Descaso com segurança e desrespeito às leis marcam greve dos vigilantes

A greve dos profissionais de segurança privada que acontece em vários municípios do estado do Rio de Janeiro está fazendo os bancos mostrarem que não dão o mínimo valor a seus empregados e clientes. Muitas unidades bancárias estão funcionando com apenas um guarda, o que deixa a segurança vulnerável e torna as agências alvos fáceis para os assaltantes. “Com este procedimento, os bancos estão, mais uma vez, tratando com tremendo descaso a vida dos bancários e clientes diante da greve dos vigilantes, e ainda estão afrontando lei federal”, informa Ademir Wiederkehr, coordenador, pela Contraf-CUT, da Comissão de Segurança Bancária.

Os bancos estão mantendo os estabelecimentos em pleno funcionamento durante a greve com base num entendimento de que, por motivo de força maior, as agências possam ter somente um vigia. “De fato, há uma portaria da PF autorizando que haja somente um vigilante, mas ela se aplica a situações de duração curta, como hora de almoço ou pausa para ida ao banheiro”, esclarece Pedro Batista, representante da Federação na Comissão de Segurança Bancária. Os bancos têm ignorado este detalhe e usado de todos os argumentos para convencer juízes e até a Polícia Federal de que é viável manter somente um vigilante numa agência, independente de seu porte ou das características do estabelecimento. “Falta combinar isso com os bandidos”, ironiza Ademir.

Outro recurso que os bancos, principalmente o Itaú, estão adotando é informar que as agências estão funcionando sem numerário, o que é praticamente impossível, porque sempre há algum dinheiro no cofre e nos guichês. Mas, mesmo que isto acontecesse, para que a agência funcionasse sem numerário durante todo o expediente bancário seria preciso impedir os clientes e usuários de fazerem pagamentos e depósitos em espécie. E, ao final do dia, não há quem faça a coleta dos malotes, já que os trabalhadores da segurança privada estão em greve.

Infração às leis trabalhistas

Outro abuso que tem ocorrido é o deslocamento e até a contratação temporária de profissionais de segurança para realizarem contingência nos locais onde há paralisação, o que infringe a lei de greve. Em Petrópolis, os sindicatos de Vigilantes e de Bancários flagraram a chegada de kombis com vigilantes vindos do Rio de Janeiro para assumirem o lugar dos grevistas. Também do município serrano há a denúncia de que, numa agência do Bradesco, um gerente assumiu o controle de entrada do público, operando o mecanismo que libera a porta giratória, num caso clássico e irrefutável de desvio de função. “São abusos dos bancos na ânsia de aumentar os lucros, atropelando o direito dos trabalhadores e colocando a vida dos bancários e clientes em risco”, pondera Ademir.

Bancários com medo

Numa agência do BB no centro do Rio, houve um princípio de conflito na manhã desta quinta-feira, 15. A agência estava com apenas um guarda e fechada para atendimento ao público, com os bancários realizando trabalhos internos. Um cliente quis exigir o direito de entrar e ser atendido e chamou a polícia. Mas até o policial militar deu razão aos bancários e argumentou com o correntista que não havia condição da agência funcionar com apenas um segurança. O temor dos funcionários era válido: em janeiro de 2010 a agência sofreu uma tentativa de assalto em que um vigilante foi morto e cinco pessoas ficaram feridas, sendo três clientes e os outros dois guardas lotados na unidade.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Vigilantes em greve em Teresópolis

Desde a última segunda-feira, dia 12, os vigilantes de Teresópolis entraram em greve, juntamente com os colegas de todo o Estado do Rio de Janeiro, reivindicando melhores salários, benefícios e condições de trabalho.


 


A partir de então, a maioria das agências de Teresópolis ficaram fechadas ao atendimento ao público, por questões de segurança. De acordo com a Lei Federal 7.102/83, as instituições financeiras só podem funcionar com a presença de um número mínimo vigilantes, ficando sujeitos os infratores à aplicação de multa no caso de descumprimento da norma. Em Teresópolis, existe ainda a Lei Municipal 3.039/2011, de autoria do bancário/vereador Cláudio Mello, que também regula a matéria, no mesmo sentido.


 


Irresponsabilidade – Mesmo oferecendo risco eminente a funcionários, clientes e usuários, algumas agências do Bradesco em Teresópolis estavam com as portas abertas no dia 12, atendendo normalmente o público, demonstrando total descaso com a segurança dos que ali permaneciam.


 


Prontamente o Sindicato dos Bancários interveio, visitando as agências e conversando com os gestores, a fim de informar sobre o conteúdo das leis e dos riscos ali existentes, além de solicitar o fechamento imediato das agências, enquanto não houvesse efetivo de vigilantes em seus postos. Infelizmente, a solicitação só foi atendida no dia seguinte, após o Sindicato apresentar denúncia junto ao setor competente da Polícia Federal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, que tem o poder de fiscalizar o descumprimento da lei federal. A denúncia foi protocolizada com o apoio da Federação RJ/ES.


 


Além disso, o Sindicato também protocolizou ofício no Poder Público Municipal, com apoio de Cláudio Mello, para que fosse acionado o setor de Fiscalização de Posturas, e autuasse os infratores com base na lei municipal.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

ENTREVISTA: Carlos Cordeiro

 


 


Balanço de mandato


Carlos Cordeiro, o Carlão, presidiu a Contraf por três anos e está visitando federações de todo o país, ao lado de outros dirigentes da Executiva da Confederação. Eles estão preparando o Congresso da Contraf, que vai eleger a nova diretoria. No dia 28 de fevereiro ele esteve com os dirigentes da base da Federação na Plenária Pré-Congressual. Em sua fala, Carlão fez um paralelo entre a gestão de uma entidade sindical e a compra de um apartamento na planta. “Você assina o contrato e, em três anos, recebe um apartamento. Aqui é a mesma coisa, nós recebemos o voto e, três anos depois, temos que apresentar resultados das nossas ações”, comparou. Depois de sua exposição, o dirigente, que já havia concedido entrevista ao UNIDADE Informativo no início de seu mandato, voltou a conversar com nossa reportagem.

Que conquistas foram alcançadas nos últimos três anos? Que apartamento está sendo entregue aos bancários ao final desta gestão da Contraf?


 


O principal neste apartamento que estamos entregando, acima de tudo, é a consolidação de uma direção coesa e com olhar para todo o país. Hoje temos um número grande de diretores que visitaram todos os sindicatos. Não foi uma Contraf presidencialista, todos os sindicatos têm falado que um dos pontos fortes desta gestão é a participação dos dirigentes da Contraf em todos estados e das entidades em todos os espaços da Contraf. Seja na negociação da mesa da Fenaban, onde temos um sindicato como o do Rio de Janeiro, que é um sindicato grande, com uma participação maior, mas também sindicatos do Nordeste, do Norte do país. Houve uma ampliação da participação nas comissões de empresa e nas comissões temáticas e isto foi fundamental para alguns avanços, como o aumento real de salário, a valorização do piso da categoria, avanços na igualdade de oportunidades – como a ampliação da licença maternidade e a inclusão do parceiro homoafetivo no plano de saúde. Tivemos também avanços na segurança, por exemplo, com a obrigatoriedade dos bancos  informarem semestralmente os dados sobre assaltos e ataques e, uma conquista do ano passado, a proibição do bancário transportar dinheiro. Houve avanços na saúde, com o programa de combate ao assédio moral, que prevê que os sindicatos recebam as denúncias dos bancários e encaminhem aos bancos, e que as entidades sejam informadas sobre o andamento da investigação das denúncias. Ainda na área da saúde, alcançamos outra vitória no ano passado, com o direito do bancário avaliar os exames periódicos, que são válidos como exames demissionais, e informar se foram feitos de forma adequada.
Mas o grande avanço que tivemos foi político, no ano passado. Diziam que nunca conseguiríamos aumento real porque isso contaminaria a inflação. Imagina, se os bancos não tivessem feito um acordo com aumento real, os demais setores jamais concederiam. Se com este lucro todo, o banco não der aumento real, quem é que vai dar? A grande conquista que tivemos no ano passado foi uma conquista política.

Ainda na relação com os sindicatos, tivemos também os Cadernos Contraf. A gente fala muito de igualdade de oportunidades nos bancos, mas precisamos exercitar a igualdade de oportunidades dentro dos sindicatos, das federações e da própria confederação. Começamos a fazer mais pesquisas, publicá-las nos Cadernos e cada dirigente sindical passou a receber um exemplar, etiquetado com seu nome. Esta é uma demonstração importante de que a Contraf faz pesquisas; que tem uma posição de diretoria e não mais de pessoas; e que socializa as informações e os documentos para que os dirigentes possam ter instrumentos de negociação e mobilização.

Falando em pesquisa, esta gestão inaugurou a Pesquisa do Emprego Bancário que teve muita repercussão na sociedade por desnudar a política de rotatividade e a redução dos postos de trabalho nos bancos. Aqui no Rio de Janeiro esta pesquisa motivou a campanha de mídia e de manifestações públicas contra a última onda de demissões no Itaú. Esta política de mostrar à sociedade como o sistema financeiro trata seus trabalhadores vai permanecer?

Sim, isso é fundamental. A pesquisa já era feita pelos empresários e nós passamos também a levantar estes dados. Então, começamos a olhar que a rotatividade acontece somente aqui no Brasil – nenhum outro país da América Latina ou da Europa tem a rotatividade perversa que nós temos aqui. Por isso dizemos que a rotatividade é como jaboticaba – só tem no Brasil. Isso nós descobrimos com a pesquisa. Em todos os setores da nossa economia há rotatividade, mas percebemos na pesquisa que, nos bancos, o salário médio dos novos contratados é 54 % menor que o daqueles que foram demitidos. Os bancos estão se utilizando desta rotatividade para baixar custos. Nós temos conquistado aumento real de salários, os bancos contratam, mas conseguem diminuir os custos de folha. E quando olhamos para outros setores da economia, a diferença entre os salários dos novos e dos dispensados fica em torno de 3 % . Este é um problema específico do setor bancário.


 


A pesquisa apontou onde está o problema. Quando nós desnudamos esta realidade, por um lado, colocamos os bancos numa situação difícil. Mas, acima de tudo, isso nos traz um desafio, que é descobrir que tipo de ação sindical – de negociação e de mobilização – temos que adotar para romper com essa violência que os bancos estão praticando. Foi depois destas pesquisas que conseguimos avanços no BB e na Caixa e foi então que conseguimos, pela primeira vez, incluir nos acordos específicos destes bancos a contratação de mais trabalhadores. Foram dez mil no BB e, em dois anos, mais dez mil na Caixa. Isso foi fruto destas pesquisas. Eu não tenho dúvidas de que, se quisermos ter emprego e remuneração de qualidade, temos que continuar investindo em pesquisas e dialogando com os dirigentes para se apropriarem destas informações e terem negociações que, de fato, possam resultar em avanços.

O que mudou na Contraf nos últimos três anos? A forma como se faz a mobilização da categoria na campanha salarial e em temas específicos? Ou as estratégias de negociação é que são diferentes?

É um conjunto de fatores. Temos, de fato, uma direção formada por pessoas que priorizaram seu tempo para serem dirigentes da Contraf. Não havia isto antes, muitos diretores apenas davam o nome para compor a direção. Hoje temos um número grande de pessoas que estão lá no dia a dia e são dirigentes qualificados, que conseguem pensar e elaborar políticas, e também negociar.


 


Mas isso não bastava, era preciso ter o convencimento dos sindicatos. Os filiados entenderam esta gestão e participaram muito mais. Esta gestão, junto com os sindicatos, propôs, como eu já falei, pesquisas que ajudaram nesta transformação. O resultado de uma negociação coletiva é fruto de um processo, que é feito com a qualificação dos dirigentes, a unidade nacional e o convencimento dos filiados e, acima de tudo, a mobilização maior a partir dos sindicatos, na base. Não tenho dúvida, os sindicatos, hoje, estão dialogando muito mais com os bancários, explorando os espaços na sociedade. Como aqui, no Rio de Janeiro, com a campanha contra as demissões no Itaú, onde houve veiculação de propaganda, realização de atividades, a corrida de bicicleta. Isto é positivo, porque sabemos o quanto um banco preza a sua imagem.


 


Nós, antes, tínhamos boas informações, mas morríamos nas negociações porque os trabalhadores sequer sabiam que estávamos negociando alguns temas. Hoje temos os sindicatos participando da negociação, os bancários informados e mobilizados e conseguimos ter uma exposição na mídia que é importante não só para termos o apoio da sociedade, mas também para expor as mazelas que os bancos praticam. Estes avanços se devem a um conjunto de fatores. Tivemos boa participação dos sindicatos, dos dirigentes da Contraf e também, muito boa, dos trabalhadores. E também uma exposição destes problemas na sociedade, conseguimos colocar os bancos numa situação difícil.


 


Nos últimos anos, a Contraf tem participado das negociações do BNDES e do FINEP,que são bancos públicos federais com unidades em outros estados, mas com sede no Rio de Janeiro. Tivemos a participação do Sindicato dos Securitários de MG, que é cutista, em nossas conferências. A campanha salarial dos financiários já é coordenada pela Contraf há alguns anos. Isto demonstra que a confederação está se aproximando de entidades representativas de trabalhadores de todo o sistema financeiro, não apenas bancários. Este esforço de construir a unidade dos trabalhadores do sistema financeiro é uma prioridade?

São duas questões. Primeiro, a unidade. Esta foi uma marca nos últimos três anos, o quanto ampliamos a unidade dos filiados. Antes, era comum haver calendários diferentes para negociações com a Fenaban, índices reivindicados diferentes, sindicatos que entravam e saiam da greve antes ou depois, que gerava problemas de discutir dias parados. Isto tudo enfraquecia muito o movimento. Este esforço, que foi coordenado pela Contraf, mas os sindicatos responderam de maneira positiva, foi o esforço da unidade. Dialogamos, até, com sindicatos não cutistas, alguns até que estavam fora do Comando Nacional. Eu dialoguei, inclusive, com a Contec – nos últimos dois anos, as duas confederações tiveram o mesmo índice e o mesmo calendário. Não tenho dúvidas de que os avanços que tivemos na Convenção Coletiva de Trabalho são fruto de um grau muito maior de unidade dos sindicatos – cutistas e não cutistas – porque enxergaram na Contraf esta capacidade de coordenação e articulação do processo. Isso foi fundamental na mesa de negociação, os bancos perceberam que esta unidade estava muito forte. Por isso que, na greve do ano passado, a cada dia aumentava o número de agências paradas, porque nós tínhamos o controle do processo.


 


A segunda questão mencionada é que queremos construir uma convenção coletiva para cada uma das categorias dentro do ramo financeiro. Hoje já temos uma só para bancários, uma só para financiários e acordo coletivo para cooperativários e também um para os trabalhadores do mercado de capitais, que são os funcionários da bolsa de valores e das corretoras. Queremos também fazer uma CCT para os securitários. Nós representamos todos estes trabalhadores, isto para nós é estratégico. Por isso vimos ampliando, ainda que a passos lentos, esta representação. Inclusive porque os trabalhadores estão enxergando neste modelo de negociação um grande espaço para valorizar suas CCTs. Este é também um reconhecimento desta nossa política acertada.

E o próximo apartamento, que está prometido para daqui a três anos? Você defende que os sindicatos precisam se especializar por temas. A Contraf vai se especializar e batalhar por um ou dois temas ou vai buscar qualificar o maior número possível de dirigentes para que vários temas sejam desenvolvidos ao mesmo tempo?

Desenvolvemos um projeto de formação em que todo dirigente sindical tinha que ter acesso a uma formação básica. Saber da estrutura e da prática sindical bancária, quais os espaços de negociação, o papel de uma federação, de uma confederação, de uma central sindical. Quem vem para o sindicalismo tem que ter uma noção geral. Mas nem todo mundo que tem afinidade pelo mesmo tema. Então, vamos continuar com este curso básico, mas vamos fazer os módulos de especialização sobre terceirização, sistema financeiro, negociação coletiva, saúde. Daqui a três anos queremos poder entregar um apartamento em que possamos ter entre 30 e 50 dirigentes especializados por tema. Como temos, por exemplo, um dirigente da base da Federação, do Sindicato do Sul Fluminense, o Miguel Pereira, que é especialista na área de terceirização e fala não só pela Contraf, mas também pela CUT Nacional. Como temos, em São Paulo, o Plínio Pavão, que é especialista na área de saúde do trabalhador. Queremos pegar este modelo e, com nossa política de formação, dar condições para que os dirigentes de todo o país possam se especializar.


 


Achamos que os sindicatos e federações também têm que investir nos seus projetos de formação e ter o seu tema de referência para que, na unidade nacional, tenhamos um movimento mais forte. Para que possamos transformar não só a realidade do bancário, mas a realidade da sociedade, porque pertencemos à classe dos trabalhadores. Devemos aproveitar este momento em que o Brasil é o sexto país mais rico do mundo para deixarmos de ser o décimo pior país em distribuição de renda. Qual vai ser nosso posicionamento na reforma tributária, que vai discutir o papel do Estado? Qual vai ser nosso papel na reforma política, que vai discutir o Congresso que queremos. E, acima de tudo, na reforma do sistema financeiro, para discutir que banco e que sistema financeiro temos e quais os que queremos. Por isso, é importante que os dirigentes se especializem, para que os trabalhadores enxerguem no movimento sindical e nos dirigentes sindicais as referências para uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais igualitária.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Greve dos vigilantes cresce, mas bancos insistem em desrespeitar a lei

Com a deflagração de greve por sindicatos de vigilantes de vários municípios do estado do Rio de Janeiro, os bancários e clientes de bancos têm enfrentado situações de risco. Alguns bancos ainda insistem em funcionar sem o número de guardas exigido pela lei – ou até sem nenhum guarda – e mantém agências abertas. Somente com fortes piquetes as unidades bancárias sem condições de funcionamento estão permanecendo fechadas. Na maioria das cidades onde há greve, tem havido colaboração entre os sindicalistas bancários e vigilantes, reproduzindo a parceria que existe entre as duas categorias em nível nacional.

Em Angra dos Reis, a adesão dos vigilantes da rede bancária é total e as agências do BB, Caixa, Santander e HSBC estão fechadas. Bradesco e Itaú mantêm o atendimento ao público, alegando que as agências estão funcionando sem numerário.

Na Baixada Fluminense, o panorama é semelhante. As agências do Bradesco são fechadas pelos piquetes mas, se os sindicalistas se afastarem, são reabertas. No Itaú a situação é mais difícil, já que o banco, alegando que funciona sem manipulação de numerário, está mantendo o atendimento. “Há agências do Itaú que funcionam com somente um vigilante, e outras que forçam a abertura mesmo sem nenhum guarda para fazer a segurança. As duas situações são ilegais, porque a legislação determina que cada agência tenha, pelo menos, dois vigilantes”, ressalta Pedro Batista, coordenador-geral do Seeb-Baixada. O dirigente informa, ainda, que já encaminhou denúncia sobre o Itaú à unidade de Nova Iguaçu da Delegacia Especializada em Segurança Privada da Polícia Federal – Delesp.

Na região de Niterói a adesão é forte, com todas as agências do BB, Caixa, HSBC e Santander fechadas. No Bradesco a situação é difícil, mas os sindicatos dos Vigilantes e dos Bancários estão conseguindo administrar. No Itaú o problema é maior, já que o banco orienta seus gestores a abrirem a agência com um só ou nenhum vigilante, alegando que não há manipulação de dinheiro.

Em Petrópolis a adesão é boa. No Centro e nos bairros do Bingen e Alto da Serra as agências foram abertas, mas a ação dos piquetes tem levado ao fechamento. As empresas de segurança privada estão jogando pesado, levando, diariamente, profissionais substitutos. Esta prática é ilegal, já que a CLT proíbe a contratação de trabalhadores para substituir os grevistas, bem como o uso de profissionais lotados em outra área. As kombis sobem levando, entre os seguranças, superintendentes das empresas, que tentam intimidar os vigilantes grevistas e somente a atuação dos sindicalistas tem impedido que sejam bem sucedidos. “Para completar, foi flagrado um vigilante substituto que não tinha o registro para trabalhar nesta função”, relata Robson José Voigt, diretor do Sindicato dos Bancários de Petrópolis. O Itaú e o Bradesco são os bancos que mais causam problemas. “Flagramos uma agência do Bradesco onde o gerente estava controlando a porta giratória. Além de não haver vigilante na agência, ainda havia um bancário em desvio de função”, informa Robson.

No Rio de Janeiro a adesão é parcial, mas havia pelo menos um vigilante nas agências abertas. A situação variava de acordo com a região: Centro e Zona Sul com funcionamento de algumas agências, zonas Norte e Oeste com adesão maior. Algumas unidades onde há somente um guarda não abrem para o público e os bancários ficam no interior dos estabelecimentos, fazendo trabalho interno. Na última terça-feira (13), houve confusão na agência do BB na Rua Senador Dantas, porque os funcionários não aceitavam trabalhar na unidade, já que não havia vigilante. A adesão é parcial porque os vigilantes de algumas empresas não aderiram – pelo menos, é o que se pode averiguar pelos uniformes dos guardas que estão trabalhando. O Sindicato dos Bancários recebeu denúncias de que as empresas de segurança estão contratando temporários para substituir os grevistas.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

Dieese debate: Negociações Coletivas em 2012 e Rotatividade

O Dieese realiza no próximo dia 28 a rodada carioca da Jornada Nacional de Debates. Este ano o tema é duplo: “Negociações Coletivas em 2012 e Rotatividade”. O primeiro assunto é de interesse geral e importante para informar os sindicalistas sobre o panorama em que vão se desenrolar as campanhas salariais em todo o país. Já a questão da rotatividade de mão de obra é vital para os dirigentes sindicais bancários, já que o sistema financeiro é um dos setores em que a prática é mais difundida e agressiva.

O evento acontece no dia 28 de março, quarta-feira, às 14h, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro (Rua Evaristo da Veiga, 16 / 17º andar). Para participar é preciso confirmar presença pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (21) 2518-4332.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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Dia da Mulher. Que mulheres?

Frei Betto *


 


Antes de celebrar o Dia da Mulher a 8 de março, há que comemorá-lo. Os dois verbos têm diferentes significados, embora frequentemente empregados como sinônimos. Celebrar é promover cerimônia, destacar, tornar célebre, donde celebridade. Comemorar é fazer memória, resgatar o passado, atualizar lembranças.



De que mulheres tratamos nesta efeméride? Da empregada doméstica que a família preza como parente para camuflar a sonegação de seus direitos trabalhistas, a falta de carteira assinada, de férias regulares e salário digno?



É também o dia das babás, a quem é negado o direito de estudar, aprimorar-se profissionalmente, e exigido cuidado e afeto aos bebês da família? Quem se lembra das mulheres chefes de família, largadas à deriva por seus maridos, obrigadas à dupla jornada de trabalho para tentar educar os filhos?



As mulheres são a metade da humanidade. A outra metade, filhos de mulheres. E, no entanto, bilhões prosseguem submetidas ao machismo irreverente, proibidas de dirigir carros em alguns países árabes, obrigadas a suportar a poligamia em clãs africanos, forçadas à infibulação (castração feminina) em culturas fundamentalistas, menosprezadas ao nascer na China patriarcal.



Pobre Ocidente que, do alto de sua arrogância, mira tais práticas como se aqui as mulheres tivessem alcançado a emancipação. É verdade, multiplica-se o número de mulheres chefes de Estado ou de Governo, como, atualmente, Dilma Rousseff (Brasil); Cristina Kirchner (Argentina); Laura Chinchilla (Costa Rica); Ângela Merkel (Alemanha); Tarja Halonen (Finlândia); Pratibha Patil (Índia); Dália Grybauskaité (Lituânia); Eveline Widmer-Schlumpf (Suíça); Ellen Johnson Sirleaf (Libéria); e Sheikh Hasina (Bangladesh).



Não olhemos, porém, apenas para o alto. Mirem-se nas mulheres de Atenas, sugere Chico Buarque. “Elas não têm gosto ou vontade / Nem defeito, nem qualidade / Têm medo apenas / Não têm sonhos, só têm presságios / O seu homem, mares, naufrágios… / Lindas sirenas, morenas.”



Há que mirar em volta: mulheres como isca de consumo, adornando carros e bebidas alcoólicas. Mulheres no açougue virtual da chanchada internáutica e nas capas de revistas que cobrem as bancas de jornais, a exibir, como vacas em exposição pecuária, seus atributos físicos anabolizados cirurgicamente.



Milhões de mulheres tentando curar suas frustrações, via medicamentos e terapias, por não corresponderem aos padrões vigentes de beleza. Mulheres recauchutadas, anoréxicas, siliconizadas, em luta perene contra as rugas e as gorduras que o tempo, implacável, imprime a seus corpos. São as gatas borralheiras sempre a fugir da hora em que a velhice bate à porta, tornando-as menos atrativas aos olhos masculinos.



Sim, é preciso fazer memória de mulheres que não foram ricas de imbecilidade nem se expuseram na vitrine eletrônica do voyeurismo televisivo em rede nacional. Refiro-me a Judite, que derrotou o general Holofernes; Maria, que exaltou os pobres, despediu os ricos de mãos vazias e gerou Jesus; Hipácia, filósofa e matemática de Alexandria; Joana d’Arc, queimada viva por desafiar monarcas e cardeais; Teresa de Ávila, que arrancou Deus dos céus e centrou-o no coração humano; Joana Angélica, monja baiana que se opôs ao colonialismo português; Olga Benário, combatente contra o nazifascismo; Zilda Arns, que ensinou dezenas de países a reduzirem a mortalidade infantil; e tantas outras mulheres anônimas que, literalmente, carregam o mundo no ventre e nas costas.



À tradição cristã se deve muito a demonização da mulher. A começar pela interpretação equivocada de que foi Eva a responsável por introduzir o pecado no mundo. Assim como o papa se penitenciou por ter a Igreja Católica condenado Galileu e Darwin, é hora de se aproveitar uma data como 8 de março para reabilitar a mulher na Igreja, permitindo-lhe acesso ao sacerdócio, ao episcopado e ao papado.



Jesus primeiro se revelou como messias a uma mulher – a samaritana do poço de Jacó. Ela pode ser considerada a primeira apóstola. E foi a uma mulher – Madalena – que primeiro Jesus apareceu ao ressuscitar.



E é bom sempre recordar a afirmação do papa Sorriso, João Paulo I: “Deus é mais mãe do que pai”.


 


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* Frei Betto é escritor, autor de “A arte de semear estrelas” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org    twitter: @freibetto.

Fonte: Frei Betto

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ESPECIAL MÊS DA MULHER: Em briga de marido e mulher, AGORA se mete a colher

Por Rita da Costa Pereira*



Com a chegada da burguesia ao poder, uma nova ordem despontou no horizonte. No período que ficou conhecido como a Belle Époque (1890-1920), se deu a consolidação de valores e atribuições dos papéis sociais femininos e masculinos que acabaram por contribuir e consolidar a dominação masculina sobre a mulher.



À mulher foi destinada a casa e, para reinar nesse espaço, era preciso ser comedida, dócil, honrar e respeitar seu marido, cuidar de seus filhos, não desenvolver a sua inteligência – já que esse era um traço masculino e comprometia sua natureza dócil. Ao homem foi destinada a rua e, como senhor soberano, deveria prover sua casa e gozar de total liberdade. Liberdade que incluía o exercício pleno de sua sexualidade. À mulher era vetado o exercício de sua sexualidade, considerado um desvio de caráter grave, punido de forma violenta. Punida pelo Estado, com o consentimento da sociedade.



Em uma sociedade patriarcal com tais valores, ser marido era também ser “dono”, e a mulher era “propriedade privada” do homem. Por isso é fácil entender a conhecida frase: “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. A violência doméstica era assunto privado.



Esta autoridade masculina não estava presente somente no discurso, ela se fazia presente na lei. Em nosso país, o código Penal de 1890 previa prisão celular de 1 a 3 anos para a mulher adúltera. Neste código, só a mulher era penalizada.



No Brasil do início do século XX o crime passional não era passível de punição. A violência era justificada por uma perda momentânea da razão, causada por emoções fortes, como o ciúme, que justificava o homicídio, em nome do amor e da honra. Herança do ideal de amor romântico que não suportava a vida sem seu objeto de amor.



Mesmo nessa “camisa de força” as mulheres brasileiras alcançaram conquistas importantes no século XXI no que diz respeito à penalização da violência doméstica. Em 07/08/2006, foi criada a lei de número 11.340, que ficou conhecida como lei Maria da Penha – homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que foi colocada em uma cadeira de rodas pela violência cometida por seu ex-marido. Esta lei alterou o código de processo penal, permitindo ao juiz decretar a prisão preventiva do agressor, e criminalizou a violência doméstica. Deu um basta às cestas básicas como punição para esse tipo de crime.



Mais recentemente, no dia 09/02/2012, por dez votos a um, o Supremo Tribunal Federal decidiu que os agressores de mulheres poderão ser denunciados independente da vontade da vítima. Desde a sua criação, que aumentou o número de denúncias de violência doméstica, esta foi a alteração mais significativa na  lei 11.340. Até então somente as vítimas podiam fazer a denúncia. O medo que sentem do agressor sempre foi um grande entrave à denúncia da violência pelas mulheres. A vergonha e o medo fazem com que se sintam sozinhas, mas, com a última decisão do STF, a violência doméstica deixou de ser assunto da esfera privada e passou a ser o que sempre foi: responsabilidade pública.



Esta conquista permite que qualquer cidadão ou cidadã denuncie essa prática que viola os direitos humanos. Não tenho a ilusão de que estes mecanismos acabem com a violência doméstica, nem é esse o seu objetivo. Mas eles podem, sim, penalizar e tentar conter esse tipo de crime. Em nosso país os índices ainda são alarmantes e a cada quinze segundos uma mulher sofre algum tipo de violência no Brasil. Pessoalmente, só acredito na mudança da mentalidade de dominação masculina através da educação que valorize o direito à igualdade entre os gêneros. Mas enquanto não avançarmos nessa questão, em briga de marido e mulher AGORA eu meto, sim, a colher.


 



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* Rita da Costa Pereira é graduada em História pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em História Contemporânea pela Universidade Cândido Mendes

Fonte: Rita da Costa Pereira

Vigilantes de Niterói decidem: GREVE a partir do dia 12 de março

Bancos podem não abrir por falta de segurança. Funcionários querem 10 % de reajuste imediato


 


Os Vigilantes de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito e Maricá entram em greve por tempo indeterminado a partir do dia 12 de março. A decisão foi aprovada em assembleia realizada pela entidade Sindicato dos Vigilantes de Niterói e regiões na noite desta terça-feira, 06, com a presença do Sindicato dos Bancários. Os profissionais da área de segurança privada exigem reajuste de 10 % , mais reposição inflacionária do período, 30 % do risco de vida e ainda um aumento do auxílio alimentação, que atualmente é de R$ 8,85, mas eles querem um reajuste para R$ 16,50.



Os trabalhadores votaram a pela paralisação das atividades até que as empresas negociem a pauta de reivindicações apresentada ao sindicato patronal pelas 15 entidades que representam a categoria no Estado. Está é a primeira vez que todos os sindicatos realizam uma campanha salarial unificada no Rio de Janeiro.



A decisão pela greve ocorreu após os dirigentes sindicais tentarem por duas vezes realizar mesas redondas agendadas pelo Ministério do Trabalho para negociação, mas sem sucesso. O representante das empresas não compareceu em nenhuma audiência demonstrando total falta de consideração com a categoria.



Para o presidente do Sindicato dos Vigilantes de Niterói, Cláudio José, a principal motivação para a greve, foi a intransigência do sindicato dos patrões em não negociar com a categoria. “O Sindesp-RJ não quer conceder nenhum reajuste pedido e ainda não compareceu a nenhuma mesa redonda marcada pelo Ministério do Trabalho, demonstrando total desinteresse e falta de consideração com o vigilante. Por isso vamos parar e exigir mais respeito a categoria. Os empresários ameaçaram ainda retirar da categoria os 8 % já conquistados de risco de vida caso a greve seja levada a frente. Já comunicamos a todos os órgãos como Polícia Federal, Ministérios Público do Trabalho, os bancos e o próprio sindicato patronal que manteremos a decisão de greve já aprovada pelos vigilantes” declara.



O dirigente lembrou também que o Rio de Janeiro tem um dos piores salários do país. “Vamos endurecer o embate. Não podemos admitir que o Rio mais uma vez figure como os piores salários de profissionais de segurança. Os vigilantes do Rio recebem uma salário de R$ 864,00 que com os descontos volta para pouco mais de R$ 600. Isso é uma vergonha para a classe trabalhadora de um Estado tão violento como o nosso. No Distrito Federal e no Tocantins, após uma grande mobilização os profissionais alcançaram 15 % de ganho real no salário mais inflação. Por que nós vigilantes do Estado do Rio temos que ganhar 0 % ? Não vamos admitir. Segunda-feira nenhum profissional assumirá seu posto de trabalho até que os patrões decidam negociar. Esperamos contar com o apoio e a compreensão da população. A reivindicação é justa para quem trabalha sob forte pressão e risco iminente. Está será uma greve geral como nunca se tinha visto no Rio de Janeiro”, desabafa Cláudio José.



Os vigilantes reivindicam:














Reajuste salarial: inflação + 10 % de ganho real
Tíquete Refeição de R$ 16,50
Desconto do ticket refeição de 20 % para 5 %
30 % de risco de vida em março de 2012
Plano de saúde para o vigilante e os dependentes

Fonte: Sindicato dos Vigilantes de Niterói e Região

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Sem igualdade não há novo modelo de desenvolvimento

Rosane Silva *


 
Este ano para celebrar o 8 de março mais do que nunca estaremos sintonizadas com as bandeiras históricas da CUT.



Nesse mês será lançada a campanha por Liberdade e Autonomia Sindical da nossa Central e estaremos nas ruas para lutar por um novo modelo de sociedade e afirmar que o centro da nossa pauta é a disputa por um modelo desenvolvimento sustentável com distribuição de renda, valorização do trabalho, liberdade e autonomia sindical e igualdade entre mulheres e homens.



Para nós desenvolvimento sustentável é o direito de todos e todas ao emprego, a terem condições de produzir e comercializar com dignidade, a possibilidade de crescimento pessoal, e também o direito ao tempo livre onde o resultado do trabalho não seja apropriado pelo capital.



Mais da metade da classe trabalhadora desempregada são mulheres, o que demonstra uma nítida desigualdade de oportunidades entre os sexos e a importância de uma agenda de crescimento econômico que gere empregos, de qualidade, nos quais as mulheres também estejam contempladas.



Esses dois temas reafirmam a centralidade do tema trabalho na luta das mulheres cutistas e a importância de estarmos inseridas nos debates gerais da central enfatizando que a classe trabalhadora tem dois sexos e que isso, em uma sociedade patriarcal e capitalista como a nossa, resulta em discriminação das mulheres no acesso, permanência e ascensão no mercado de trabalho.



As mulheres conquistaram avanços importantes ao longo da história, o Brasil tem uma Presidenta da República! No entanto um olhar mais cauteloso deixa evidente que para o conjunto das mulheres, principalmente as trabalhadoras, a discriminação ainda se faz presente no nosso cotidiano, e há muito a ser transformado para que possamos de fato construir uma sociedade livre do patriarcalismo.



Este ano até o final do primeiro semestre teremos dois grandes desafios a serem enfrentados: a) Garantir presença política e visual da CUT na Rio + 20 onde serão debatidos temas importantes para o mundo, mas em particular para as mulheres. Temas como a privatização da água, soberania alimentar, inundação de áreas em função de grandes obras são apenas alguns dos exemplos; b) Demonstrar na prática que nossa central tem um real compromisso com a construção da igualdade e aprovar a proposta de paridade no 11º CONCUT e eleger a próxima direção nacional com representação igualitária dos sexos.



No segundo semestre teremos a 1ª Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente. É importantegarantir que as delegadas cutistas estejam presentes e se articulem com nossos companheiros para que na 1ª Conferência Nacional de Trabalho Decente haja efetivo compromisso com a pauta apresentada pelas cutistas.



Para reverter o quadro de desigualdades são necessárias políticas de elevação da renda, a exemplo da política de valorização do salário mínimo, o combate à diferenciação do trabalho por sexo, que confina as mulheres em guetos, a ratificação da Convenção 189, que trata do direito das trabalhadoras domésticas, a implementação de políticas públicas de apoio à reprodução social, como creches e de cuidado aos idosos.



O projeto de desenvolvimento para o Brasil com distribuição de renda e valorização do trabalho que vem sendo pautado pela CUT deve considerar a condição social das mulheres e sua situação no mercado de trabalho, ou seja, precisa ter como eixos a geração de empregos com qualidade e a garantia de políticas públicas de distribuição de renda.



Por isso a CUT organiza as mulheres – para mudar a vida de toda a classe trabalhadora, homens e mulheres, e construir uma sociedade de fato justa e igualitária. Este desafio passa por uma questão central que é a construção de um projeto de desenvolvimento para nosso país que incorpore a luta das mulheres.



Mobilizar o conjunto da classe trabalhadora e dos movimentos sociais em torno dessa agenda é uma tarefa central para todas/os sindicalistas que acreditam que, para mudar o mundo, é preciso mudar a vida das mulheres.



Para que possamos transformar radicalmente a estrutura de nossa sociedade, é de fundamental importância que a luta por igualdade entre homens e mulheres seja incorporada enquanto uma luta de toda a classe trabalhadora


 


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* Rosane Silva é Secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT

Fonte: Rosane Silva

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ESPECIAL MÊS DA MULHER: E no início era o lar…

Rita da Costa Pereira *


 


Nada mais atual do que a frase de Simone de Beauvoir quando afirmou que nós não nascemos mulheres, mas nos tornamos mulheres. Com funções e responsabilidades definidas socialmente em cada tempo histórico. No palco da vida “encenamos” nossos papéis, criados de acordo com as necessidades de cada tempo, de cada sociedade, de cada cultura. Esses papéis são laboriosamente pensados e construídos, e assim permanecerão até que o tempo devido os transforme.



Os dados do último senso do IBGE, do ano de 2010, nos mostram o trabalho do tempo. Ele traz, em números, informações surpreendentes quanto à consolidação da presença feminina no espaço público brasileiro. Em nosso país, quase 40 % das famílias são chefiadas por mulheres, ou seja, de cada dez famílias, quatro têm chefia feminina. Mas esse não é o único dado que surpreende. As mulheres brasileiras têm mais anos de escolaridades, em comparação aos homens, estão optando pela maternidade mais tardia e diminuindo o número de filhos. Cada vez mais autônomas em relação aos homens, tornam-se senhoras de seus destinos, quando foram, durante décadas, muitas vezes apenas “Rainhas do lar”.



Tais dados refletem a mudança da mentalidade social brasileira que cada vez abre mais o espaço público para a mulher. Mudanças pressionadas pelos movimentos sociais, sempre preocupados com a igualdade de gêneros.



A ideia do espaço privado como o local de realização do feminino, e do público como espaço masculino, é uma construção social que começou a se delinear no século XVIII. Apesar de sempre ter sido contestada por homens e mulheres, essa ideia tomou corpo e se consolidou com o discurso natural da gestação. Como geradora de vida, as mulheres se tornaram quase que automaticamente as únicas responsáveis pela educação e criação dos filhos. Foi para isso que foram criadas. O corpo frágil foi criado para a gestação e a amamentação. Este discurso se fez presente no Estado, nas escolas, nas Igrejas e nas instituições civis. Aos homens coube a responsabilidade de proteger suas mulheres e filhos e assegurar a manutenção da casa.



Aceitos por homens e mulheres, esses papéis foram empurrando cada vez mais as mulheres para o espaço privado, tornando-as as “Rainhas do Lar”. Aprender a costurar, lavar, passar, cozinhar, bordar, era pré-requisito para qualquer jovem que quisesse se casar. Mesmo que a jovem não desejasse o matrimônio, o discurso social dividia homens e mulheres em campos distintos. Os limites eram invisíveis, mas não despercebidos.



No mercado de trabalho, as profissões femininas tinham uma “marca” ligada à característica do seu papel social de mãe e esposa. Profissões como a de professora, secretária, costureira, enfermeira eram vistas como extensões das atribuições femininas no lar, e por isso eram aceitas pela sociedade. Elas não comprometiam a imagem feminina e eram condizentes com suas atribuições domésticas. Poucas ousaram romper esses limites, mas houve quem o fizesse. Em todos os tempos históricos tivemos mulheres presentes no mercado de trabalho, lutando para conquistar o espaço público, restrito aos homens.



Mesmo sem comprometer a imagem de seu papel social, essas profissões acabaram por estender o espaço público às mulheres. Aos poucos, com o consentimento social, elas abriram a porta da rua e foram em busca de sua realização. Organizaram-se em associações, sindicatos, partidos políticos, e, com determinação, entraram nas universidades, nos hospitais, tribunais, aviões.



Às vezes me pego pensando no que pensaria minha bisavó sobre essas mudanças. Com certeza ela me diria, horrorizada, que este mundo está perdido. Onde já se viu mulheres pilotando avião, dirigindo ônibus?



Recentemente uma matéria veiculada por um grande jornal brasileiro mostrou que a demanda por profissionais especializados na construção civil em nosso país está levando centenas de mulheres a se especializarem em colocação de azulejos, pisos, instalações elétricas e hidráulicas. O que mais me chamou a atenção é que as construtoras dão preferência às mulheres para este serviço. Não mais como nos séculos passados, quando as fábricas contratavam mulheres por serem mão de obra mais barata, mas pela competência e qualidade do trabalho realizado.



É interessante perceber as mudanças no mundo do trabalho. E pensar que aquelas que foram um dia “Rainhas do Lar” hoje avançam como profissionais competentes na construção de lares!



Conquista mais do que consolidada e justa do espaço público. Principalmente quando temos 40 % de mulheres brasileiras gerindo suas próprias vidas.


 


 


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* Rita da Costa Pereira é graduada em História pela Universidade Gama Filho e pós-graduada em História Contemporânea pela Universidade Cândido Mendes


 


 


 

Fonte: Rita da Costa Pereira