O presidente do Grupo Santander, Emílio Botín, veio ao Brasil para assistir ao Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 e aproveitou para vistoriar as operações do banco e conversar com a Presidenta Dilma Roussef. A filial brasileira responde por 25 % dos resultados do banco, enquanto a matriz, na Espanha, contribui com apenas 10 % . Mesmo assim, a empresa cortou 1.636 postos de trabalho em 2011 e demorou a cumprir a promessa de abrir as negociações do Acordo Aditivo de Trabalho com os funcionários. Depois de passado mais de um mês do prazo prometido, a primeira reunião de negociação foi marcada para o próximo dia 1º.
Além de patrocinar o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, o Santander também patrocina a mais importante competição de futebol do continente, e uma das mais destacadas do mundo, a Copa Libertadores da América. A competição entre os clubes de futebol da América do Sul e México homenageia os vultos históricos que lutaram pela libertação do continente, colonizado e explorado por espanhóis e portugueses durante quase quatro séculos. Sendo o Santander um grupo espanhol é, no mínimo, uma ironia patrocinar este evento e ainda mudar-lhe o nome – agora é Copa Santander Libertadores da América.
Cavando dinheiro
A crise na Europa está levando o banco a procurar dinheiro em todos os lugares. Já foi divulgado que a empresa poderá vender parte das ações de sua operação brasileira, o que seria bom para a matriz, mas péssimo para o Santander Brasil. Poucos dias depois, o banco anunciou que tem intenção de negociar 7,8 % da filial do Chile. No mesmo dia o anúncio repercutiu mal nos mercados latinos e os papéis do Santander recuaram 8 % no pregão da Bovespa. O receio é que o banco se desfaça de ações em vários países para capitalizar a matriz e evitar as consequências da crise na Europa. A Espanha é um dos países que tiveram seu grau de investimento rebaixado em função dos problemas que a chamada Zona do Euro vem enfrentando.
Durante sua audiência com a presidente Dilma Roussef no Palácio do Planalto, Emílio Botín – chamado, dentro do banco, de D. Emílio – declarou que o mercado brasileiro é “muito interessante para a Espanha”. O presidente do grupo financeiro espanhol também declarou que o país tem “grandes empresas muito bem administradas e em processo de internacionalização”. Além dos resultados da operação brasileira, a boa vontade do empresário para com o Brasil tem outro motivo: o governo concedeu isenção fiscal de R$ 4 bilhões devidos sobre o ágio da operação de compra do Banespa, ocorrida em 2000.
Mesmo com todas estas facilidades, o Santander não respeita o Brasil e os brasileiros principalmente seus próprios funcionários. Além de adotar práticas antissindicais como a perseguição a dirigentes e o uso de interditos proibitórios para impedir as greves, o banco ameaçou não renovar o acordo aditivo que garantia benéficos extras aos empregados. A promessa feita em agosto foi de que as negociações seriam abertas assim que a Convenção Coletiva negociada com a Fenaban fosse assinada, o que aconteceu em 21 de outubro. Mas só depois de mais de um mês e muita pressão dos sindicatos de todo o país a direção do Santander marcou uma reunião para tratar do Aditivo.
Fraude e quebra de promessa
Os esforços desesperados para salvar o grupo Santander da crise já levaram o banco a fraudar documentos contábeis na Espanha. O rombo não relatado se refere à companhia de energia elétrica Iberdrola, que tem operações no Brasil. Segundo o jornal madrilenho El Pais, o banco teria registrado valores diferentes dos verdadeiros e justificado a diferença em razão da queda do valor dos papéis da empresa no mercado. A fraude é de aproximadamente R$ 720 milhões.
Mas o Santander não é o único banco espanhol em crise. Um programa semelhante ao Proer, adotado pelo governo Fernando Henrique Cardoso a partir de 1995, foi feito na Espanha e já injetou recursos em quatro bancos. Com o sistema financeiro da Espanha em colapso, a tendência é de que a crise se agrave e é possível que o Santander tome medidas ainda mais drásticas em suas operações estrangeiras para salvar o grupo. E isso vai ter impacto direto sobre os funcionários da empresa, inclusive no Brasil.
Isto já pode ser sentido no tom das conversas entre o movimento sindical e a direção de RH do banco. A empresa faz ameaças veladas de não renovar o acordo aditivo específico, o que põe em risco vários benefícios dos empregados. A PCR, por exemplo, é um dos programas que está em risco. Como suprimir estes benefícios e programas implicaria em redução de gastos com pessoal, o lucro da operação brasileira seria maior. Com melhores resultados, sobraria mais dinheiro para enviar à matriz e ajudar a tapar o buraco provocado pela crise europeia.
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES