BANCÁRIOS DO ABN DÃO PASSO INICIAL RUMO A ACORDO MARCO

Lucimar Cruz Beraldo


Os bancários do ABN do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai conquistaram, nesta quarta-feira, um feito inédito. Pela primeira vez na história da categoria, representantes sindicais de diferentes países estão reunidos com a direção do banco para debater formas de estreitar o diálogo rumo à efetivação de um “acordo marco”.


O Encontro Internacional dos Representantes dos Trabalhadores e a direção do ABN Amro, está ocorrendo durante todo o dia de hoje, na matriz do banco, em São Paulo, sob a organização da Coordenadora Sindical do Cone Sul  (CCSCS) e da Uni América Finanças.


Na abertura, o presidente do banco, Fábio Barbosa, expôs as preocupações da empresa, as quais, segundo ele, não são apenas de mercado, mas também humanas e sociais, chegando a classificar os funcionários como principal ativo da instituição. Na seqüência, Vagner Freitas, presidente da Uni América Finanças, destacou a importância de assegurar direitos e conquistas para os trabalhadores de multinacionais e transnacionais lotados em diferentes nações frente ao avanço da globalização.


A coordenadora dos funcionários do ABN Real, no Brasil, Deise Recoaro, ao instalar os trabalhos, lembrou a importância da organização nos locais de trabalho, ressaltando a intenção das entidades sindicais de promover sua atuação da “porta para dentro do banco”, o que, no seu parecer, requisitará maior qualificação dos dirigentes sindicais.


Na seqüência, houve apresentações sobre a estrutura organizacional do ABN e da atual organização sindical feitas, respectivamente, pela diretora de RH do banco, Lílian Guimarães, e pelo dirigente sindical Ricardo Jacques.


Lílian Guimarães abordou as metas de crescimento da instituição, sua colocação no mercado e as políticas de valorização da diversidade. Segundo ela, o banco privilegia não apenas a diversidade humana, mas também de idéias. “Temos a diversidade como estratégia, como diferencial nos negócios e como fator de enriquecimento da sociedade”.


Ricardo Jacques, por sua vez, fez uma regressão sobre a organização sindical desde o âmbito global até o funcionamento das entidades em nível regional. Também relatou a evolução dos debates entre os representantes sindicais bancários sobre a importância de buscar acordos globais para os bancos com atuação em diferentes nações, com respeito aos princípios básicos como liberdade sindical, livre negociação, promoção da igualdade de oportunidades e de erradicação do trabalho escravo e infantil, dentre outros. “O debate evolui desde o início da década culminando, em 2005, com a realização da reunião conjunta de redes sindicais de bancos internacionais (Santander, BBVA, ABN e HSBC)”.


Segundo o dirigente, neste período, os debates focaram, principalmente, a deslocalização do trabalho (imposição aos trabalhares para mudarem de países) e o processo de terceirização da mão de obra. “Nossa principal preocupação é manter direitos e conquistas, independentemente das diferenças culturais e legislativas. Esse é um processo evolutivo já com negociações em curso no Banco do Brasil e perspectivas de iniciar o debate no Itaú, além dos bancos internacionais”, antecipa Ricardo Jacques ao destacar a importância do presente encontro com o ABN. “Esperamos concretizar aqui regras de convivência capazes de solucionar problemas do dia a dia do bancário”.


O diretor de Relações Sindicais do ABN Real, Jerônimo Anjos, confirmou a receptividade do banco em relação à proposta e revelou a existência de política na instituição de promoção de treinamentos aos gestores no sentido de buscar relação saudável com o movimento sindical. “A construção de normas de conduta depende de como se relaciona o banco e o movimento sindical. Então, vamos estreitar os laços e construir juntos esse diálogo”.


Na avaliação do diretor da FETEC/CUT-SP e representante dos funcionários do ABN Real, Gutemberg de Souza Oliveira, o encontro desta quarta-feira abre novas perspectivas no movimento sindical bancário. “Estamos presenciando um espírito bastante receptivo e otimista. Esperamos que isso se reproduza no dia a dia, nas negociações com as entidades sindicais e na melhoria das condições de trabalho do bancário”.


O dirigente, no entanto, faz um alerta: “Temos de atentar para a inversão de valores, quando o banco usa a responsabilidade social como marketing. O que temos visto até agora é uma grande preocupação com a imagem, a exemplo de recentes casos no Paraguai e Uruguai. Por isso, o discurso tem que se transformar em prática e o funcionário ser realmente assistido pelo banco, haja vista que as pesquisas anunciadas por Lílian Guimarães não são indicativos de satisfação”.

Para Gutemberg, o melhor termômetro são os sindicatos. “Se as demandas nas entidades forem muitas isso significa que a situação na empresa está maquiada. Por outro lado, temos que reconhecer a iniciativa do ABN, de abrir esse espaço para mostrar suas políticas e abrir o diálogo. Friso, porém, que se o banco quer realmente ser diferente, então que ele faça diferente”.

Fonte: FETEC/CUT-SP