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Trabalho doméstico no Brasil: quase oito milhões na invisibilidade

O tempo passa, a sociedade hoje está globalizada, interligada, os meios de comunicação, de ação social e sindical são outros, são muito mais eficientes que há 20 anos. Contudo, não caminhamos e nem avançamos tanto assim. Ainda existe escravidão no Brasil, mais de 20 mil trabalhadores, dentre eles, muitos homens, mulheres e até crianças submetidas à condição análoga a de escravos. Uma vergonha, uma chaga que precisamos por fim.  A grande maioria em áreas rurais, mas existem vários casos de trabalho escravo urbano. É nosso dever libertar esses trabalhadores do horror e do sofrimento.

A nossa história está impregnada, permeada e cheia de ranço da escravidão. O trabalho doméstico é outro que traz essa reflexão. Ele é executado por cerca de oito milhões de trabalhadores, destes, 95 % são mulheres, a maioria negras. E ainda temos mais de 300 mil crianças, na sua maioria meninas, executando a tarefa de trabalhadoras domésticas. Meninas em busca de uma vida melhor, mas tiveram a infância roubada, muitas trabalhando em troca de casa e comida. Estão fora da escola, excluídas da sociedade e são tratadas como mercadoria.

Apenas 20 % das trabalhadoras domésticas têm carteira assinada. As demais não tem esse direito mínimo garantido. Trabalham de forma precária, muitas são assediadas moralmente e sexualmente, vivem em completa invisibilidade social. O trabalho doméstico está muito longe do trabalho decente, de garantir a dignidade humana às pessoas que o executam. Trabalho desvalorizado, baixa remuneração, é como se as trabalhadoras vivessem, muitas delas, em regime de servidão.


 


Se o trabalho doméstico é fundamental para o funcionamento e fortalecimento da economia, deveria ser reconhecido como profissão e ter todos os direitos garantidos. Não podemos falar do empoderamento das mulheres, quando tantas outras mulheres são invisibilizadas, discriminalizadas e exploradas pela sociedade patriarcal, machista e capitalista.

Ratificar a Convenção 189 da Organização Internacional do Trabalho é garantir à igualdade de direitos e proteção às trabalhadoras domésticas no Brasil. É necessário que pelo menos dois países ratifiquem a Convenção para que ela entre em vigor.

Clamamos tanto por uma sociedade mais justa, igualitária e desenvolvida, porém, parece que estamos cegos, ou não queremos enxergar o óbvio: o desenvolvimento não se dá através da exploração de pessoas, principalmente quando a maioria delas são mulheres, negras, com pouco estudo. Esta reflexão deve ser feita por todo o movimento sindical, mas também por toda a classe trabalhadora do país que deve ser solidária e agir, buscando mecanismos de pressão junto ao poder público para garantir a ratificação da Convenção 189 da OIT.

O desenvolvimento se constrói com trabalho doméstico digno, com o fim da invisibilidade e o reconhecimento total de direitos. Não podemos mais tolerar desigualdade.




*Virgínia Berriel é secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RJ


 

Fonte: Por Virgínia Berriel

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Desafios sociais e ambientais

 


Frei Betto *

Documento divulgado em dezembro de 2011 pelo Projeto Milênio, que monitora os Objetivos do Milênio, estabelecidos pela ONU, constata que, na última década, o mortalidade infantil teve redução mundial de 30 % . Aumentou a escolaridade no ensino médio e diminuíram os conflitos armados.

Os principais problemas globais na atual década são as mudanças climáticas, a corrupção, o terrorismo e o narcotráfico. Em 2010, 90 % dos desastres naturais foram causados por mudanças climáticas. Ceifaram a vida de 295 mil pessoas e deram um prejuízo US$ 130 bilhões!

Em junho, o Brasil abrigará, no Rio, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Paralelo ao evento oficial, haverá a Cúpula dos Povos, que congrega os movimentos sociais e ambientalistas. A disputa será entre a “economia verde”, defendida pelos arautos do neoliberalismo, e a “economia solidária”, proposta por aqueles que acreditam que não haverá preservação ambiental sem superação do atual modelo de desenvolvimento predatório baseado da acumulação privada da riqueza.
Constata a ONU que, embora tenha havido melhoria nos itens saúde e educação, comparados às décadas anteriores, ainda hoje cerca de 900 milhões de pessoas carecem de acesso à água potável, e 2,6 bilhões não dispõem de saneamento básico (no Brasil, 34,5 milhões de pessoas vivem sem este direito elementar, segundo o IPEA).

A desigualdade entre ricos e pobres se aprofunda, informa o documento. Mais de 900 milhões de pessoas (13 % da população global) sobrevivem em extrema pobreza, e apenas 17 milhões terão saído desse estado de penúria em 2015 (cf. Banco Mundial, “Estado do Futuro 2011”).

O Projeto Milênio alerta para a importância de se promover o desarmamento, reduzir o consumo de energia proveniente de combustíveis fósseis, e combater a corrupção e o narcotráfico. A ONU calcula que o crime organizado movimenta anualmente mais de US$ 3 trilhões, o dobro do orçamento militar do mundo. E cálculos do Banco Mundial indicam que os subornos absorvem US$ 1 trilhão por ano.

Para o Projeto Milênio, os governos devem implementar medidas educacionais e de transparência para conter a corrupção. Famílias e escolas precisam incutir nos mais jovens o horror à falta de ética e a autoestima baseada no caráter. Empresas já começam a premiar com salários extras funcionários que, no sistema de Disque-denúncia, apontam a corrupção de colegas. E é preciso aumentar o controle da sociedade sobre a administração pública, como é o exemplo da Ficha Limpa no Brasil.

Para se ajustar aos Objetivos do Milênio, nosso país clama por reformas: política, judiciária, agrária e tantas outras que corrijam os desmandos que ainda imperam, resquícios de uma mentalidade colonialista que considerava cidadãos apenas aqueles que possuíam propriedades.




* Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de “O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade” (Agir). www.freibetto.org <http://www.freibetto.org>  Twitter:@freibetto.


 

Fonte: Por Frei Betto

CEF: bancários capixabas resistem ao trabalho no sábado

Agências fechadas, cartazes e faixas nas fachadas, bancários do lado de fora das unidades e pouca procura de clientes às agências da Caixa Econômica Federal. Esse foi o cenário na maioria das agências destacadas pelo banco para abrir no Espírito Santo neste sábado, 12 de maio. Numa ação sindical de resistência à tentativa de flexibilização de direitos da categoria, os bancários disseram não à imposição da empresa que, numa jogada de marketing do Programa Caixa Melhor Crédito, descumpriu a legislação e convocou os empregados de doze unidades para trabalhar.

As agências CEF Beira-Mar, Laranjeiras e Campo Grande, nos municípios de Vitória, Serra e Cariacica, respectivamente, ficaram fechadas durante todo o sábado. Outras unidades abriram no decorrer do dia devido à ação da Polícia Militar, acionada pela direção do banco. Em São Mateus, um policial federal esteve na agência e forçou a abertura.

“O que vimos durante todo esse sábado é que pouquíssimas pessoas procuraram as agências. Isso só reforça que não havia necessidade de abrir o banco num sábado. Foi um absurdo a direção da CEF ter chamado a Polícia para pressionar os empregados que não queriam entrar, o que mostra a face autoritária do Governo Dilma. Mas fica uma lição para a Caixa: nós resistiremos sempre que houver ameaças aos direitos do trabalhador”, afirma a diretora do Sindicato Rita Lima.

Apoio dos clientes

O movimento de resistência dos bancários teve apoio de vários clientes. “É um absurdo fazer os empregados trabalharem num sábado. A jornada de trabalho tem que ser respeitada. E se a Caixa começa a fazer isso, daqui a pouco outros bancos vão aderir”, afirma Dulce de Almeida, que foi à agência apenas para usar o autoatendimento.

O cliente Jonas Dias, 63 anos, procurou o banco para fazer um saque. “Sou contra abrir num sábado. Mas durante a semana, o banco deveria abrir mais cedo e colocar mais gente para atender os clientes. A gente sofre com a demora, mesmo com a senha preferencial”, afirmou.

Ademir Bacchetti, 57 anos, foi ao banco para fazer uma simulação de empréstimo habitacional e também apoiou o movimento dos bancários. “Eu vim porque vi o anúncio de que iria funcionar. Mas os bancários estão certos, se esse é o dia de descanso deles. Não vou voltar irritado pra casa (risos). Eu gostaria é que o banco abrisse mais cedo, por volta das 9 horas. Isso ajudaria muito a gente”.

Liminar

Na quinta-feira, 10, o Sindicato conseguiu uma liminar impedindo a Caixa de abrir as agências neste sábado. O juiz Luís Eduardo Couto de Casado Lima, da 6ª Vara do Trabalho de Vitória, ressaltou na sua decisão que não havia motivo de força maior e não se tratava de serviço inadiável, pois nada impede o acesso ao programa de crédito da CEF nos dias habituais, ou seja, de segunda a sexta-feira.

A Caixa recorreu ao Tribunal Regional do Trabalho, que não julgou o mérito da questão por razão de incompetência funcional e territorial. O desembargador Cláudio Armando Couce de Menezes alegou que o ato da Caixa tinha abrangência nacional, não sendo competentes os órgãos jurisdicionais locais para decidir.

Fonte: Seeb-ES

ES: Sindicato consegue na Justiça impedir abertura de agências da CEF neste sábado

O Sindicato dos Bancários/ES conseguiu no início da noite desta quinta-feira, 10, uma liminar que impede a Caixa Econômica Federal de determinar a abertura de agências no Espírito Santo no próximo sábado, dia 12 de maio. Ainda cabe recurso por parte do banco.


 


O juiz Luís Eduardo Couto de Casado Lima, da Sexta Vara do Trabalho de Vitória, ressaltou que não há motivo de força maior e não se trata de serviço inadiável, pois nada impede o acesso ao programa de crédito da CEF nos dias habituais, ou seja, de segunda a sexta-feira.


 


A decisão foi baseada no Artigo 224 da CLT e na Convenção Coletiva da categoria, que estabelecem a jornada de trabalho excluindo o sábado. Se o banco descumprir a decisão judicial, terá que pagar R$ 1 mil para cada um dos trabalhadores em atividade.


 


O Sindicato recorreu à Justiça após o anúncio de que 500 agências em todo o Brasil, sendo 12 no Espírito Santo, iriam abrir para atendimento ao Programa Caixa Melhor Crédito.

Fonte: Seeb-ES

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A face nazista da ditadura brasileira

Frei Betto*


 


 


A notícia é estarrecedora: militantes políticos envolvidos no combate à ditadura militar tiveram seus corpos incinerados no forno de uma usina de cana de açúcar em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, entre 1970 e 1980.


 


O regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985, merece, agora, ser comparado ao nazismo.


 


A revelação é do ex-delegado do DOPS (polícia política) do Espírito Santo, Cláudio Guerra, hoje com 71 anos.


 


Segundo seu depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, no livro “Memórias de uma guerra suja” (Topbooks), no forno da usina Cambahyba – de priedade de Heli Ribeiro Gomes, ex-vice-governador do Rio de Janeiro entre 1967 e 1971, já falecido –, foram incinerados Davi Capistrano, o casal Ana Rosa Kucinski Silva e Wilson Silva, João Batista Rita, Joaquim Pires Cerveira, João Massena Melo, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Eduardo Collier Filho e Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira.


 


Os militantes teriam sido retirados de órgãos de repressão de São Paulo – DEOPS e DOI-CODI – e do centro clandestino de tortura e assassinato conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis.


 


Cláudio Guerra acrescenta às suas denúncias que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, um dos mais notórios torturadores de São Paulo, teria participado, em 1981, do atentado no Riocentro, na capital carioca, na véspera do feriado de 1º. de Maio.


 


Se a bomba levada pelos oficiais do Exército não tivesse estourado no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, ceifando-lhe a vida, centenas de pessoas que assistiam a um show de música popular teriam sido mortas ou feridas.


 


O objetivo da repressão era culpar os “terroristas” pelo hediondo crime e, assim, justificar a ação perversa da ditadura.


 


Guerra aponta ainda os agentes que teriam participado, em 1979, da Chacina da Lapa, na capital paulista, quando três dirigentes do PCdoB foram executados. Acrescenta que a “comunidade de informação”, como eram conhecidos os serviços secretos da ditadura, espalhou panfletos da candidatura Lula à Presidência da República no local em que ficou retido o empresário Abílio Diniz, vítima de um sequestro em 1989, em São Paulo, de modo a tentar envolver o PT.


 


Uma das revelações mais bombásticas de Cláudio Guerra é sobre o delegado Sérgio Paranhos Fleury, o mais impiedoso torturador e assassino da regime militar, morto em 1979 por afogamento. Tido até agora como um acidente, segundo o ex-delegado, teria sido “queima de arquivo”, crime praticado pelo CENIMAR, o serviço secreto da Marinha.


 


Guerra assume ter assassinado o militante Nestor Veras, em 1975, alegando que apenas deu “o tiro de misericórdia” porque ele havia sido “muito torturado e estava moribundo”.


 


Das notícias da repressão há sempre que desconfiar. Guerra fala a verdade ou mente? Tudo indica que o ex-delegado, agora travestido de pastor adventista, não se limitou, na prática de crimes, à repressão política. Em 1982, a Justiça o condenou a 42 anos de prisão pela morte de um bicheiro, dos quais cumpriu 10 anos. Em seguida mereceu 18 anos de condenação por assassinar sua mulher, Rosa Maria Cleto, com 19 tiros, e a cunhada, no lixão de Cariacica, em 1980.


 


Ele alega inocência nos três casos, embora admita que matou o tenente Odilon Carlos de Souza, a quem acusa de ter liquidado sua mulher Rosa.


 


Espera-se que a presidente Dilma anuncie, o quanto antes, os nomes dos sete integrantes da Comissão da Verdade, que deverá apurar crimes e criminosos da ditadura. E investigar as denúncias do policial capixaba. Infelizmente a comissão ainda não será da Verdade e da Justiça.


 


O Brasil é o único país da América Latina que se recusa a punir aqueles que cometeram crimes em nome do Estado, entre 1964 e 1985. O pretexto é a esdrúxula Lei da Anistia, consagrada pelo STF, que pretende tornar inimputáveis algozes do regime militar.


 


Ora, como anistiar quem nunca foi julgado e punido? Nós, as vítimas, sofremos prisões, torturas, exílios, banimentos, assassinatos e desaparecimentos. E os que provocaram tudo isso merecem o prêmio de uma lei injusta e permanecer imunes e impunes como se nada houvessem feito?


 


O nazismo foi derrotado há quase 70 anos, e ainda hoje novas revelações vêm à tona. Enganam-se os que julgam que a Lei da Anistia, o silêncio das Forças Armadas e a leniência dos três poderes da República haverão de transformar a anistia em amnésia. Como afirmou Walter Benjamin, a memória das vítimas jamais se apaga.


 


 








* Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira”(Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org <http://www.freibetto.org> Twitter:@freibetto.

Fonte: Frei Betto

Darby Igayara faz balanço da gestão na CUT-RJ


Sindicalista bancário fez “show de bola” à frente da central


O bordão “show de bola” é uma marca de Darby Igayara, presidente da CUT-RJ. Tanto que, se uma de suas falas não for encerrada com ele, a audiência pede. E os discursos de Darby são ouvidos atentamente em todo o Rio de Janeiro, capital e interior. Nos últimos três anos, o sindicalista viajou por todo o estado, visitando sindicatos cutistas das mais diversas categorias, reaproximando a central de sua base.


Botar o pé na estrada surtiu efeito e a CUT se fortaleceu na gestão de Darby. A interiorização foi forte, com intensificação da presença junto a sindicatos de todo o estado. “Os sindicatos respondem a isso, estão recebendo mais atenção de nossa parte e dando retorno”, ressalta o presidente. Outra vitória foi a reaproximação com sindicatos que estavam distanciados, como o dos enfermeiros e dos auxiliares e técnicos de enfermagem, além da reafirmação da parceria com sindicatos já bastante próximos. “Não perdemos nenhuma eleição para chapas não cutistas em sindicatos como o dos radialistas, bancários, petroleiros do Rio, Norte Fluminense e Duque de Caxias, Sinttel, nos rurais, da construção civil de Angra, da construção pesada de São Gonçalo”, cita o sindicalista. Darby destaca ainda que houve filiação de sindicatos à CUT, como o dos Estivadores – hoje, quase todos os sindicatos de trabalhadores portuários são cutistas. Também houve ampliação do apoio a oposições em sindicatos como dos rodoviários da Baixada Fluminense e de São Gonçalo, nos Correios e na Comlurb. Darby ressalta, ainda, a proximidade com os trabalhadores informais organizados – os camelôs – e a presença forte junto aos trabalhadores domésticos de Nova Iguaçu, Volta Redonda e Rio de Janeiro, demonstrando que a CUT dá a devida importância às categorias “invisíveis” do mundo do trabalho.


O presidente da CUT-RJ considera que a marca de sua gestão foi a aproximação com os movimentos sociais e populares. O maior exemplo disso foi o apoio à organização dos trabalhadores ambulantes do município do Rio de Janeiro, que criaram dentro da CUT o Movimento Único dos Camelôs – MUCA. “Temos hoje um quadro importante, a Maria dos Camelôs, uma liderança dos trabalhadores ambulantes e dos moradores de ocupações e moradias populares, que se formou aqui com a gente, dentro da CUT”, destaca o sindicalista.


Regional e nacional


Desde o início da briga contra a redistribuição dos royalties do petróleo, a CUT tomou posição. “Estive em Brasília e questionei diretamente o deputado Ibsen Pinheiro, autor da emenda que muda a lei dos royalties. Disse a ele que esta é uma emenda oportunista”, relata Darby. Em sua gestão, a CUT se declarou publicamente a favor do Marco Regulatório do Petróleo, contra os leilões de áreas de exploração e a favor da destinação dos recursos do pré-sal de acordo com as determinações do Fundo Social do Pré-Sal. “Não estamos propondo que se mexa na política de royalties dos campos que já existem. Não se rasga contrato, não se mexe nos já licitados. Temos que discutir o futuro”, defende.


Darby faz questão de destacar, também, o apoio dado pela CUT-RJ à eleição de Dilma Roussef para a presidência. “Elegemos a primeira mulher presidenta do Brasil e a CUT-RJ participou ativamente. Montamos um comitê sindical que era o maior de todos os comitês do estado. Neste espaço, tivemos uma movimentação importante, com a presença de quadros destacados do PT, como José Dirceu, Graça Foster, Lindberg Farias, participando de debates excelente dentro do nosso comitê”, lembra o dirigente.


Mas o apoio à eleição não trouxe benesses à central. “O governo Dilma é mais técnico, mais fechado. Precisamos ampliar as discussões com o governo federal e estamos insistindo nisso, porque a CUT tem muito que contribuir”, avalia o dirigente.


Outra luta importante que a CUT vem travando é a da reforma sindical. “Se a reforma não acontecer, temos que impor algumas mudanças, como o fim do imposto e da unicidade sindical. Costumo dizer que ou o movimento sindical acaba com o imposto, ou o imposto acaba com o movimento”, defende Darby. O sindicalista ressalta que a taxa paga anualmente por todos os trabalhadores acaba estimulando a criação de entidades que não têm representação, os “sindicatos de cartório”, fundados apenas para receber seu quinhão do imposto. “Isso aconteceu muito na gestão Lupi à frente do Ministério do Trabalho, que deu reconhecimento a estes sindicatos. Esperamos que, agora, com Brizola Neto à frente da pasta, esta situação mude. Ele é um apoiador de primeira hora da candidatura de Dilma Roussef e pode vir para democratizar Ministério”, acredita Darby.


Para frente


As obras de grande porte que estão acontecendo no Rio de Janeiro e os conflitos trabalhistas decorrentes delas estão recebendo especial atenção da CUT-RJ. O maio exemplo disso foi o apoio dado à grave dos trabalhadores do Comperj, o Complexo Petroquímico da Petrobras, que está sendo construído em Itaboraí. “As empreiteiras se consorciam e se organizam para explorar os trabalhadores, pagando piso rebaixado. É por este tipo de situação que a CUT luta pelo piso nacional da construção civil”, destaca o sindicalista. As empreiteiras continuam tratando os trabalhadores como mão de obra de segunda categoria, mas o perfil dos profissionais da construção civil mudou. “O peão de hoje faz contas, sabe que está sendo explorado e isso acaba levando à greve, como aconteceu também nas obras do Maracanã”, cita Darby.


A reforma do principal estádio carioca leva também à discussão sobre os grandes eventos esportivos que vão acontecer no Rio de Janeiro. As obras e intervenções no espaço urbano estão levando transtornos a todas as partes da cidade. É o caso das comunidades que estão sendo removidas e dos imóveis residenciais – de todas as classes – e comerciais que são desapropriados para ceder espaço às vias de tráfego e equipamentos esportivos. “Estes problemas têm que ser discutidos não só com os trabalhadores que fazem as obras, mas com toda a sociedade, que está sendo afetada. Os eventos passam, mas o que eles deixam para trás?”, questiona Darby.


É também com os olhos voltados para o futuro que a CUT vai participar da Rio+20, sobretudo das atividades paralelas. Além da participação na Cúpula dos Povos – aí incluída a Marcha dos Movimentos Sociais, marcada para 20/06 – a central está se preparando para o Encontro Sindical, que acontece antes da conferência, e terá a participação de sindicalistas do mundo todo. A presença de representantes dos trabalhadores no evento que discute meio ambiente é óbvia para Darby: “Os seres humanos dependem da matéria-prima que retiram da natureza. E no processo de produção e transformação da matéria-prima, entram os trabalhadores. Daí vem a luta capital x trabalho, e temos que fortalecer a luta dos trabalhadores”, destaca. Para o sindicalista, a preocupação ambiental passa necessariamente pelo debate do trabalho e das condições de vida dos trabalhadores. “Temos, por exemplo, a questão da mobilidade urbana, que envolve saúde, moradia, transporte e geração de empregos dignos e adequadamente remunerados. Uma pessoa que mora numa comunidade sem estrutura de esgoto e coleta de lixo, que tem que pegar várias conduções para chegar ao local de trabalho, está sujeita a contrair doenças e degradar o meio ambiente. Isso se torna um problema ambiental e de saúde pública”, esclarece o presidente da CUT-RJ.


Congressos


Todas estas discussões vão passar pelo 14º CECUT, que acontece nos dias 1º, 02 e 03 de junho, no Rio de Janeiro. Além da eleição da nova diretoria – Darby é candidato à reeleição – e da definição dos delegados ao congresso da CUT Nacional, o evento terá muitos debates. As discussões passam por assuntos variados, obedecendo à orientação de manter a central sempre próxima da sociedade e destacando sua força política. “Queremos trazer o Zé Dirceu para o nosso congresso, não só pela contribuição que ele pode dar, como o quadro importante que é na esquerda brasileira. Mas também porque precisamos entrar pesado na discussão sobre as reformas no Judiciário, que criminaliza quadros históricos da política sem lhes dar o direito constitucional à ampla defesa. Este Judiciário está a serviço de interesses da elite que não aceita a ascensão dos trabalhadores, assim como a imprensa hegemônica, que se antecipa aos fatos e condena antecipadamente”, destaca o dirigente.


A briga contra o Judiciário e o chamado PIG – partido da imprensa golpista – é só um dos pontos em que fica clara a posição da CUT, que será reafirmada nos congressos regionais e no Concut. “Nós, trabalhadores, temos lado. É o lado da democracia, da garantia e da ampliação de direitos, da democratização da imprensa e do judiciário”, resume Darby.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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A terceira crise do capitalismo

 


Frei Betto *

A atual crise econômica do capitalismo manifestou seus primeiros sinais nos EUA em 2007 e já faz despontar no Brasil sinais de incertezas. 

O sistema é um gato de sete fôlegos. No século passado, enfrentou duas grandes crises. A primeira, no início do século XX, nos primórdios do imperialismo, ao passar do laissez-faire (liberalismo econômico) à concentração do capital por parte dos monopólios. A guerra econômica por conquista de mercados ensejou a bélica: a Primeira Guerra Mundial. Resultou numa “saída” à esquerda: a Revolução Russa de 1917. 


 


Em 1929, nova crise, a Grande Depressão. Da noite para o dia milhares de pessoas perderam seus empregos, a Bolsa de Nova York quebrou, a recessão se estendeu por longo período, com reflexos em todo o mundo. Desta vez a “saída” veio pela direita: o nazismo. E, em consequência, a Segunda Guerra Mundial. 


 


E agora, José?


 


Essa terceira crise difere das anteriores. E surpreende em alguns aspectos: os países que antes compunham a periferia do sistema (Brasil, China, Índia, Indonésia), por enquanto estão melhor que os metropolitanos. Neste ano, o crescimento dos países latino-americanos deve superar o dos EUA e da Europa. Deste lado do mundo são melhores as condições para o crescimento da economia: salários em elevação, desemprego em queda, crédito farto e redução das taxas de juros. 


 


Nos países ricos se acentuam o déficit fiscal, o desemprego (24,3 milhões de desempregados na União Europeia), o endividamento dos Estados. E, na Europa, parece que a história – para quem já viu este filme na América Latina – está sendo rebobinada: o FMI passa a administrar as finanças dos países, intervém na Grécia e na Itália e, em breve, em Portugal, e a Alemanha consegue, como credora, o que Hitler tentou pelas armas – impor aos países da zona do euro as regras do jogo.


 


Até agora não há saída para esta terceira crise. Todas as medidas tomadas pelos EUA são paliativas e a Europa não vê luz no fim do túnel. E tudo pode se agravar com a já anunciada desaceleração do crescimento de China e consequente redução de suas importações. Para a economia brasileira será drástico.


 


O comércio mundial já despencou 20 % . Há progressiva desindustrialização da economia, que já afeta o Brasil. O que sustenta, por enquanto, o lucro das empresas é que elas operam, hoje, tanto na produção quanto na especulação. E, via bancos, promovem a financeirização do consumo. Haja crédito! Até que a bolha estoure e a inadimplência se propague como peste.


 


A “saída” dessa terceira crise será pela esquerda ou pela direita? Temo que a humanidade esteja sob dois graves riscos. O primeiro, já é óbvio: as mudanças climáticas. Produzidas inclusive pela perda do valor de uso dos alimentos, agora sujeitos ao valor de compra estabelecido pelo mercado financeiro.


 


Há uma crescente reprimarização das economias dos chamados emergentes. Países, como o Brasil, regridem no tempo e voltam a depender das exportações de commodities (produtos agrícolas, petróleo e minério de ferro, cujos preços são determinados pelas transnacionais e pelo mercado financeiro). 


 


Neste esquema global, diante do poder das gigantescas corporações transnacionais, que controlam das sementes transgênicas aos venenos agrícolas, o latifúndio brasileiro passa a ser o elo mais fraco.


 


O segundo risco é a guerra nuclear. As duas crises anteriores tiveram nas grandes guerras suas válvulas de escape. Diante do desemprego massivo, nada como a indústria bélica para empregar trabalhadores desocupados. Hoje, milhares de artefatos nucleares estão estocados mundo afora. E há inclusive minibombas nucleares, com precisão para destruições localizadas, como em Hiroshima e Nagasaki.


 


É hora de rejeitar a antecipação do apocalipse e reagir. Buscar uma saída ao sistema capitalista, intrinsecamente perverso, a ponto de destinar trilhões para salvar o mercado financeiro e dar as costas aos bilhões de serem humanos que padecem entre a pobreza e a miséria. 


 


Resta, pois, organizar a esperança e criar, a partir de ampla mobilização, alternativas viáveis que conduzam a humanidade, como se reza na celebração eucarística, “a repartir os bens da Terra e os frutos do trabalho humano”.
 
 


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* Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Gleiser, de “Conversa sobre a fé e a ciência” (Agir), entre outros livros.
 

Fonte: Frei Betto

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Casa da sogra

 
Frei Betto *


 


Sábado, 28 de abril, comemora-se, no Brasil, o Dia da Sogra. O calendário de efemérides está repleto de dias consagrados a quase todos os galhos da árvore genealógica. Predomina, por razões óbvias, o Dia das Mães. Mãe todos temos, com certeza.

O Dia da Sogra deve ter sido incluído por proposta de algum político corrupto que, tendo escutado ofensas óbvias à sua progenitora, decidiu homenagear a mãe de sua mulher. Ou de suas mulheres, embora o calendário singularize (sogra) o que pluraliza na efeméride de maio (mães).

Sogras padecem no anedotário. “Feliz foi Adão que não teve sogra nem caminhão”, li no para-choque de uma jamanta na Via Dutra. Cinco coisas que ninguém jamais viu: cabeça de bacalhau; mendigo careca; ex-corrupto; santo de óculos; e retrato de sogra na sala.

Faz-se de um lugar ou ambiente “casa da sogra” quando alguém se julga no direito de abusar da hospitalidade de parentes ou amigos. Na casa da sogra tudo é permitido, até a má educação e a falta de higiene.

A cascata de escândalos do caso Carlinhos Cachoeira, com perdão da redundância, projeta o Brasil como a própria casa da sogra. Muitos políticos – há exceções, felizmente – adotam três discursos: o eleitoral, da captação de votos; o partidário, das articulações de bastidores; e o salafrário, para amealhar dinheiro e poder.

Inúmeros empresários e comerciantes se queixam de que, no Brasil, não se vence licitações nem se obtém recurso público sem “molhar” a mão de políticos e funcionários do governo. A prática já está incorporada às negociações entre empresas privadas ou pessoas e agentes públicos. Amigo meu, ao ver sua moto recuperada pela polícia, se espantou com a lisura do investigador, que não lhe pediu nem um centavo.

Raros os políticos brasileiros que vieram de berço esplêndido. E todos sabem quão cara é uma campanha eleitoral. Essa vulnerabilidade é a porta de entrada dos corruptores, em geral travestidos de lobistas. Aproximam-se do político e se tornam facilitadores de suas vontades e necessidades: empregos aos parentes; viagens em jatinhos; férias em locais paradisíacos; presentes caros etc.

Na primeira fase, o corruptor nada pede, apenas oferece. Demonstra um desprendimento e dedicação ao político de fazer inveja a madre Teresa de Calcutá. Essa aproximação, que socialmente faz o político passar da classe econômica à executiva, introduzido aos prazeres privativos do mundo dos ricos, cria vínculos de amizade.

A segunda fase se inicia quando o político se sente na obrigação de ser grato ao amigo. Em que posso ajudá-lo? Ora, o amigo tem seus amigos: as empresas que o abastecem de recursos para abrir caminhos na intrincada burocracia da floresta governamental. Começam então as facilitações obtidas pelo político: licitações fajutas; informações privilegiadas; nomeações convenientes; tráfico de influência etc.

A terceira fase da transformação do exercício de um mandato popular em casa da sogra é o caixa de campanha. O político não pode perder eleição. E para ganhá-la precisa de visibilidade (poucos a alcançam) e dinheiro (imprescindível). Criam-se o caixa um, legal, declarado à Justiça Eleitoral, e o caixa dois, por baixo dos panos, abastecido pelo amigo lobista e outras vias escusas.

É possível acabar com a corrupção? No coração humano, anabolizado por ambições desmedidas, jamais. Há, contudo, antídotos objetivos: financiamento público das campanhas eleitorais; controle da administração pública pela sociedade civil; ficha limpa também quanto ao patrimônio familiar acumulado; apurações rápidas e punições rigorosas aos corruptos.

Isso depende de reforma política, que o governo e o Congresso tanto protelam. Enquanto perdurar o atual sistema político, contaminado por 21 anos de ditadura militar, como a isonomia de representações estaduais no Senado, os ratos da corrupção haverão de trafegar à vontade pelos buracos do queijo suíço das maracutaias.

O Brasil deixará de ser a casa da sogra quando nossa indignação se converter em mobilização e proposta.


 


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* Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org <http://www.freibetto.org> Twitter:@freibetto.



 

Fonte: Frei Betto

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Vende-se a natureza

 


Frei Betto*

Às vésperas da Rio+20 é imprescindível denunciar a nova ofensiva do capitalismo neoliberal: a mercantilização da natureza. Já existe o mercado de carbono, estabelecido pelo Protocolo de Kyoto (1997). Ele determina que países desenvolvidos, principais poluidores, reduzam as emissões de gases de efeito estufa em 5,2 % .

Reduzir o volume de veneno vomitado por aqueles países na atmosfera implica subtrair lucros. Assim, inventou-se o crédito de carbono. Uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivale a um crédito de carbono. O país rico ou suas empresas, ao ultrapassar o limite de poluição permitida, compra o crédito do país pobre ou de suas empresas que ainda não atingiram seus respectivos limites de emissão de CO2 e, assim, fica autorizado a emitir gases de efeito estufa. O valor dessa permissão deve ser inferior à multa que o país ricos pagaria, caso ultrapassasse seu limite de emissão de CO2.

Surge agora nova proposta: a venda de serviços ambientais. Leia-se: apropriação e mercantilização das florestas tropicais, florestas plantadas (semeadas pelo ser humano) e ecossistemas. Devido à crise financeira que afeta os países desenvolvidos, o capital busca novas fontes de lucro. Ao capital industrial (produção) e ao capital financeiro (especulação), soma-se agora o capital natural (apropriação da natureza), também conhecido por economia verde.

A diferença dos serviços ambientais é que não são prestados por uma pessoa ou empresa; são ofertados, gratuitamente, pela natureza: água, alimentos, plantas medicinais, carbono (sua absorção e armazenamento), minérios, madeira etc. A proposta é dar um basta a essa gratuidade. Na lógica capitalista, o valor de troca de um bem está acima de seu valor de uso. Portanto, tais bens naturais devem ter preços.

Os consumidores dos bens da natureza passariam a pagar, não apenas pela administração da “manufatura” do produto (como pagamos pela água que sai da torneira em casa), mas pelo próprio bem. Ocorre que a natureza não tem conta bancária para receber o dinheiro pago pelos serviços que presta. Os defensores dessa proposta afirmam que, portanto, alguém ou alguma instituição deve receber o pagamento – o dono da floresta ou do ecossistema.

A proposta não leva em conta as comunidades que vivem nas florestas. Uma moradora da comunidade de Katobo, floresta da República Democrática do Congo, relata:

“Na floresta, coletamos lenha, cultivamos alimentos e comemos. A floresta fornece tudo, legumes, todo tipo de animal, e isso nos permite viver bem. Por isso que somos muito felizes com nossa floresta, porque nos permite conseguir tudo que precisamos. Quando ouvimos que a floresta poderia estar em perigo, isso nos preocupa, porque nunca poderíamos viver fora da floresta. E se alguém nos dissesse para abandonar a floresta, ficaríamos com muita raiva, porque não podemos imaginar uma vida que não seja dentro ou perto da floresta. Quando plantamos alimentos, temos comida, temos agricultura e também caça, e as mulheres pegam siri e peixe nos rios. Temos diferentes tipos de legumes, e também plantas comestíveis da floresta, e frutas, e todo de tipo de coisa que comemos, que nos dá força e energia, proteínas, e tudo mais que precisamos.”

O comércio de serviços ambientais ignora essa visão dos povos da floresta. Trata-se de um novo mecanismo de mercado, pelo qual a natureza é quantificada em unidades comercializáveis.

Essa ideia, que soa como absurda, surgiu nos países industrializados do hemisfério Norte na década de 1970, quando houve a crise ambiental. Europa e EUA tomaram consciência de que os recursos naturais são limitados. A Terra não tem como ser ampliada. E está doente, contaminada e degradada.

Frente a isso, os ideólogos do capitalismo propuseram valorizar os recursos naturais para salvá-los. Calcularam o valor dos serviços ambientais entre US$ 16 e 54 trilhões (o PIB mundial, a soma de bens e serviços, totaliza atualmente US$ 62 trilhões). “Está na hora de reconhecer que a natureza é a maior empresa do mundo, trabalhando para beneficiar 100 % da humanidade – e faz isso de graça”, afirmou Jean-Cristophe Vié, diretor do Programa de Espécies da IUCN, principal rede global pela conservação da natureza, financiada por governos, agências multilaterais e empresas multinacionais.

Em 1969, Garret Hardin publicou o artigo “A tragédia dos comuns” para justificar a necessidade de cercar a natureza, privatizá-la, e assim garantir sua preservação. Segundo o autor, o uso local e gratuito da natureza, como o faz uma tribo indígena, resulta em destruição (o que não corresponde à verdade). A única forma de preservá-la para o bem comum é torná-la administrável por quem possui competência – as grandes corporações empresariais. Eis a tese da economia verde.

Ora, sabemos como elas encaram a natureza: como mera produtora de ‘commodities’. Por isso, empresas estrangeiras compram, no Brasil, cada vez mais terras, o que significa uma desapropriação mercantil de nosso território.


 



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* Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo Barros, de “O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade” (Agir), entre outros livros.
www.freibetto.org <http://www.freibetto.org> Twitter:@freibetto.

Fonte: Frei Betto

Coletivo LGBT da CUT-RJ realiza seminário sobre visibilidade

As dificuldades enfrentadas por trabalhadores e trabalhadoras homossexuais e transgêneros são tema do seminário “Visibilidade LGBT e o mundo do trabalho”, promovido pelo Coletivo LGBT da CUT-RJ em parceria com a Secretaria de Formação da entidade. O evento acontece nos dias 08, 09 e 10 de maio no auditório do Sindicato dos Bancários, sempre às 18h. A organização é do Seeb-Rio e do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais – Sisejufe-RJ.

O seminário foi uma resposta à necessidade identificada pelo Coletivo LGBT de mostrar que há muita discriminação, mesmo que velada, o que vem preocupando os integrantes do grupo. “Discutir visibilidade também é adotar ações afirmativas que concretizem as ideias”, defende Adilson Barros, do Seeb-Rio, membro do Coletivo. O dirigente vai além e aponta que esta postura tem que ser adotada pelo próprio movimento sindical cutista. “A CUT abraça a luta, mas pouco tem sido feito. Não vamos para a rua, nem participamos do movimento LGBT”, destaca Adilson.

A questão da visibilidade é sensível até mesmo entre os bancários, uma das categorias que primeiro buscaram revelar o perfil de seus integrantes. A pesquisa “O Rosto dos Bancários”, realizada pelo Dieese para a CNB em 2001, foi pioneira e serviu de base para o “Mapa da Diversidade”, pesquisa realizada pela Febraban em resposta à demanda do movimento sindical. Mas a abordagem da orientação sexual nestas pesquisas é tímida e o medo da discriminação continua impedindo muitos trabalhadores e trabalhadoras LGBT de revelarem publicamente nos questionários e no dia-a-dia nos locais de trabalho. “Não temos nenhuma garantia de que, se tornarmos pública nossa orientação sexual, não haverá discriminação. Hoje temos gays assumidos em algumas profissões em que o homossexualismo é aceito, como telemarketing e na indústria da moda e da beleza. Mas sabemos que, por exemplo, uma trabalhadora lésbica que não costuma usar muitos acessórios, maquiagem e enfeites, vai usá-los num primeiro emprego, para evitar ser discriminada”, destaca Adilson Barros.

Em perigo

Além da inclusão no mercado de trabalho, foco principal do seminário, a questão da homofobia certamente será abordada, já que a criminalização do preconceito e da violência contra os homossexuais é uma das principais bandeiras do movimento LGBT.

Neste campo, o Rio de Janeiro tem uma situação atípica. A violência homofóbica no estado é menos frequente, apesar de alguns casos como o do adolescente Alexandre Ivo, torturado e morto por skinheads em São Gonçalo em junho de 2010, e do jovem baleado no Arpoador em novembro do mesmo ano por um PM. “O Rio nem entra na pesquisa, porque os casos são poucos em comparação com o resto do país. Mas, como a homofobia é constatada no registro da ocorrência na delegacia, pode ser que os homossexuais do estado não estejam fazendo registro”, especula o dirigente bancário.


 


Outra hipótese é de que o índice baixo seja resultado do empenho do governo estadual na implantação do programa Brasil sem Homofobia. “Pode ser que o trabalho da secretaria [de Assistência Social e Direitos Humanos] esteja tão bom que está surtindo efeito. O programa é federal, vem desde o governo Lula, mas aqui no Rio o trabalho tem sido muito eficiente. Inclusive, a ação que motivou o reconhecimento do casamento gay pelo STF foi ajuizada pelo governo do estado”, lembra Adilson.


 


Veja abaixo a programação:


 


Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES