil, mas foi promovido diante da importância crescente que a chamada área de finanças corporativas no Brasil vem adquirindo para o banco.


Agora, o BBVA está em processo de contratação de mais um executivo sênior para cuidar da área de fusões e aquisições no Brasil. Também está contratando um outro executivo sênior e mais quatro a cinco analistas para cuidarem de execução de empréstimos.


 


Parceria com Bradesco na gestão de caixa


O BBVA vai realizar parceria com o Bradesco para fornecer um serviço integrado em toda a América Latina de gestão de caixa para empresas que estão em processo de internacionalização. Por meio do serviço, será possível às multinacionais regionais centralizarem o caixa das diversas subsidiárias e da matriz como se fossem uma só empresa. Para tanto, só falta integrar o sistema BBVA Cash, que já opera no México, em Porto Rico, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile e Argentina, com o sistema de gestão de caixa do Bradesco.


A informação foi prestada ao Valor por Sidney Dias de Oliveira, que acaba de ser contratado pelo BBVA para cuidar do serviço conhecido como “cash management” do banco para o Mercosul.


As parcerias do espanhol com o Bradesco não param por aí. Segundo informou José Luiz Acar Pedro, responsável pelo Bradesco Banco de Investimento, à “Dow Jones”, o banco brasileiro pretende lançar um fundo para investidores estrangeiros no Brasil aplicarem em títulos públicos, aproveitando a isenção de Imposto de Renda. O brasileiro avalia parecerias na distribuição com o BBVA e com o Banco Espírito Santo de Investimento.


O BBVA vem conseguindo importância crescente no mercado de empréstimos externos para o Brasil. Em 2005, ficou no segundo lugar no “Ranking Valor de Captações Externas” na categoria empréstimos sindicalizados. É um dos líderes de operação de US$ 1,2 bilhão da Votorantim Industrial que está no mercado. Realizou em 2005 operações para a Loma Negra, da Camargo Corrêa, na Argentina, e para subsidiária da AmBev no Peru.

Mas quer continuar a crescer. Pretende agora oferecer crédito também às empresas de segunda linha ou “primeira linha ampliada” no Brasil, como preferiu definir o chefe do escritório do banco no Brasil, Alberto Charro. A idéia é passar a operar com cerca de 100 empresas que passarem pelo crivo do diretor de crédito, Francisco Antonio de Pauli. Hoje, o escritório atua com 60 empresas no Brasil.

Fonte: Valor Econômico