Superintendente de RH do Santander ouve denúncias em reunião com sindicalistas do Rio

Na última sexta-feira, dirigentes do Seeb-Rio tiveram uma reunião com a superintendente de RH e Relações Sindicais do Santander, que estava no Rio de Janeiro, e discutiram vários problemas que o banco tem causado aos funcionários cariocas. Os dirigentes interpelaram a executiva sobre as demissões no Rio de Janeiro entre janeiro e maio – que já se aproximam de duzentas – e também sobre outras questões que têm chegado ao sindicato através de denúncias dos bancários.

O Santander voltou a demitir muito em todo o país e o número de funcionários do banco chegou, em março, ao patamar mais baixo desde 2012 – enquanto o banco vem crescendo solidamente no mesmo período. A operação brasileira contribui com 26% de todo o lucro mundial do grupo, segundo informações fornecidas durante a última reunião dos acionistas. Só no primeiro trimestre de 2017 o banco espanhol teve um aumento de 37,3% no seu lucro, em comparação ao mesmo período do ano passado, contra 18% do Itaú e 13% do Bradesco.

As demissões não são danosas só para os bancários que perdem o emprego, mas também para os que ficam. A sobrecarga de trabalho nas agências está aumentando, principalmente na área operacional, que é onde acontece a maioria das dispensas. “O Santander diz que tem controle de quantos clientes e usuários procuram atendimento presencial nas agências e que este número diminuiu por causa do aumento da utilização de meios eletrônicos e digitais. O banco só não menciona que ainda há triagem, com segregação das operações que podem ser realizadas nos guichês e as que são desviadas para meios eletrônicos e correspondentes bancários. E, de qualquer modo, há muita demanda de serviço nas rede”, destaca Marcos Vicente, diretor do Seeb-Rio.

No caso do Rio de Janeiro esta situação é mais grave, porque há leis que obrigam os bancos a receber, nos guichês de caixa, boletos de concessionárias de serviços públicos e impostos e taxas – lei a municipal já está em vigor e a estadual passa a valer dia 14. Os bancos se apoiavam numa resolução do Banco Central que os obrigava a receber contas de água, luz, gás e telefone somente se tivessem convênio com as concessionárias, mas as leis passam por cima destas normas e obrigam a receber todas. “Com esta mudança, bancos não poderão mais se recusar a realizar estas operações e isto vai fazer o movimento nas agências aumentar”, prevê Marcos Vicente.

A sobrecarga de trabalho também está obrigando bancários a fazer hora-extra e, como o banco penaliza as unidades em que há trabalho além da jornada, são forçados a compensar. Mas a compensação nunca é favorável aos empregados. O trabalhador não pode propor ao seu gerente a compensação num dia que tenha algum compromisso. “Muitas vezes o bancário chega na agência e o gestor pede a ele para fazer hora antes de marcar o ponto, para compensar as horas-extras realizadas. Também temos recebido denúncias de que tem gente que é obrigada a tirar duas horas de almoço, ou até mais, para compensar”, informa o sindicalista.

O problema é um círculo vicioso, porque a compensação de um é a sobrecarga de outro e o acúmulo de funções está se tornando cotidiano das agências do Santander. “É comum que Coordenadores e Gerentes de Atendimento abram guichês de caixa para dar conta do serviço”, informa Marcos.

Saúde ou cargo?

No Call Center também há problemas. Os gerentes que atendem aos clientes do serviço Digital não estão trabalhando sob as regras que regem o trabalho em teleatendimento. Eles não trabalham seis horas, com 20 minutos de almoço, uma pausa de 10 minutos e sem restrições para idas ao banheiro, como os demais empregados do setor. Como têm função gerencial, trabalham oito horas e têm uma hora de almoço, sem direito a pausas. “O volume de trabalho é imenso. Recebemos denúncias de que nem intervalo para banheiro eles conseguem tirar, há bancários que ficam quatro horas na sua estação de trabalho, saem para almoçar e voltam para mais quatro horas sem pausa”, relata Fátima Guimarães, funcionária do Call Center e diretora do Seeb-Rio.

O banco diz que não está infringindo nenhuma lei, já que os funcionários têm cargo de gerência e podem ter jornada de 8 horas. Mas o entendimento dos sindicalistas é de que a natureza da atividade deve determinar as regras a serem obedecidas, não o nome da função. “Não importa o cargo. Importa que o trabalhador fica oito horas por dia atendendo telefone e digitando, somente com o intervalo de almoço. Se, pelo menos, tivessem condição de fazer intervalos para ir ao banheiro e um breve coffee-break, seria menos problemático. Mas o que vemos é uma situação que põe em risco a saúde destes trabalhadores, que é o que as normas procuram proteger”, argumenta Fátima. “Os funcionários reivindicam a volta da pausa de 15 minutos ao longo da jornada, que foi retirada. E, para isso, o banco precisa contratar mais bancários, porque o problema é que a sobrecarga de trabalho não permite que o pessoal se levante da cadeira nem por um minuto”, critica a sindicalista.

Pressão para voltar

Outro problema relatado pelos dirigentes durante a reunião com a superintendente do RH é relativo aos bancários que se afastam para tratamentos de saúde por mais de 15 dias. Quando um médico assistente recomenda mais de duas semanas de repouso, o bancário precisa se afastar pelo INSS, mas as perícias demoram muito para serem marcadas e, muitas vezes, a licença acaba antes. O decreto 8691/16 prevê que o funcionário que tiver melhora de seu quadro de saúde pode retornar ao trabalho mesmo antes de feita a perícia, caso esteja em condições de reassumir suas funções. Isto não é uma obrigação do empregado, apenas uma permissão.

Mas o banco está interpretando a legislação a seu modo e pressionando os bancários a reassumir suas funções, independente de seu estado de saúde. “Recebemos denúncias de que os bancários recebem telegramas em que são orientados a procurar o médico do trabalho para realizar exame de retorno e voltar a trabalhar, como se fossem obrigados. O tom é de intimidação, já que o banco diz que vai punir quem não atender à convocação”, relata Marcos Vicente.

Segundo o dirigente, a superintendente de RH ficou de verificar o que está acontecendo e dar um retorno ao Seeb-Rio.