Roquiran Miranda Lima é funcionário da CEDAE, mas, hoje, sua especialidade é previdência. Diretor regional e secretário do Conselho Deliberativo da Anapar – Associação Nacional dos Participantes dos Fundos de Pensão, Roque, como é conhecido, tem se dedicado a compreender tudo sobre aposentadoria e pensões. Falando sobre o regime geral, do INSS, ou sobre a complementação da previdência privada, Roque insiste numa tecla: o brasileiro precisa de educação previdenciária.
Para Roque, a maioria dos problemas que os trabalhadores encontram no momento de se aposentar é decorrente de uma displicência com o assunto. “O trabalhador é imediatista”, constata. O impacto de classificações de risco e níveis de periculosidade e insalubridade das profissões se verifica não só sobre o salário mensal, mas também sobre a previdência. “Quando uma atividade apresenta níveis de periculosidade ou insalubridade, as alíquotas da contribuição patronal aumentam. O perfil profissiográfico determina a nocividade do trabalho que incide sobre o empregador e define quanto a empresa paga a mais”, explica Roque. Ele informa, ainda, que esta definição também é importante em razão do fator previdenciário, já que vai incidir também sobre o benefício se a insalubridade não for integral.
O conceito de insalubridade e periculosidade pode ser subjetivo, difícil de definir, e por isso, muitas vezes, a classificação é negada a algumas profissões de maneira indevida, como é o caso dos rodoviários. “Eles têm que lidar com o público, estão submetidos ao stress do trânsito e à violência. Esta situação provoca sequelas no trabalhador, mas a profissão não é considerada insalubre porque não há exposição a substâncias perigosas. Mas esta é considerada uma das categorias mais agredidas”, pondera Roque.
O imediatismo do brasileiro pode, algumas vezes, levar os trabalhadores a barganhar com a classificação de risco. “É comum uma categoria negociar com o patrão e acabar abrindo mão desta definição em troca de um reajuste maior ou de um abono, por exemplo. Há também casos das regiões dominadas por uma empresa grande, em torno da qual gira toda a economia, em que se fazem concessões para manter a perenidade dos empregos, para que a empresa não deixe o município”, esclarece o dirigente.
Guarda agora, para usar depois
Uma questão que é mal esclarecida pelos brasileiros diz respeito à previdência complementar. Para começar, muita gente acha que os fundos de pensão pagam a aposentadoria dos participantes, o que não é verdade. O que acontece é que a previdência privada complementa a aposentadoria do INSS para que o aposentado receba o mesmo salário da ativa para sua função. Além disso, o dinheiro dos fundos tem a mesma origem daquele que está no INSS: o trabalhador. “Previdência complementar não é privilégio, é renúncia do poder de consumo”, ressalta Roque. O trabalhador que participa de um fundo de pensão da empresa em que trabalha desembolsa mensalmente a contribuição para compor seu saldo que será usado para a complementação da aposentadoria. No Brasil, a maioria das empresas que oferecem previdência complementar a seus funcionários também patrocinam o fundo, fazendo contribuições para cada um dos empregados, do mesmo modo que o fazem para o regime geral do INSS. Os trabalhadores que optam por adquirir um plano de previdência complementar privado, não vinculado ao empregador – como é o caso dos oferecidos por diversos bancos – serão os únicos responsáveis pela formação deste saldo. Para garantirem uma complementação que chegue ao valor do salário na ativa, são obrigados a fazer contribuições maiores.
Mas a iniciativa de adquirir um plano de previdência complementar é rara. “Não há educação previdenciária no Brasil. O trabalhador brasileiro só pensa em aposentadoria quando precisa”, constata Roque. Para o dirigente, é necessário que a educação previdenciária focasse, principalmente, nos jovens, que estão entrando agora no mercado de trabalho, para que se crie uma atitude preventiva com relação à previdência. Para Roque, o ideal seria que a questão fosse discutida nas escolas. “Se os professores não estiverem preparados para passar conceitos de previdência para os alunos, vai ser difícil colocar isso na cabeça de um homem de 30 anos”, pondera.
Rombo
O tão comentado déficit da previdência tem várias explicações. Um dos fatores que geraram o rombo foi o longo período em que o Brasil teve altas taxas de desemprego e elevado número de cidadãos trabalhando na informalidade. Com pouca gente contribuindo para a previdência e os aposentados e pensionistas – que contribuíram em outra época, mas recebem agora – a conta ficou mesmo no vermelho. Roque aponta, também, outro problema, bem específico: o da aposentadoria rural. Os trabalhadores do campo, muitas vezes, se aposentam sem terem contribuído por tempo suficiente, já que, na maioria esmagadora das vezes, os empregadores os contratam sem nenhum direito trabalhista. É socialmente justo que o camponês “bóia-fria”, que labutou de sol a sol a vida toda, receba aposentadoria. Mas, como não contribuiu, seu benefício vai dilapidando o caixa do INSS. “O setor rural é responsável por 20% do PIB do Brasil, mas a contribuição patronal está completamente distorcida, não corresponde nem à importância econômica do setor, nem ao número real de trabalhadores que emprega”, esclarece Roque.
Outra razão para o déficit tem relação com os regimes próprios dos servidores públicos e militares. “Existe uma diferença de tratamento. O mesmo caixa remunera melhor algumas categorias”, explica o dirigente. Estes regimes próprios são regidos por uma lei específica e ligados ao Executivo, abrangendo os servidores públicos estatutários ou militares, sendo patrocinados pelo ente federativo – União, estados ou municípios – que emprega estes trabalhadores.
Fator desastre
O fator previdenciário, invenção dos tempos neoliberais do governo Fernando Henrique Cardoso, não é muito bem compreendido pela maioria dos trabalhadores. “Muita gente foi induzida a pensar que o fator foi uma espécie de bônus por permanência, para aumentar o valor da aposentadoria para quem trabalhar mais tempo. Mas o que acontece é que o fator é um redutor. O fator calcula o valor da aposentadoria com base nos salários de cada trabalhador desde julho de 1994. Como, em geral, o salário do início da carreira é mais baixo, a média cai. Sobre esse valor ainda incide o redutor”, explica Roque. Hoje, para um homem ter direito à aposentadoria integral, tem que trabalhar até os 64 anos, o que já encosta na aposentadoria por idade, que é aos 65. E a tendência é a piorar, já que a expectativa de vida é corrigida anualmente pelo IBGE, o que gera impacto nas tábuas de expectativa de sobrevida que a previdência usa. “Mas a expectativa de vida não é a mesma em todo o país, chega a haver diferenças até dentro de um mesmo município. O cidadão vive mais quando suas condições de moradia, alimentação, acesso a saúde, saneamento, etc. são melhores. Esta média é desfavorável ao trabalhador de baixa renda”, pondera Roque.
As mulheres também são penalizadas pelo fator previdenciário, na opinião de Roque, porque, muitas vezes, se vêem obrigadas a trabalhar tanto ou mais que os homens para terem direito à aposentadoria integral. “Muita gente pensa que isso é até justo, já que, no Brasil, a mulher costuma viver mais que o homem. Mas existe a jornada dupla, a do cuidado da casa e da família, que desgasta duplamente a mulher trabalhadora. E essa expectativa de vida maior das mulheres tende a se reduzir, vivia mais a mulher que não trabalhava fora do lar. Mas, com a presença cada vez maior da mulher no mercado de trabalho, começa a aumentar, na população feminina, o número de casos diversas doenças, como as cardiopatias e os AVCs, que, antes, eram predominantes entre os homens”, pondera Roque.
Segundo o dirigente, até mesmo em alguns fundos de pensão as mulheres recebem o mesmo tratamento dispensado aos homens, com base nesta crença de que a população feminina tem sobrevida maior.
Dia do Aposentado
Roquiran Miranda esteve em Angra dos Reis no último dia 24 de janeiro, Dia do Aposentado, a convite do Sindicato dos Bancários local. O evento aconteceu na sede do Sindicato dos Arrumadores e contou com a presença de diversas entidades da sociedade civil organizada angrense.
Fonte: Da Redação – FEEB RJ/ES