Petrópolis: Mais uma vitória contra o Itaú Unibanco

A funcionária do Itaú Unibanco de Petrópolis Célia Rosana da Silva é portadora de lesão por esforços repetitivos (LER) adquiridas no trabalho. Mesmo doente, foi demitida de forma irresponsável no dia 16 de novembro de 2011, sendo mais uma vítima da atitude covarde e cruel do banco. Como sempre, o Itaú Unibanco não levou em consideração os anos de serviços prestados e a doença ocupacional da funcionária.

O Sindicato tentou negociar com o RH do banco solicitando a reintegração da companheira, mas a instituição financeira insistiu na dispensa. Orientada pelo diretor da Secretaria de Saúde do Sindicato a procurar seus direitos, ela se encaminhou à perícia do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), que detectou a existência da doença profissional e lhe concedeu o benefício B91(acidente de trabalho) no dia 19 de novembro de 2011. Com o documento do INSS em mãos, entramos em contato, novamente, com o RH do Itaú Unibanco e solicitamos imediata reintegração da funcionária.

No dia 28 de dezembro fomos informados pelo banco que, finalmente, a dispensa da Célia foi cancelada. Um dos fatores determinantes da reintegração foi que a bancária procurou o Sindicato imediatamente após a sua demissão. Essa foi mais uma vitória de um coletivo. O SEEB Petrópolis vai sempre estar à disposição do trabalhador na luta em defesa dos seus direitos. A direção está vigilante a todo tipo de abuso praticado pelos bancos, que sacrificam seus funcionários na ganância por lucros cada vez mais altos.

Fonte: Seeb Petrópolis

Retrospectiva 2011: os bancários e o trabalho decente

Escolhido como tema da Campanha Nacional dos Bancários 2011, o tema do trabalho decente reúne algumas das principais linhas de reivindicação da categoria. O conceito é definido pela OIT como “aquele que é adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna a quem o exerce”. Baseada na Declaração dos Direitos Fundamentais do Trabalho, a Agenda do Trabalho Decente da OIT é uma reação à política neoliberal de flexibilizar as legislações trabalhistas e vem sendo adotada em muitos países. No Brasil, a Conferencia Nacional será realizada em maio e as estaduais, preparatórias, já foram concluídas.


 
Com uma organização antiga, forte e nacional, os bancários já abordam vários destes temas, nem sempre conquistando avanços. Veja, a seguir, algumas ponderações sobre estes princípios:


 
Remuneração adequada


 
Os bancários conquistaram, pelo segundo ano consecutivo, um aumento do piso com índice maior que o do reajuste salarial. Esta conquista é um caminho para a recuperação do poder de compra dos bancários, que caiu muito nos anos 90 e que vem sendo retomado com os sucessivos aumentos reais obtidos pela categoria.


 
No caso dos financiários – categoria também integrante do Sistema Financeiro e abrangida pela Contraf-CUT – a política de valorização de pisos também tem merecido destaque e foi garantida em Convenção Coletiva nos dois últimos anos.



Para o bancário Darby Igayara, presidente da CUT-RJ, os aumentos diferenciados do piso salarial são uma boa prática. “A elevação do piso valoriza e recupera o poder de compra dos salários. E, para o país, isso é fundamental, porque, quanto mais gente ganhando salários mais altos, temos mais consumo e mais produção, como o ex-presidente Lula sempre falava. E também temos o aumento do salário mínimo, que tem hoje o patamar mais alto dos últimos 30 anos, o que beneficia muitos trabalhadores. O aumento dos pisos das categorias e do mínimo leva a aumentos também nas categorias organizadas e joga para cima todos os reajustes”, avalia Darby.



Para os trabalhadores do sistema financeiro, falta agora discutir o modelo de PLR, para que a parcela de lucro distribuída aos trabalhadores seja mais justa e mais próxima da importância da mão de obra nos resultados alcançados pelas instituições financeiras.


 
Liberdade


 
Este ano, a liberdade sindical foi ameaçada por medidas arbitrárias da Justiça. Em Campos, por duas ocasiões o Procon local obteve liminares na Vara Cível que feriam as garantias constitucionais relativas à greve. Primeiro, foi na greve dos vigilantes, no primeiro semestre. Depois, na greve dos bancários, em setembro-outubro, obrigando as agências a realizar contingência.



A exemplo do que aconteceu em Brasília em 2010, no ano que passou o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro foi ameaçado de prisão. Uma liminar obtida pelo Bradesco decretou a detenção de Almir Aguiar caso as determinações do documento não fossem cumpridas. Por dois dias, até que a liminar fosse cassada, Almir esteve sujeito ao mesmo tratamento dispensado a um criminoso comum, embora fosse um trabalhador e dirigente sindical exercendo seu direito constitucional de greve.



Por outro lado, o número de interditos proibitórios obtidos pelos bancos na base da Federação foi menor que em anos anteriores. Talvez isso signifique que a Justiça Trabalhista está mais atenta aos direitos de organização e mobilização garantidos aos trabalhadores pela Constituição Federal.



Equidade



Os bancários estão na vanguarda da discussão sobre igualdade de oportunidades, levantando as discussões no dia a dia e em eventos específicos. Foi o caso do 1º Fórum Nacional Sobre Invisibilidade Negra no Sistema Financeiro, realizado em dezembro deste ano. “O fórum foi um marco para o movimento sindical. É fundamental que nós, sindicalistas, passemos a ter um olhar mais crítico sobre o ambiente de trabalho das agências bancárias”, entende Iraciny da Veiga, diretora para Questões da Mulher da Federação.



A organização da categoria já havia realizado uma pesquisa nacional, que resultou na publicação “O rosto dos bancários – Mapa de Gênero e Raça do Setor Bancário Brasileiro”. No documento, fica clara a baixíssima participação de afrodescendentes no sistema financeiro e a diferença de remuneração entre brancos e negros. Mas, desde a publicação do material, em 2001, pouco se fez em direção à igualdade de oportunidades, embora o tema seja recorrente nas campanhas salariais da categoria. “A luta não é só deste segmento da população e sim do todos os brasileiros e brasileiras que buscam um país mais justo e mais igualitário”, defende Iraciny.



Na base da Federação, uma iniciativa pioneira comemorou sua maioridade: o jornal Mulher 24 horas, publicado pelo Sindicato dos Bancários do Espírito Santo, que está completando 18 anos de existência. No boletim, publicado mensalmente, são abordados temas relativos ao dia a dia da mulher bancária, com suas dificuldades no ambiente de trabalho e as demandas da jornada dupla, entre outras questões.



Mas, infelizmente, uma publicação sindical não pode, sozinha, promover as mudanças necessárias. As bancárias com cargos mais elevados nas agências ainda resistem a gozar da licença maternidade ampliada, conquistada na convenção coletiva de 2009. Mesmo com o avanço da ampliação da licença, permanece a relação desigual entre homens e mulheres no mercado de trabalho bancário, mantendo as trabalhadoras presas ao velho dilema de escolher entre crescer profissionalmente ou constituir família.



Isso sem falar na questão da diversidade sexual, que os bancos sequer aceitam discutir. Na base da Federação, o caso da funcionária do Itaú Márcia Líbano, que foi demitida após seu gestor descobrir que é lésbica, pode ser exemplar para toda a comunidade LGBT. O Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, ao qual a trabalhadora é filiada, já fez muita pressão por sua reintegração, mas precisou apelar para a Justiça do Trabalho. A demissão ocorreu em abril de 2010 e a segunda audiência está marcada para 10 de maio, mais de dois anos depois. Durante todo este tempo, a bancária continua sem emprego.



Segurança


 
A violência parece não assustar os banqueiros, que continuam se recusando a aprimorar segurança bancária. Os bancários e vigilantes, através de suas confederações nacionais – ContrafCUT e CNTV – estão lutando para que a Febraban aceite ampliar os dispositivos e medidas para reduzir o risco de assaltos e sequestros, mas a briga é feia. Tanto é que, só depois de muita pressão, os banqueiros aceitaram incluir na Convenção Coletiva que a periodicidade da mesa de Segurança Bancária fosse de três meses, a exemplo das outras mesas temáticas, e não semestral, como queria a federação patronal.


 
A deficiência dos dispositivos adotados pelos bancos tem impacto direto sobre as vidas não só dos bancários, mas também dos clientes. Os assaltos a agências, em pleno horário de funcionamento, voltaram a acontecer em todo o estado do Rio de Janeiro, expondo não só bancários, mas também a população ao risco. E as saidinhas continuam acontecendo, provando que a lei que proíbe o uso de celulares em bancos não é eficiente – no Rio de Janeiro, a lei entrou em vigor no primeiro semestre de 2011. “Esta é uma lei inócua. O que precisa ser feito é garantir a privacidade do cliente na hora do atendimento e reduzir o tempo de permanência das pessoas nas agências”, defende Pedro Batista, representante da Federação na Comissão de Segurança Bancária da Contraf-CUT e CNTV. O dirigente destaca que a triagem que é feita nas filas, com um bancário percorrendo a agência e perguntando qual operação cada cliente ou usuário precisa realizar, expõe ainda mais a população.


 
A participação dos trabalhadores nas discussões sobre segurança privada – que inclui a segurança bancária – tem trazido frutos, mas ainda tímidos. “Os bancos se limitam a cumprir a lei 7.102, que é de 1983 e está totalmente defasada. Os movimentos sindicais dos bancários e dos vigilantes estão trabalhando juntos para interferir na construção do Estatuto da Segurança Privada, que vai remodelar a legislação. Mas os patrões continuam se opondo às sugestões”, relata Pedro Batista. O sindicalista participou de reuniões entre a Comissão de Segurança da Contraf-CUT e CNTV e representantes do Ministério da Justiça para discutir o texto do novo Estatuto da Segurança Privada. “A proposta que foi apresentada aos trabalhadores era muito boa para prevenir prejuízos materiais para os empresários. A proposta que apresentamos prioriza a defesa da vida, que é o mais importante”, relata o dirigente.


 
Dignidade


 
A dignidade do trabalhador está ligada diretamente ao ambiente no local de trabalho. No caso dos bancários, o ar-condicionado ou as instalações modernas – em algumas agências – não garantem um ambiente adequado. O assédio moral imposto pelos gestores em razão da cobrança de metas tem levado os bancários ao adoecimento e os afastamentos por transtorno mental já rivalizam com os provocados por problemas osteomusculares – as LER/DORT.



Para buscar reduzir a ocorrência de assédio moral nos bancos, o movimento sindical bancário conseguiu arrancar da Febraban a assinatura do Acordo de Prevenção de Conflitos no Local de Trabalho. O documento foi assinado por representantes de sete bancos e dos sindicatos filiados à Federação no dia 23 de março.



Com nove meses de vigência, as mudanças trazidas pelo acordo são tímidas. “Este ano tivemos alguns avanços em relação ao acordo sobre o assédio moral, mas ainda há muitos pontos a serem acertados. Tivemos este ano um grande número de denúncias e entendemos que algumas medidas não atendem às necessidades dos trabalhadores. Por exemplo, é comum que gerentes ou administradores apontados como assediadores sejam transferidos, o que só muda o problema de lugar”, avalia Nilton Damião Esperança, vice-presidente da Federação.



A professora Teresinha Martins, doutora em Psicologia Social que vem se debruçando sobre o tema do assédio moral, também avalia que o acordo deixa a desejar. “O texto não fala sobre na diminuição de metas e de práticas que ocorrem dentro dos bancos e que contribuem para a ocorrência do assédio moral. No texto do acordo o problema está ali como se os bancários fossem responsáveis pelo assédio, porque não têm noção de ética. Isso é um absurdo. É um problema de gestão de pessoas”, defende a pesquisadora. Mas Teresinha entende que, apesar dos problemas, a assinatura do documento foi um passo importante do movimento sindical na luta contra o assédio. “Mesmo sendo insuficiente e vago, esse acordo é necessário, é um ponto de partida”, avalia a professora.
 


 

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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A ARTE DE REINVENTAR A VIDA

Finda o ano, inicia-se o novo. No íntimo, o propósito de “daqui pra frente, tudo vai ser diferente”… Começar de novo. Será? Haveremos de escapar do vaticínio do verso de Fernando Pessoa, “fui o que não sou”?


Atribui-se a Gandhi esta lista dos Sete Pecados Sociais: 1) Prazeres sem escrúpulos; 2) Riqueza sem trabalho; 3) Comércio sem moral; 4) Conhecimento sem sabedoria; 5) Ciência sem humanismo; 6) Política sem idealismo; 7) Religião sem amor.


E agora, José? No mundo em que vivemos, quanta esbórnia, corrupção, nepotismo, ciência e tecnologia para fins bélicos, práticas religiosas fundamentalistas, arrogantes e extorsivas!


Os ícones atuais, que pautam o comportamento coletivo, quase nada têm do altruísmo dos mestres espirituais, dos revolucionários sociais, do humanismo de cientistas como os dois Albert, o Einstein e o Schweitzer. Hoje, predominam as celebridades do cinema e da TV, as cantoras exóticas, os desportistas biliardários, a sugerir que a felicidade resulta de fama, riqueza e beleza.


Impossibilitada de sair de si, de quebrar seu egocentrismo (por falta de paradigmas), uma parcela da juventude se afunda nas drogas, na busca virtual de um “esplendor” que a realidade não lhe oferece. São crianças e jovens deseducados para a solidariedade, a compaixão, o respeito aos mais pobres. Uma geração desprovida de utopia e sonhos libertários.


A australiana Bronnie Ware trabalhou com doentes terminais. A partir do que viu e ouviu, elencou os cinco principais arrependimentos de pessoas moribundas:


1) Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a que os outros esperavam de mim.


No entardecer da vida, podemos olhar para trás e verificar quantos sonhos não se transformaram em realidade! Porque não tivemos coragem de romper amarras, quebrar algemas, nos impor disciplina, abraçar o que nos faz feliz, e não o que melhora a nossa foto aos olhos alheios. Trocamos a felicidade da pessoa pelo prestígio da função. E muitos se dão conta de que, na vida, tomaram a estrada errada quando ela finda. Já não há mais tempo para abraçar alternativas.


2) Gostaria de não ter trabalhado tanto.


Eis o arrependimento de não ter dedicado mais tempo à família, aos filhos, aos amigos. Tempo para lazer, meditar, praticar esportes. A vida, tão breve, foi consumida no afã de ganhar dinheiro, e não de imprimir a ela melhor qualidade. E nesse mundo de equipamentos que nos deixam conectados dia e noite somos permanentemente sugados; fazemos reuniões pelo celular até quando dirigimos carro; lidamos com o computador como se ele fosse um ímã eletrônico do qual é impossível se afastar.


3) Gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos.


Quantas vezes falamos mal da vida alheia e calamos elogios! Adiamos para amanhã, depois de amanhã… o momento de manifestar o nosso carinho àquela pessoa, reunir os amigos para celebrar a amizade, pedir perdão a quem ofendemos e reparar injustiças. Adoecemos macerados por ressentimentos, amarguras, desejo de vingança. E para ficar bem com os outros, deixamos de expressar o que realmente sentimos e pensamos. Aos poucos, o cupim do desencanto nos corrói por dentro.


4) Gostaria de ter tido mais contato com meus amigos.


Amizades são raras. No entanto, nem sempre sabemos cultivá-las. Preferimos a companhia de quem nos dá prestígio ou facilita o nosso alpinismo social. Desdenhamos os verdadeiros amigos, muitos de condição inferior à nossa. Em fase terminal, quando mais se precisa de afeto, a quem chamar? Quem nos visita no hospital, além dos que se ligam a nós por laços de sangue e, muitas vezes, o fazem por obrigação, não por afeição? Na cultura neoliberal, moribundos são descartáveis e a morte é fracasso. E não se busca a companhia de fracassados…


5) Gostaria de ter tido a coragem de me dar o direito de ser feliz.


Ser feliz é uma questão de escolha. Mas, vamos adiando nossas escolhas, como se fossemos viver 300 ou 500 anos… Ou esperamos que alguém ou uma determinada ocupação ou promoção nos faça feliz. Como se a nossa felicidade estivesse sempre no futuro, e não aqui e agora, ao nosso alcance, desde que ousemos virar a página de nossa existência e abraçarmos algo muito simples: fazer o que gostamos e gostar do que fazemos.

Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros. http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.



 


Copyright 2011 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária ([email protected])

Fonte: Frei Betto

Finep: descaso da presidência pode levar funcionários à greve

A Finep é a única instituição financeira do país que vai encerrar o ano de 2011 sem assinar um acordo coletivo com seus funcionários. Com negociações se arrastando desde outubro e uma comissão de negociação patronal que volta atrás de promessas já feitas e nega todas as reivindicações, o clima na empresa é tenso. Numa assembleia com 173 empregados – um número expressivo para os padrões da FINEP – foi decidido que, se até a próxima quarta-feira, dia 04, a empresa não apresentar proposta, os funcionários podem entrar em greve.



A postura da presidência tem sido considerada pelos dirigentes da Afin – Associação dos Funcionários da FINEP como desrespeitosa e arrogante. Tudo porque a comissão de negociação nomeada por Glauco Arbix, o presidente da empresa, não tem nenhuma autonomia para negociar e já voltou atrás de propostas apresentadas em mesa. A desculpa padrão para os recuos e negativas é a limitação imposta pelo DEST – Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, órgão do Ministério do Planejamento. Mas os dirigentes da Afin têm informações seguras de que o DEST não foi oficialmente consultado pela direção da empresa sobre as reivindicações dos funcionários. “Esta é uma pseudo-negociação, até agora não apresentaram números”, relatou o presidente da Afin, Carlos Alberto de Souza, diante da assembleia.



Outro diretor da Afin e membro da comissão dos empregados que negocia com a empresa, Paulo Assis, relata ainda que a direção da FINEP está tentando fazer os empregados aceitarem que se empurre o problema para frente. “Eles dizem que todas as demandas seriam resolvida com a implantação do NMGP – Novo Modelo de Gestão de Pessoas. Mas o NMGP não está sequer previsto no Plano de Despesas Globais da empresa e já é sabido que houve cortes no orçamento de despesas com pessoal”, pondera Paulo. A preocupação dos empregados quando a esta insistência é justificada, já que a implantação do NMGP já foi adiada diversas vezes. A apreensão também tem uma causa externa: “Já é pública a decisão do governo de não colocar em vigor nenhum programa de PCS ou similar em estatais durante todo o ano de 2012”, destaca Ronald Carvalhosa, diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e integrante da comissão de negociação dos empregados.



O diretor da Afin José Amalio destaca a questão política que perpassa o processo negocial. “Não podemos aceitar um acordo desta natureza, estaríamos deixando um péssimo exemplo para o próximo presidente da FINEP que vier a substituir Arbix. Qualquer um que chegue vai pensar que é só arrastar a negociação até dezembro e depois colocar qualquer coisa na mesa, que nós aceitaremos”, pondera Amalio.



Diante da situação, foi aprovado pelo plenário que nova assembleia será realizada na próxima quarta-feira, dia 04 de janeiro, para decidir pela deflagração de greve. “Será um misto de assembleia e ato público, para mostrar à sociedade o que está acontecendo aqui dentro”, define José Amalio.



Os empregados aprovaram também a ida ao gabinete do presidente para informar as decisões. No hall dos elevadores do 13º andar, um contingente de mais de cem funcionários foi recebido pelo chefe de gabinete do presidente, Celso Fonseca, que ouviu os comunicados oficiais de rejeição da última proposta apresentada em mesa de negociação. Fonseca foi informado também que, caso não seja apresentada uma nova proposta satisfatória até o dia 03 de janeiro, há possibilidade de deflagração de greve por tempo indeterminado a partir do dia 04.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Morre Clóvis de Castro Souza, presidente do Seeb-Angra

Clóvis de Castro Souza, presidente do Sindicato dos Bancários de Angra dos Reis, faleceu na madrugada do último dia 28. Clóvis estava internado há duas semanas e sofreu falência múltipla dos órgãos, provocada por uma infecção generalizada.



“O movimento sindical perdeu um companheiro de luta que deixa um legado de humildade, simplicidade, comprometimento e representatividade na categoria bancária. Clóvis sempre atuou representando todos os trabalhadores com o mais alto profissionalismo”, destacou Fabiano Júnior, presidente da Federação.



O vice-presidente, Nilton Damião Esperança, também destacou a postura de Clóvis em sua atuação sindical e como amigo e companheiro de lutas: “Perdemos nosso companheiro, irmão e em alguns momentos até mesmo nosso pai. Clóvis, no tempo que esteve conosco, mostrou simpatia, honestidade, fidelidade e várias outras virtudes, que, se formos enumerar, não conseguiremos listar todas. Quero, neste momento, pedir a todos que rezem e peçam a Deus que ele descanse em paz e siga para o lugar que merece, pois todos sabemos que, se depender da sua passagem aqui na terra, será o melhor lugar possível”, declarou Nilton.



Longa trajetória



Clóvis tinha 60 anos e era bancário da Caixa desde 1980. Entrou para a direção do Sindicato dos Bancários de Angra dos Reis em 1991, na segunda gestão da jovem entidade, fundada em 1988. Por três vezes foi eleito para a presidência, e também ocupou o cargo por meio mandato, completando o período da gestão de Jorge Valverde, com quem vinha se revezando no comando do sindicato nos 3 últimos mandatos. Segundo o amigo Valverde, mesmo doente Clóvis não descuidou de suas responsabilidades para com os trabalhadores. “As últimas palavras dele, antes de perder a consciência, foram sobre atividades do sindicato”, relata o dirigente.



A doença que vitimou Clóvis agiu rápido. Há duas semanas ele foi internado com dores na perna e no quadril. Como já havia apresentado problemas no nervo ciático, pensou que se tratava de nova manifestação desta enfermidade. Por alguns dias o diagnóstico médico foi inconclusivo, até que foram sendo detectadas alterações nos órgãos vitais: fígado, rins, baço, vesícula. Foi submetido a hemodiálise para evitar que a bactéria, já detectada, chegasse ao coração. Mas não foi possível deter o avanço da doença. Clóvis entrou em coma e veio a falecer.



O presidente da Federação, Fabiano Júnior, resumiu bem o sentimento que toma conta de toda a diretoria e funcionários da Feeb RJ/ES: “O sindicalismo e a categoria perderam um dirigente. Nós, da Federação, perdemos um amigo.”

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

FINEP: negociação continua emperrada

Mesmo depois de uma paralisação de 24 horas que contou com a adesão de 70 % do funcionalismo, a direção da Finep não apresentou nenhuma proposta na negociação de quinta-feira, 22. Representantes dos funcionários e da empresa voltam a se reunir na próxima terça-feira, dia 27, às 10h. Por deliberação de assembleia, os empregados mantêm o estado de greve. Nova assembleia será realizada na próxima semana, no dia 28, às 15h, para avaliar o resultado da reunião.



O andamento do processo negocial está lento e a empresa está demonstrando total desrespeito aos empregados. A presidência da Financiadora vinha se reunindo com a representação dos funcionários até 13 de dezembro, quando suspendeu unilateralmente a negociação e voltou atrás em tudo o que já havia sido prometido.



Em resposta, os empregados deliberaram em assembleia a realização de uma paralisação de 24 horas na última quarta-feira, dia 21. A atividade foi um sucesso, com adesão de 70 % do funcionalismo, considerada expressiva pela direção da Afin – Associação dos Funcionários da Finep e pelo Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.



Os eixos principais das reivindicações do funcionalismo são a valorização dos cargos de nível médio; a incorporação da GET – Gratificação Especial Temporária ; PLR melhor;  isonomia para os novos funcionários e proporcionalidade no custeio do plano de saúde.



As negociações com a Finep sempre são difíceis. Em 2009, o impasse foi tamanho que provocou até uma audiência pública na Alerj, convocada pelo deputado Paulo Ramos (PDT), que presidia a Comissão de Trabalho. Este ano, a empresa vinha negociando com o funcionalismo desde outubro. No dia 13 de dezembro a direção da Finep apresentou uma proposta de reajuste de 9 % , índice inferior ao que vinha sendo negociado. A PLR oferecida na ocasião também ficou bem abaixo do esperado, considerando que o lucro da empresa previsto para 2011 deve ser de R$ 82 milhões, R$ 10 milhões acima do alcançado em 2010. Para piorar, o abono de fim de ano, que vinha sendo pago há mais de uma década, foi suspenso.



Os funcionários exigem também que o presidente da empresa, Glauco Arbix, mantenha sua palavra de conceder reajuste de 9 % retroativo a 1º de setembro já na folha de dezembro, mesmo antes de encerradas as negociações.



 


 

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Sindicato de Três Rios reintegra demitido por justa causa

O funcionário do BB Alex Sandro dos Santos Reis, lotado na agência Três Rios, tinha 24 anos de casa quando foi demitido por justa causa, no dia 07 de novembro. Ele ocupava o cargo de Gerente de Relacionamento PJ e estava afastado do serviço em razão de um processo administrativo. Foi chamado à agência após o expediente bancário e, ao chegar, foi surpreendido por um aviso de justa causa. Já perseguido por seus superiores há algum tempo, diante da demissão, Alex sofreu uma crise nervosa e acabou sendo internado para tratamento de transtorno mental. Foram 16 dias de internação.

O caso de Alex chegou ao Sindicato dos Bancários de Três Rios, que o encaminhou ao INSS para perícia médica. O perito atestou a inaptidão para o trabalho, o que deu base para o processo aberto contra o banco para reverter a demissão. O trabalhador nem chegou a fazer exame demissional, já que a internação aconteceu no mesmo dia da dispensa. Em liminar expedida pela Justiça Trabalhista, foi decretada a reintegração do bancário, com todos os direitos e benefícios.

A reintegração veio em boa hora, já que Alex estava sem vencimentos desde novembro. Além disso, as despesas médicas de sua internação correram por sua conta, uma vez que a demissão implicou na exclusão da Cassi, a assistência médica oferecida aos funcionários do BB. Mas Alex ainda não recebeu nada, já que, segundo um colega que consultou o sistema, sua reintegração ainda não consta dos registros do RH do banco, que informam apenas o código para a demissão por justa causa. A liminar obtida determinou também que o banco pague 1/30 do salário de Alex como multa por dia de atraso na reintegração.

Assédio e desrespeito

Os sintomas de transtorno mental já vinham sendo percebidos pelos mais próximos de Alex desde que foi instaurado o processo administrativo, em maio deste ano. “Foi um erro que não costuma ser punido com demissão por justa causa. Uma advertência costuma ser a punição adotada em situações parecidas”, relata o empregado. Para o bancário, tudo não passa de perseguição. “Eu passei em 1º lugar num processo seletivo interno para assumir o cargo de administrador, mas ainda não fui nomeado. Primeiro, deram a desculpa de que eu não tinha curso de pós-graduação. Concluí a pós, mas a nomeação não saiu”, relata. A suspeita é que a demora na nomeação tenha alguma relação com sua atuação nas greves da categoria. “Já tinha sofrido perseguição antes. Em outubro de 2010, logo depois da greve, começaram a pesquisar todas as minhas operações, mas não encontraram nada irregular. Então, comecei a ouvir rumores de que não vão me permitir que eu assuma o cargo porque faço greve”, completa Alex.

E a atitude do gestor da unidade não foi inadequada só na demissão, mas também na reintegração. Acompanhado do oficial de justiça, advogado e de diretores do Sindicato dos Bancários de Três Rios, Alex se dirigiu à agência no último dia 14 para reassumir seu cargo. O gerente, ao receber o grupo, perguntou se era preciso “esse circo todo”. A conduta revoltou Nilton Damião Esperança, presidente do sindicato. “Aqui não tem nenhum palhaço. Nós lhe respeitamos e exigimos respeito também”, respondeu o sindicalista.

Alex continua afastado, cumprindo licença médica, até março. O bancário ainda espera pela retratação do banco e pretende pleitear indenização por danos morais e pelos prejuízos que sofreu com a demissão.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Conferência do Trabalho Decente do RJ aprova propostas dos trabalhadores

A Conferência do Trabalho Decente do Rio de Janeiro aconteceu nos dias 14 e 15 de dezembro, na sede do Tribunal Regional do Trabalho. A briga foi dura, mas a vitória, ainda que parcial, foi da bancada dos trabalhadores. Os empresários se empenharam e pressionaram para que suas propostas passassem e fossem levadas à Conferência Nacional. Mas as Centrais Sindicais marcaram forte presença, vencendo as votações e garantindo que a delegação do Rio de Janeiro leve propostas de avanços para a construção da Agenda do Trabalho Decente no Brasil.
Para começar, os critérios de inscrição de participantes não foram obedecidos pelos pela Secretaria Estadual de Trabalho – SETRAB, que operacionalizou o evento. As centrais – principalmente a CUT, que levou a maior delegação – instruíram os sindicalistas a obedecerem todas as exigências, levando atas de posse para comprovação do vínculo dos dirigentes. Mas a maioria das entidades patronais enviou funcionários e assessores, e não diretores, contrariando a determinação. Como não houve cobrança de documentos no ato de inscrição, os empresários conseguiram inscrever quem quiseram para representá-los. Só a Fenaban enviou mais de 3 representantes, nenhum deles integrante da diretoria.


Os 10 grupos de trabalho previstos – divididos nos eixos “Princípios e Direitos; Proteção Social; Trabalho e Emprego; Fortalecimento dos Atores Tripartites e do Diálogo Social como Instrumento de Governabilidade Democrática – foram reduzidos a seis. Segundo a Secretaria de Trabalho, a redução foi provocada pela falta de salas suficientes para abrigar tantos segmentos. “Os grupos que discutiriam aprofundadamente Igualdade de Oportunidades, Negociação Coletiva, Saúde e Segurança do Trabalho e Salário Mínimo foram fundidos em um só local, gerando acirramento da disputa entre as diversas formas de se pensar e praticar tais temas”, relata a bancária Jô Portilho, dirigente da Contraf/CUT. A programação era apertada, reservando a esta atividade, que era o cerne do evento, um tempo muito menor que o necessário. O resultado foi que alguns grupos só conseguiram concluir a relatoria dos trabalhos na quinta-feira. Os empresários apresentaram algumas propostas com termos mais suaves, como “modernização das leis trabalhistas” para designar o que, na prática, seria a velha busca pela flexibilização da legislação. Mas também jogaram pesado, chegando a propor o absurdo de que “o negociado se sobreponha ao legislado”, ou seja, que acordos e contratos passem por cima das leis do país – o que é, no mínimo, inconstitucional.


A organização foi triparte, mas a operacionalização do evento, que ficou a cargo da SETRAB, deixou muito a desejar. Houve falhas no processo de inscrição que permitiram a participação de prepostos contratados pelos patrões, inclusive de escritórios de advocacia terceirizados. A condução da mesa na plenária final foi desastrosa. O único acerto foi tirar o peso de cada bancada com base nas primeiras votações – a média era de 60 votos nas propostas dos empresários e 90 nas dos trabalhadores. Este número mostrou que a bancada os trabalhadores teve apoio de representantes da bancada da Sociedade Civil e de muitos órgãos do Governo, já que havia pouco mais de 50 sindicalistas presentes. Com esta decisão, endossada pelas Centrais, a votação foi agilizada.


Bancários em Brasília


A bancada de trabalhadores do Rio de Janeiro terá 15 sindicalistas, de acordo com o critério de proporcionalidade definido pela comissão organizadora do evento nacional. De todas as categorias do estado, a que enviou mais representantes ao evento foi a dos bancários da base da FEEB RJ/ES. A sindicalista Jô Portilho vai representar os trabalhadores do Ramo Financeiro do estado na Conferência Nacional. “Os trabalhadores do ramo financeiro conhecem a fundo as demandas por Trabalho Decente que vão além da erradicação do trabalho infantil ou daquele análogo ao trabalho escravo. Bancários que exercem suas atividades ‘no ar condicionado’ são demitidos diariamente, mesmo depois de adquirirem doenças profissionais irreparáveis”, destaca Jô. E as irregularidades são várias, como cita a sindicalista: ”O Bradesco, por exemplo, ainda mantém um exército de trabalhadores “PJ”, sem direitos trabalhistas, apesar de ter sido punido pelo Ministério Público do Trabalho em ação promovida pelo Sindicato dos Bancários do Rio. O Itaú, que diz ter ganhado prêmio internacional de sustentabilidade, não emite o CAT, como manda a lei, quando seus empregados adquirem LER/DORT ou sofrem sequestros e assaltos nas agências. Mesmo os bancos públicos, como a CEF ou Banco do Brasil, utilizam a terceirização indiscriminada, precarizando as condições de trabalho.” A Conferência Nacional do Trabalho Decente, que acontece em maio de 2012, é uma oportunidade dos sindicalistas reafirmarem sua posição de não tolerar tentativas de flexibilização das leis trabalhistas e de lutar para que a legislação seja cumprida. “Saberemos dar respostas a estas arbitrariedades na Conferência Nacional em Brasília”, anuncia a dirigente.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

MST comemora 15 anos de atuação no estado do Rio

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST comemorou no início de dezembro os 15 anos de atuação no estado do Rio de Janeiro. A primeira área ocupada, o Assentamento Zumbi dos Palmares, no município de Campos, no Norte Fluminense, reúne hoje 506 famílias e tem uma produção farta de orgânicos, que são comercializados em feiras na região. O assentamento completa 15 anos em abril de 2012 e já está preparando a festa. Hoje, no estado, já há mais assentados do que acampados.

A trajetória foi dura e a opção pelo cultivo de orgânicos impõe a necessidade de utilização intensiva de mão de obra. Mas, para quem ficou anos dormindo sob lonas pretas à beira das rodovias, os calos causados pelo cabo da enxada são belas recompensas. Como não dá para contar 15 anos de luta, injustiça e perseverança de uma maneira tão simples, a coordenação do movimento no Rio de Janeiro organizou, nos dias 08 e 09 de dezembro, uma feira de produtos da reforma agrária no Largo da Carioca. “Esta é uma feira de demonstração. Gostaríamos de poder vir todo mês para vender nossos produtos, mas tudo é muito burocrático. Para conseguir este espaço por dois dias foi uma luta”, esclarece Ana Beatriz Carvalho, produtora do assentamento Terra Prometida, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Entre os abacaxis, cocos, molhos de couve, salsinha e cheiro-verde, muita ideologia. “Nosso objetivo aqui não é tanto vender os produtos, mas promover o diálogo social. É preciso que a cidade respalde a luta pela reforma agrária”, defende a agricultora. No dia 09, uma festa reuniu os Amigos do MST na sede do Sindipetro-RJ.

Cultivar orgânicos não é somente uma forma de proteger os agricultores dos males causados pelos agrotóxicos, nem a busca por um nicho de mercado promissor. Com o cultivo agroecológico, os acampamentos e assentamentos ficam independentes da indústria de sementes e de defensivos agrícolas. “Infelizmente, nem todo assentamento é 100 % agroecológico, até porque temos dificuldade de acesso a linhas de financiamento. Mas a maioria opta pela produção sem veneno porque queremos ocupara a terra, mas também queremos transformar. Sabemos que esta é uma luta econômica”, informa Ana Beatriz.

Obstáculos

Mesmo com 15 anos de atuação no estado, o MST ainda enfrenta dificuldades de relacionamento com o poder público. Além de projetos de estradas que cortam áreas de assentamento e da briga eterna pela identificação e vistoria de áreas improdutivas para desapropriação, os agricultores convivem com problemas de logística. É comum as estradas de acesso aos assentamentos não serem pavimentadas, o que impede o escoamento da produção nas épocas de chuva. Faltam também projetos de saneamento básico, transporte público, e, em alguns locais, até água potável.

A expansão da reforma agrária no estado é fundamental para recuperar a economia de muitas cidades e fixar as pessoas no campo, revertendo o fluxo migratório que se impõe no Rio de Janeiro há muitas décadas. Mas um dos grandes obstáculos é a falta de infra-estrutura de educação no campo. O MST está engajado numa campanha contra o fechamento de escolas que já atingiu 24 mil unidades em todo o país, sendo 80 % no campo. Além de lutar contra o encerramento das atividades das escolas existentes, a batalha é pela abertura de outras, nos assentamentos. “Uma escolinha caindo aos pedaços que ofereça somente ensino fundamental não dá. No Zumbi dos Palmares, em Campos, as escolas não têm vagas para todas as crianças e adolescentes, e não há ensino médio. Tem que haver facilidade de acesso para que os jovens não vão embora. Precisamos que a juventude continue essa história”, defende a agricultora.

E a história tem que continuar com os olhos nos avanços tecnológicos. “É preciso incorporar tecnologia às nossas técnicas, não só para aumentar a produção, mas também para aproveitar melhor a mão de obra. Não queremos ficar só no cabo da enxada”, ressalta Ana Beatriz.

A trajetória dos homens e mulheres que vendiam suas frutas e hortaliças em barraquinhas enfeitadas com pano de chita é marcada pela persistência. “O Terra Prometida é recente. Na maioria das vezes o processo de regularização é muito longo. Passei de acampada a assentada há pouco tempo”, relata a agricultora. Mas a disposição é grande, e o MST Rio está pronto para mais 15 anos de luta, ou quanto tempo for necessário até que a reforma agrária seja concluída.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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O Ovo da Serpente

por Frei Betto



 
 Não é preciso ser economista para perceber a grave turbulência que afeta a economia globalizada. Se a locomotiva freia, todos os vagões se chocam, contidos em seu avanço. E o Brasil, apesar do PIB de US$ 2,5 trilhões, ainda é vagão…
 Todo ano, desde 1980, cumpro a maratona de uma semana de palestras na Itália. Desde o início deste novo milênio eram evidentes os sintomas de que a próxima geração não desfrutará do mesmo nível de bem-estar dos últimos 20 anos. Nenhuma economia podia suportar tamanho consumismo e a monopolização crescente da riqueza. Agora, a realidade o comprova. A carruagem da Cinderela virou abóbora. A União Europeia patina no pântano…
 Muitas são as causas da atual crise econômica. Apontá-las com precisão é tarefa dos economistas que não cultivam a religião da  idolatria do mercado. Como leigo no assunto, arrisco o meu palpite.
 Desde os anos 80, a especulação se descolou da produção. O mundo virou um cassino global. Sem passaporte e sem vistos, bilhões de dólares trafegam livremente, dia e noite, em busca de investimentos rentáveis. Enquanto o PIB  do planeta é de US$ 62 trilhões, o cacife do cassino é de US$ 600 trilhões. A famosa bolha… Haja papel sem lastro!
 A lógica do lucro supera a da qualidade de vida. A estabilidade dos mercados é, para os governos centrais, mais importante que a dos povos. Salvar moedas, e não vida humanas.
 Todos sabemos como a prosperidade da Europa ocidental foi alcançada. Para se evitar o risco do comunismo, implantou-se o Estado de bem-estar social. Combinaram-se Estado provedor e direitos sociais. Reduziu-se a desigualdade social, e as famílias de trabalhadores passaram a ter acesso à escolaridade, assistência de saúde, carro e casa própria.
 Em contrapartida, para não afetar a robustez do capital, desregularam-se as relações de trabalho, desativou-se a luta sindical, sepultou-se a esquerda. Tudo indicava que a prosperidade, que batia à porta, viera para ficar.
 Não se deu a devida importância a um pequeno detalhe aritmético: se há duas galinhas para duas pessoas, e uma se apropria das duas, a outra fica a ver navios… E quando a fome bate, quem nada tem invade o espaço de quem muito acumulou.
 Assim, os pobres do mundo, atraídos pelo novo Eldorado europeu, foram em busca de um lugar ao sol. Ótimo, a Europa, como os EUA, necessitava de quem, a baixo custo, limpasse privadas, cuidasse do jardim, lavasse carros…
 A onda migratória viu-se reforçada pela queda do Muro de Berlim. A democracia política chegou ao Leste europeu desacompanhada da democracia econômica. Enquanto milhares tomaram o rumo de uma vida melhor no Ocidente, seus governos acreditaram que, para chegar ao Paraíso, era preciso ingressar na zona do euro.
 A Europa entrou em colapso. A culpa é de quem? Ora, crime de colarinho branco não tem culpado. Quem foi punido pela crise usamericana em 2008? Os desmatadores do Brasil não estão sendo anistiados pelo novo Código Florestal?
 Culpados existem. Todos, agora, se escondem sob a barra da saia do FMI. E nós, brasileiros, sabemos bem como este grande inquisidor da economia pune quem comete heresias financeiras: redução do investimento público; arrocho fiscal, desemprego, aumento de impostos, corte de direitos sociais, punição a países com déficit público etc.
 O descaramento é tanto que o pacote do FMI inclui menos democracia e mais intervencionismo. Quando Papandréu, primeiro-ministro da Grécia, propôs um plebiscito para ouvir a voz do povo, o FMI vetou a proposta, depôs o homem e nomeou Papademos, um tecnocrata, para o seu lugar. Também o governo da Itália foi ocupado por um tecnocrata. Como se o fim da crise dependesse de uma solução contábil.
 A história recente da Europa ensina que a crise social é o ovo da serpente – chocado pelo fascismo. Sobretudo quando a crise não é de um país, é de um continente. Não adiantam mobilizações em um país, é preciso que elas se expandam por toda a Europa. Mas como, se não existem sindicalismo combativo nem partidos progressistas?
 As mobilizações tipo Ocupem Wall Street servem para denunciar, não para propor, se não houver um projeto político. Quem se queixa do presente e teme o futuro, corre o risco de se refugiar no passado – onde se abrigam os fantasmas de Hitler e Mussolini.
 
Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser e Waldemar Falcão, de “Conversa sobre fé e ciência” |(Agir), entre outros livros.

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Fonte: Frei Betto