No primeiro dia desta rodada inicial de negociações, o tema discutido foi emprego. E o resultado não podia ser pior: os banqueiros negaram as principais reivindicações dos trabalhadores e usaram as piores justificativas. No caso da garantia do emprego, uma demanda fundamental dos bancários, o negociador da Fenaban, Magnus Apostólico, alegou que só haverá contratações se houver demissões. “Magnus alegou que qualquer tipo de estabilidade que sirva para fechar a porta de saída também serve para fechar a porta de entrada. E alegou também que a rotatividade do setor bancário é menor que em outros setores”, relata Nilton Damião Esperança, representante da Federação no Comando Nacional.
A discussão sobre garantia no emprego ocupou quase 90 % do debate na parte da manhã, mas os banqueiros foram irredutíveis. Segundo Nilton, o negociador dos patrões citou uma pesquisa feita pelos departamentos de RH dos bancos que revelou que, para os trabalhadores, a garantia no emprego não é uma prioridade. “Nossas consultas e pesquisas indicam o contrário, que os bancários estão muito preocupados com o emprego, e deixamos claro que não será possível fechar acordo este ano sem resolver essa questão”, argumenta Carlos Cordeiro, presidente da ContrafCUT e coordenador do Comando Nacional. A Fenaban também alegou que a estabilidade não faria bem ao sistema financeiro. No entendimento dos patrões, garantir a estabilidade dos trabalhadores engessaria as empresas.
A argumentação dos bancários na defesa da garantia de emprego se baseou na Pesquisa do Emprego Bancário, realizada pela ContrafCUT em parceria com o Dieese, a partir de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED. Segundo a pesquisa, no primeiro semestre deste ano foram contratados 30.537 bancários e demitidos 18.559. O saldo revela a criação de 11.978 novos postos de trabalho nos bancos. Mas a notícia não é boa, já que, apesar de ter contratado mais do que demitido, o sistema financeiro usa a rotatividade para rebaixar os salários, dispensando empregados com salários mais altos e admitindo outros com vencimentos em valores bem inferiores. A remuneração média dos admitidos é 38,38 % menor que a dos dispensados. Para Carlos Cordeiro, presidente da ContrafCUT, a estratégia não serve somente para cortar custos, mas também como mais uma forma de obter maior produtividade. “A ameaça de demissão paira sobre as cabeças dos bancários e serve como pressão para o cumprimento de metas abusivas e de combustível para o assédio moral”, entende o dirigente.
Correspondente
A parte da tarde foi marcada pela discussão dos correspondentes bancários e da terceirização. Os patrões insistem em defender o modelo de capilarização dos correspondentes, destacando suas vantagens. Mas os sindicalistas continuam firmes na reivindicação de que estes postos só sejam instalados em regiões remotas, onde não há agências bancárias para atender à população. Os sindicalistas entendem que a atuação de correspondentes tem servido para afastar das agências bancárias os clientes e usuários de renda menor e para precarizar o trabalho, usando não bancários para desempenhar tarefas tipicamente bancárias. O representante dos banqueiros afirmou que os trabalhadores que realizam operações de pagamentos de contas, depósitos e saques não necessitam de qualificação aprofundada e que as operações. Para a Fenaban, estas tarefas, consideradas menores, podem ser desempenhadas por qualquer trabalhador, não havendo necessidade de pagar um bancário, com piso, PLR e benefícios, para realizar este trabalho. “Magnus fez uma comparação entre os caixas de banco e os caixas de outros setores, dizendo que eles ganham 1/3 do salário dos bancários. Isso mostra claramente que os banqueiros pretendem insistir no modelo de correspondente bancário que existe hoje e na precarização do trabalho. Essa intransigência da Fenaban numa discussão tão relevante como esta, da garantia no emprego poderá atrapalhar a discussão de outros temas”, avalia Nilton Damião Esperança.
Os banqueiros também negaram a extensão de abono-assiduidade a todos os bancários e se recusaram a assinar a Carta de Vendas Responsáveis apresentada pelo Comando Nacional. “A Fenaban disse que não assina carta nenhuma que discuta assessoramento financeiro, pois, na visão deles, os bancos já praticam vendas responsáveis”, relata o dirigente.
A negociação a respeito Emprego e sobre as cláusulas sociais continua neste dia 31.
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES