Santander demite 22 e Sindicato paralisa Realzão

O principal prédio administrativo do Santander no Rio de Janeiro, conhecido como Realzão, não teve expediente na manhã desta sexta-feira,20. O Seeb-Rio e a Fetraf-RJ/ES paralisaram as atividades no local devido à intransigência do banco em negociar a demissão de mais de 22 funcionários de um mesmo setor, ocorrida no último dia 10.

Os empregados demitidos têm a função de analistas, sendo responsáveis pelo apoio técnico às agências nas operações de crédito imobiliário, empréstimo consignado, investimentos e seguros. Assim que foram informados das dispensas, diretores do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro entraram em contato com o banco para negociar o reaproveitamento destes funcionários na rede de atendimento.

Enquanto esta reunião não acontecesse, a ordem no Seeb era não homologar as dispensas. A data-limite para a homologação terminava nesta sexta-feira, dia 20, e o banco não se manifestou a respeito. Os sindicalistas resolveram, então, paralisar as atividades para forçar o banco a dar uma resposta sobre o problema.

Tenso

A paralisação foi total: somente seguranças, pessoal de limpeza e um superintendente entraram. O banco, então, decidiu chamar a polícia. Na primeira viatura que chegou, havia apenas dois policiais, que discutiram com os sindicalistas e, em seguida, entraram no prédio. Em seguida, abriram bruscamente as portas e chamaram os bancários para entrar.

Os sindicalistas não aceitaram este desmando da polícia, discutiram com os policiais e mantiveram o piquete. Um dos PMs informou que chamaria seu superior, que não tardou a chegar. Então uma mulher, dizendo-se advogada do banco, chamou um dos policiais e disse que era pra abrir as portas do prédio. Houve mais discussão e uma viatura maior, com mais PMs, completando o efetivo em cerca de dez homens. Neste momento, os policiais entraram no prédio e fizeram um corredor para a passagem dos funcionários. “Onde já se viu uma coisa dessas, um corredor polonês para bancários entrarem para trabalhar? O Santander colocou os PMs para tratar bancários como bandidos”, critica Luiza Mendes, funcionária do Santander e diretora da Fetraf-RJ/ES.

Enquanto a confusão com os policiais acontecia, dirigentes negociavam com o RH do banco. Ficou acordado, então, que a representante de Relações Sindicais do Santander, Fabiana Ribeiro, virá ao Rio na próxima segunda-feira, para negociar o destino dos funcionários dispensados.

Com a notícia da vinda da Relações Sindicais, os dirigentes decidiram realizar uma reunião com os funcionários ali mesmo, na porta do prédio. Mais uma vez, a truculência da PM, a serviço do Santander, se fez sentir, com o policial insistindo na entrada dos empregados. Mas os sindicalistas não aceitaram encerrar a paralisação sem informar aos bancários o andamento da situação. Assim que chegou o carro de som – que vinha de outra atividade do sindicato – foram passados os informes aos bancários e o piquete foi suspenso.

Descoberta e previsão

Enquanto faziam o piquete na porta do prédio, os sindicalistas descobriram que, entre os bancários que chegavam para trabalhar, havia funcionários de agências Select que fariam um treinamento para comercialização de crédito imobiliário. “Ora, o Santander demite gente que já é qualificada e depois vai treinar quem não tem a qualificação? O banco alega que estes analistas demitidos não são treinados para vender os demais produtos de agência, mas não é mais fácil ensinar-lhes o que ainda não sabem? Não faz sentido treinar os empregados das unidades Select para fazer o trabalho dos demitidos. Seria muito mais fácil remanejá-los para agências”, critica Luiza Mendes.

Outra constatação alarmante foi a atitude do banco com relação à polícia. “Sempre que o banco chamava a PM, os policiais chegavam, tomavam conhecimento do que estava acontecendo, faziam anotações para um relatório e iam embora. Agora tivemos esta atitude de enfrentamento com os dirigentes sindicais. Um banco privado requisitar serviços de um órgão de segurança pública para intimidar trabalhadores é algo inaceitável num regime democrático. Mas, pelo que pudemos ver hoje, deve ser este o quadro que vamos enfrentar na campanha salarial”, avalia Paulo de Tarso, diretor da Fetraf-RJ/ES.