Ninguém tem o direito de comemorar o 31 de Março

Por Almir Aguiar *


 


Os algozes da ditadura militar e seus seguidores, muitos deles atualmente entrincheirados em blogs e em associações, a bradar contra a democracia voltam a promover um ato no Clube Militar do Rio de Janeiro para comemorar os anos de chumbo, repressão e tortura. As viúvas da ditadura defendem o golpe militar de 31 de março de 1964, que teve o apoio da burguesia imperialista. Implantaram uma ditadura em nosso país e querem agora se utilizar da liberdade de expressão, fruto da nossa luta e de muitos companheiros que deram a vida por ela, hoje garantida pela Constituição soberana e democrática de 1988, para festejar os 48 anos do início de um golpe que manchou de sangue a História do Brasil.

Nós, militantes pela democracia, que lutamos para que o governo federal implante uma Comissão da Verdade capaz de recuperar para o povo brasileiro a sua história, também vamos nos manifestar. Em artigos e em atos públicos denunciaremos os crimes daqueles que destituíram um governo legitimamente eleito pelo povo em 1960 e, tendo como desculpa a salvação do Brasil do “perigo da ditadura comunista”, sufocaram a liberdade, suprimiram as eleições livres, prenderam e torturaram trabalhadores, estudantes, intelectuais, sequestraram, mataram e desapareceram com os corpos de centenas de brasileiros de todas as idades, que ofereceram à Pátria os seus melhores anos, as suas vidas, os seus ideais.


 


Nós, bancários, sempre na vanguarda do sindicalismo e ativos participantes dos movimentos sociais libertários, também demos a nossa dolorosa contribuição ao resgate da democracia,  com as vidas de muitos trabalhadores bancários. Nos remetemos sempre à figura do bravo companheiro Aluisio Palhano Pedreira Ferreira, ex-presidente do Sindicato dos Bancários,  preso, torturado e cujo corpo  jamais foi encontrado.


 


Todo país, cada povo, tem o direito de conhecer a sua trajetória, de honrar a sua memória. Nações do mundo todo que passaram por ditaduras reconstruíram, a seguir, os fatos históricos, condenando à prisão ou ao limbo do esquecimento aqueles que ousaram se insurgir ilegalmente contra a vontade do povo.
Que o Brasil possa vir a conhecer a realidade do que se passou entre 1964 e 1985. Que possamos ter uma Comissão da Verdade representativa, capaz de reconstruir com serenidade os atos e fatos que se abateram sobre o nosso país durante o longo período em que a ditadura militar reinou violentamente, suprimindo, entre outras, a liberdade de expressão, de reunião e da livre manifestação do pensamento.


 


Se a história oficial é a dos vencedores, a deles, a dos golpistas de 64, acabou em 1985. Apesar de todos os entraves e obstáculos que até agora vêm retardando a sua instalação, que venha imediatamente a Comissão da Verdade, independentemente de ser mantida ou não a Lei da Anistia. Uma coisa não exclui a outra. O tempo passa e os dias não se repetem.


 


A democracia que foi conquistada com sangue, prisões, torturas e exílios garante a liberdade de expressão. Mas será que a liberdade dá direito a nazistas comemorarem o holocausto e a militares brasileiros, de pijama, festejarem o golpe e a ditadura? Inaceitável. Ninguém tem o direito de comemorar as anomalias da história que foram extirpadas com o mais alto preço da vida humana.

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*Almir Aguiar é presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.

Fonte: Almir Aguiar