Eleições no SantanderPrevi tiveram votação descasada

A surpresa na eleição para representante dos participantes nos conselhos do Santander Previ foi a vitória de candidatos de grupos diferentes para cada cargo. Patrícia Bassanin Delgado foi eleita para o Conselho Fiscal, mas Orlando Puccetti Jr. foi derrotado na disputa da vaga para o Conselho Deliberativo. Embora a votação não fosse em chapa, Patrícia e Orlando, apoiados pelo movimento sindical, fizeram campanhas juntos contra os candidatos da confiança do banco.

A escolha de representantes dos participantes no SantanderPrevi sempre foi problemática, com o banco sempre dificultando o acesso aos processos eleitorais. Desde que comprou o Real em 2007 – uma operação internacional que envolveu o holandês ABN Amro, adquirido por um consórcio de três bancos – o Santander sempre interferiu no fundo de pensão da empresa. Em 2009, ainda antes da fusão das duas instituições ser concluída, o patrocinador alterou regras do fundo. Além de sofrerem perdas financeiras e de poder de decisão, os participantes foram obrigados a assinar um Termo de Concordância. Quem não assinasse, teria suas contribuições congeladas, ficando impedido até de fazer aportes em sua própria conta.

Em 2011, já com a fusão concluída, foi realizado um processo eleitoral em que foram impostas tantas exigências para a candidatura de representação do funcionalismo que não houve empregados dos andares de baixo aptos a concorrer. Todos os candidatos eram gestores, com cargos executivos, fiéis à alta direção. Por força de ações judiciais a eleição foi cancelada e somente agora foram realizadas novas, desta vez com possibilidade de acesso a candidatos mais representativos.

Caixa Preta

Há anos os participantes lutam para ter acesso às informações e algum controle sobre os procedimentos adotados. Já passaram por um prejuízo grande – em valores atualizados, em torno de R$ 60 milhões – em 2012/2013 com a compra e venda logo em seguida de títulos que tiveram mau desempenho no mercado. “É suspeito que a venda tenha sido realizada cerca de trinta dias depois da compra. Mesmo com o título dando prejuízo, com o tempo, este rombo podia ser diminuído. Alguém perdeu – os participantes – e alguém ganhou com esta operação. Os participantes só descobriram porque os benefícios dos aposentados começaram a cair”, lembra Orlando.

Os participantes recorreram à Previc – Superintendencia Nacional de Previdencia Complementar, que autuou o fundo, e ao Ministério Público Federal, que entrou com ação e multou responsáveis e definiu que haja ressarcimento dos prejuízos. Os funcionários e aposentados reivindicam, hoje, que o banco, como patrocinador do fundo, se responsabilize por ressarcir os valores, uma vez que os participantes não podem fazê-lo, porque isto seria perder duas vezes.

Descasada

Pelas regras atuais banco já tem direito a indicar dois terços da composição de cada conselho. A eleição garante apenas 1/3 das vagas para representantes eleitos pelos participantes. “Mesmo sendo voto vencido, a presença de um representante legítimo assegura pelo menos que tenhamos acesso às informações, para que tomemos providências a tempo de evitar problemas. Mas o banco quer a hegemonia das decisões”, critica Orlando Puccetti Jr., funcionário aposentado e candidato derrotado ao Conselhor deliberativo.

Com a eleição de Patrícia Bassanin Delgado para o Conselho Fiscal e a derrota de Orlando Puccetti Jr. para o Conselho Deliberativo, surgem suspeitas sobre a ação dos gestores sobre a vontade dos funcionários. “Não faz sentido que ela tenha sido eleita e eu, não. A campanha foi conjunta, um fazendo campanha para o outro, porque a base era uma dupla, para que tivéssemos acesso aos dois conselhos”, questiona Orlando. Ao longo do processo, ficou também claro que o banco usou de todos os recursos para eleger seus candidatos. “Fui proibido de entrar na torre para fazer campanha, enquanto os candidatos indicados pelo banco tinham à disposição toda a estrutura para se comunicar com os empregados. Recebemos também denúncias de que estava havendo forte pressão, por parte de gestores regionais, para que os funcionários votassem nos nomes indicados pela direção do banco”, denuncia. “Mesmo assim, é positivo que Patrícia tenha sido eleita para o Conselho Fiscal, porque teremos alguém nosso no território proibido”, acrescenta.

 

Fonte: Fetraf-RJ/ES