ANALISE-OFERTA PELA PT EXPÕE DIFICULDADES DA VIVO NO PAÍS

SÃO PAULO (Reuters) – Por trás da oferta bilionária da Sonae pela Portugal Telecom pode estar o destino da Vivo. O anúncio da operação expôs o momento delicado em que vive a maior operadora de telefonia móvel do Brasil e do hemisfério Sul, cujo comando é compartilhado entre a Portugal Telecom e a espanhola Telefonica.

Seria importante para os espanhóis assumir neste momento o controle da operação de telefonia fixa, pois eles poderiam obter ganhos de sinergia com a divisão de celulares, como já fazem as concessionárias Telemar e Brasil Telecom no país.

A Vivo está assentada sobre um tripé de problemas que precisam de solução para, ao menos, conter a perda de participação de mercado que se arrasta desde que foi criada há quase três anos, segundo analistas do setor.

Com 30 milhões de clientes registrados em janeiro, a Vivo já chegou a ter 56 por cento do mercado brasileiro, mas conta hoje com 34,5 por cento. Isso de acordo com dados de dezembro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

“É um tripé de problemas. Eventualmente os espanhóis poderiam tomar algumas decisões mais arrojadas que seriam necessárias para diminuir a perda de marketshare”, disse o consultor José Barbosa, do site Teleco, especializado em dados de telecomunicações no Brasil.

A forte expansão do mercado brasileiro de celular nos últimos anos, calcada na explosão da tecnologia européia GSM, expôs uma das pernas do tripé da crise. A Vivo acabou isolada com a tecnologia CDMA no Brasil, enquanto a Telefonica conseguiu migrar praticamente todas as suas operadoras na América Latina para o padrão europeu.

A migração é importante porque garante ganhos de escala nas compras de telefones celulares em um momento em que já se fala da concentração de investimentos em novos aparelhos de Terceira Geração (3G). O GSM, como tecnologia dominante no mundo, tem preços baixos assegurados. “Cada vez mais celular é volume”, disse Barbosa.

De acordo com uma fonte que não quis ser identificada, a Vivo consegue atualmente adquirir aparelhos por 52 dólares e, em seis meses, os terá por 45 dólares. Alguns dos fornecedores de GSM prometem, no entanto, aparelhos a 30 dólares para os mercados em desenvolvimento onde se vê forte expansão da base de usuários.

 


Buracos na cobertura

Apesar de ser a maior do país, a Vivo não tem cobertura nacional no Brasil. Esse é o segundo e maior entrave que a empresa enfrenta, apontam especialistas.

A Vivo está ausente de mercados tão importantes quanto Minas Gerais, o terceiro Estado mais rico do país, e Pernambuco, além de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte.

“A situação da Vivo é de dúvida por causa da cobertura”, disse o ex-presidente da Anatel, Renato Navarro Guerreiro, à Reuters. “Tem que preencher a cobertura nacional para competir com TIM”.

Depois de tentativas frustradas de adquirir a Telemig Celular, uma possibilidade sobre a mesa seria agora um acordo de roaming digital com a TIM.

A italiana TIM é a única empresa de telefonia móvel no Brasil com licenças para atuar nacionalmente. Ela tinha 20,2 milhões de usuários em dezembro e se mantinha como segunda operadora com 23,4 por cento do mercado total de 86,2 milhões de celulares em funcionamento.

 


Cortes e saídas

O que completa o tripé problemático da Vivo é a administração compartilhada. Um exemplo recente das dificuldades nesse âmbito foi a seleção do novo presidente, o brasileiro Roberto Lima, que substituiu o português Francisco Padinha. A decisão demorou seis meses para sair, em meio a nomes recusados de ambos os lados, segundo relatos de pessoas próximas à situação.

O acordo de acionistas dá à Portugal Telecom o direito de nomear o presidente-executivo, com o aval do sócio espanhol, a quem cabe indicar o presidente do Conselho de Administração, hoje com o brasileiro Fernando Xavier Ferreira, que também comanda o grupo Telefonica no país.

O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros acredita que a tomada de decisões possa ficar facilitada com um eventual controle dos espanhóis.

“Havendo mando empresarial, com controle centralizado, é mais fácil”, disse. “Hoje ainda são os portugueses que têm o mando executivo, mas (com a venda) mudaria o rumo da gestão, as decisões tecnológicas seriam outras”, afirmou.

Com a perda de mercado, a empresa enxugou seu generoso orçamento de marketing e nos últimos meses perdeu dois executivos de projeção –o português Luis Avelar, que ocupava a vice-presidência de Marketing, e Alberto Ferreira, que deixa agora a Vivo Empresas.

 


(Por Renata de Freitas – Yahoo Notícias – em 8/fev)

 

 

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