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Recado das ruas

Frei Betto *



As manifestações de rua no Brasil fundem a cuca de analistas e cientistas políticos. Dirigentes partidários e lideranças políticas se perguntam perplexos: quem lidera, se não estamos lá?


Recordo quando deixei a prisão, em fins de 1973. Ao entrar, quatro anos antes, predominava o movimento estudantil na contestação à ditadura. Ao sair, encontrei um movimento social – Comunidades Eclesiais de Base, oposição sindical, grupos de mães, luta contra a carestia – que me surpreendeu. Do alto de meu vanguardismo elitista fiz a pergunta: como é possível se nós, os líderes, estávamos na cadeia?


Como essa mesma perplexidade Marx encarou a Comuna de Paris, em 1871; a esquerda francesa, o Maio de 1968; e a esquerda mundial, a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da União Soviética, em 1989.


“A vida extrapola o conceito”, já dizia meu confrade Santo Tomás de Aquino, no século 13. Agora, aqui no Brasil, todas as lideranças políticas encaram confusas e despeitadas as recentes manifestações de rua. Com a mesma interrogação invejosa que a esquerda histórica do Brasil mirou o surgimento do PT em 1980: que história é essa de, agora, os proletários quererem ser a vanguarda do proletariado?


Historicamente eram os líderes da esquerda brasileira homens oriundos da classe média (Astrogildo Pereira, Mário Alves e João Amazonas), dos círculos militares (Prestes, Gregório Bezerra, Apolônio de Carvalho) e da intelectualidade (Gorender e Caio Prado Júnior). Marighella foi das raras lideranças provenientes das classes populares.


O recado das ruas é simples: nossos governos se descolaram da base social. Para usar uma categoria marxista, a sociedade política se divorciou da sociedade civil, risco que previ e analisei no livro “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco, 2005).


A sociedade política – executivo, legislativo e judiciário – se convenceu de que representava de fato o povo brasileiro, e mantinha sob seu controle os movimentos de representação da sociedade civil, como ocorre, hoje, com a UNE e a CUT.


Nem só de pão vive o homem, alertou Jesus. Embora 10 anos de governo petista tenham melhorado as condições sociais e econômicas do Brasil, o povo não viu saciada sua fome de beleza – educação, cultura e participação política.


O governo petista optou por uma governabilidade assegurada pelo Congresso Nacional – onde ainda perduram os “300 picaretas” denunciados por Lula. Desprezou a governabilidade apoiada nos movimentos sociais, como fez Evo Morales, com êxito, na Bolívia.


Assim, nosso governo aos poucos perdeu os anéis para conservar os dedos. Acreditou que tudo permaneceria como dantes no quartel de Abrantes. Seja porque a oposição anda enfraquecida por suas próprias disputas internas, seja porque considera Eduardo Campos e Marina Silva meros balões de ensaio.


O que nem a Abin (olhos e ouvidos secretos do governo) previu foi o súbito tsunami popular invadindo as ruas do Brasil em pleno período da Copa das Confederações – quando se esperava que todos estivessem com a atenção concentrada nos jogos.


Agora o governo inventa o discurso de que sem partidos não há política nem democracia. Ora, basta uma aula de história de ensino médio para aprender que a democracia nasceu na Grécia muitos séculos antes da era cristã, e mais ainda do aparecimento de partidos políticos.


Hoje, a maioria dos partidos nega a democracia ao impedir um governo do povo com o povo. Não basta pretender governar para o povo e, assim, considerar-se democrata. O povo nas ruas exige novos mecanismos de participação democrática, enquanto manifesta sua descrença nos partidos. Estes são intimados a renovar seus métodos políticos ou serão atropelados pela sociedade civil.


Eis o recado das ruas: democracia participativa, não apenas delegativa, ou seja, governo do povo, com o povo e para o povo. Isso não é utopia, desde que não se considere modelo perpétuo o pluripartidarismo e se admita que o regime democrático pode e deve ganhar novos desenhos de participação popular nas esferas de poder.



* Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






Copyright 2013 – FREI BETTO – Não é permitida a reprodução deste artigo em qualquer  meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização do autor. Se desejar, faça uma assinatura de todos os artigos do escritor. Contato – MHPAL – Agência Literária (
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Fonte: Frei Betto

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BB: Rafael Matos é o novo Caref

Rafael Matos, candidato apoiado pela maioria dos sindicatos do país venceu as eleições para Conselheiro Administrativo Representante dos Funcionários – Caref e passará a ocupar um dos sete assentos no Conselho de Administração do BB. Rafael teve 21.081 votos e o segundo colocado, Ronaldo Zeni, teve 18.008.


Para Sérgio Farias, representante titular da Federação na CEE/BB, independente do resultado a eleição em si é uma vitória. “Foi um processo democrático, construído de maneira orgânica e com ampla participação do funcionalismo. É digno de nota, também, o alto nível de competência dos dois candidatos mais votados, Rafael e Ronaldo”, ressalta Sérgio.


William Mendes, coordenador da CEE/BB, também considera a reconquista da vaga do representante dos trabalhadores no Conselho uma vitória. “A eleição é uma conquista das centrais sindicais, capitaneada pela CUT. É um avanço importante porque dará à representação dos trabalhadores o direito de participar da instância máxima do Banco do Brasil, onde são tomadas as decisões estratégicas, desde negócios, crédito, orçamento, investimentos e remuneração dos dirigentes, dentre outras questões”, acrescenta William.


A função do Caref é ser a voz do funcionalismo no Conselho de Administração do BB, que é composto pelo presidente do banco, três membros indicados pelo governo, mais dois indicados pelos acionistas minoritários – que hoje são indicados pela Previ. Cargo semelhante existia no BB e em outras estatais até 2000, mas foi extinto por uma canetada do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Somente em 2011, através de lei específica, todas as empresas públicas ou de economia mista com mais de 200 funcionários passaram a ter direito a representação dos empregados no Conselho Administrativo, que é a mais alta instância da gestão de uma empresa. “A criação do Caref não veio de graça, foi uma conquista do movimento sindical de várias categorias, que passou dez anos reivindicando este espaço. Devemos apoiar Rafael porque ele representa todos os empregados, não só os que votaram nele. É importante que o funcionalismo entenda que este espaço é fundamental para melhorar as condições de trabalho dentro do BB”, destaca Sérgio Farias.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES com Contraf-CUT

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Contraf-CUT apoia Chapa 1 na eleição para a Fundação Itaú Unibanco

A Fundação Itaú Unibanco, que abriga os diversos planos de previdência complementar da instituição financeira, realiza entre os dias 13 a 22 de julho, até às 18h, eleição para escolha de seus representantes ao Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal e Comitês de Planos. A Contraf-CUT apoia a Chapa 1 Convicção e Experiência.


“Apoiamos a Chapa 1 porque ela é formada por companheiros e companheiras indicados pelo movimento sindical. Alguns participam da eleição pela primeira vez e outros já têm experiência na direção da Fundação Itaú-Unibanco e são os principais responsáveis pelas mudanças dos últimos oito anos que melhoraram os benefícios dos participantes”, afirma Jair Alves, da coordenação da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Itaú.


Todos os participantes (ativos, autopatrocinados, optantes pelo BPD e assistidos) poderão votar de duas formas: pelo sistema eletrônico no site da entidade (www.fundacaoitauunibanco.com.br) ou por telefone, com senha que será enviada por correio aos participantes.


Além da Chapa 1 Convicção e Experiência, a Contraf-CUT também apoia candidatos avulsos aos Comitês de Gestão de todos os planos da Fundação Itaú-Unibanco. Confira abaixo a relação dos candidatos:


Conselho Deliberativo


Efetivos
Érica Monteiro de Godoy
André Luís Rodrigues


Suplentes
Carlos Maurício de Oliveira
Cesar Gomes Caldana


Conselho Fiscal


Efetivos
Mauri Sérgio Martins de Souza
Ted Silvino Ferreira


Suplentes
José Ribamar Don Pacheco
Onísio Paulo Machado


Comitês de Gestão dos planos


Franprev – Adriano Campos Rodrigues
Plano Itaubanco CD – Darci Torres Medina (Lobão)
PAC – Marcelo Abrahão
Futuro Inteligente e Itaubank – José do Egito Sombra
Prebeg – José Geraldo Martins
Benefícios 002 – Antônio Guimarães de Oliveira (Magaiver)

Fonte: Contraf-CUT

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Bancários do Rio e Espírito Santo definem propostas para Campanha Nacional

A 15ª Conferência Interestadual dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo foi realizada no último sábado (29), no Senac de Guarapari, no litoral capixaba. Entre os principais discutidos estavam o combate ao substitutivo do deputado federal Artur Maia (PMDB-BA) ao Projeto de Lei 4330/04, do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), o atual contexto político pautado pelas manifestações populares nas ruas de todo o Brasil e a reestruturação do BB.


Os sindicalistas consideram a ampliação desenfreada da terceirização, proposta pelo projeto dos parlamentares peemedebistas, um ataque sem precedentes aos direitos trabalhistas e uma ameaça a própria existência e a organização coletiva das categorias de trabalhadores do país.


“Se depender da atual composição de forças do Congresso Nacional, os trabalhadores não vão conseguir avançar. Precisamos derrotar, com a mobilização popular, o PL 4330 e mais seis projetos em andamento no parlamento contra a classe trabalhadora”, disse o diretor do Sindicato e da CUT/RJ, Marcello Azevedo.


Ele lembra que o movimento sindical nunca deixou de realizar protestos nas ruas. “A CUT fez seis marchas em Brasília e na pauta sempre incluímos itens como saúde e educação. Vamos intensificar as mobilizações nas ruas, onde nos criamos e de onde nunca nos ausentamos”, acrescenta.


A 15ª Conferência Interestadual reuniu 530 delegados da base territorial dos dois estados e a jornada de debates durou desde as 9 horas até o início da noite.


Violência contra a mulher


Na abertura do evento foi passado um belo vídeo com imagens fortes sobre a violência contra a mulher no mundo. Segundo previsão do FBI (Federal Bureau of Investigation), o Departamento Federal de Investigação dos EUA, uma em cada três mulheres sofrerá algum tipo de violência na vida.


Almir Aguiar, presidente do Seeb-Rio, cobrou ainda igualdade de oportunidades nos bancos. “A mulher ganha menos que os homens numa mesma função e com o mesmo nível de escolaridade; e as mulheres negras são ainda mais discriminadas e recebem salários ainda menores”, denuncia.


O que foi aprovado


Entre os principais itens de reinvindicações dos bancários, a 15ª Conferência Interestadual aprovou um reajuste salarial de 10 % mais a inflação do período e uma PLR de três salários mais R$ 4.500. Foi aprovado ainda o fim das metas e do assédio moral.


Os bancários identificaram também a necessidade de avaliação dos resultados práticos da cláusula da Convenção Coletiva de Trabalho que prevê mecanismos de combate ao assédio moral.


As propostas aprovadas serão agora levadas à 15ª Conferência Nacional.


Avaliação


O secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, que é da base territorial do Sindicato dos Bancários do Sul Fluminense, sugere a realização da Conferência Interestadual em pelo menos dois dias. “Um dia tem sido impossível para aprofundar os debates da categoria”, aponta.


Para Nilton Damião Esperança, vice-presidente da Federação, mesmo curta, a conferência foi positiva: “Todas as tendências e forças políticas tiveram suas opiniões respeitadas, discutidas e votadas democraticamente”, relata o sindicalista. Nilton ressaltou que a efervescência política que o país vive é positiva para as categorias que estão iniciando suas campanhas salariais. “O entendimento de todos que participaram da Conferência Interestadual foi de que a conjuntura atual favorece nossa campanha nacional. O momento é este, temos que aproveitar esta onda de politização para dizer para os banqueiros o que queremos: mais saúde e melhores condições de trabalho, mais segurança para bancários e clientes, fim da rotatividade, das metas e do assédio moral e um salário compatível com a lucratividade dos bancos e o empenho dos bancários. Isto nos dá muita disposição de luta para a Conferência Nacional e para construirmos uma greve forte”, avalia Nilton.


A Federação vai enviar 79 delegados e 8 observadores à Conferência Nacional dos Bancários, que acontece nos dias 19, 20 e 21 de julho. Ao todo, serão 600 delegados e 61 observadores, mais os 35 membros do Comando Nacional, totalizando 696 bancários de todo o país.

Fonte: Feeb RJ/ES, com Contraf-CUT e Seeb-Rio

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Itaú não comparece a audiência na Alerj sobre demissões

Em audiência pública na Alerj para discutir as demissões, o Itaú mostrou, mais uma vez, que não dá a menor importância ao assunto. O banco foi o único convidado ausente. Já o Ministério Público do Trabalho, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego, o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e a Contraf-CUT estiveram presentes, discutindo não só as demissões, mas também outros problemas enfrentados pelos empregados do banco. “Não vamos nos conformar com a ausência do banco hoje. Vamos insistir em marcar uma reunião com os representantes do Itaú para tratar deste assunto”, anunciou o deputado Paulo Ramos, presidente da Comissão de Trabalho Legislação Social e Seguridade Social, que convocou a audiência.


Os sindicalistas demonstraram com estudos e gráficos não só as 14 mil demissões em todo o país desde a fusão com o Unibanco, mas também outras discrepâncias. “Um executivo do Itaú ganha 190 vezes mais por ano que um caixa do banco. Este bancário precisaria trabalhar 18 anos e seis meses para receber o que o executivo ganha em apenas 12 meses. Mas quem se esforça, atende público, bate metas – e adoece – é o bancário que está na agência”, aponta Miguel Pereira, Secretário de Organização da Contraf-CUT.


Cortes e precarização


Miguel também ressaltou que os correspondentes bancários precariza o trabalho não só dos trabalhadores destas empresas, mas também dos bancários. “Temos hoje no Brasil menos de 20 mil agências e postos bancários e mais de 360 mil unidades de correspondentes. É cômodo para o Banco Central transferir esta responsabilidade estatal dizendo que, com os correspondentes, está fazendo inclusão. Mas isto é uma distorção”, critica Miguel. O deputado Paulo Ramos concordou. “Vejo que as lotéricas realizam muitas operações. É uma transferência das atribuições da Caixa. Além do problema da segurança, tem também a questão da remuneração, já que o funcionário da lotérica não ganha o mesmo que um bancário. Podemos verificar se é possível, para o próximo ano, fixar o piso salarial para estes trabalhadores no estado do Rio de Janeiro”, propôs o deputado Paulo Ramos. O deputado Gilberto Palmares, que também integra a Comissão de Trabalho da Alerj, sugeriu que os parlamentares simpáticos às causas dos trabalhadores fizessem um esforço concentrado. “Podemos usar uma tática de guerrilha, atacando em muitas frentes, com vários projetos de lei para melhorar o atendimento bancário, a segurança e também para propor o horário ampliado de funcionamento das agências”, propôs Palmares.


Sobrecarga e adoecimento


Esta questão do expediente bancário foi ressaltada pela vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Adriana Nalesso. “O movimento sindical bancário sempre defendeu a extensão do horário de atendimento. Há muito reivindicamos que os bancos funcionem das 09h às 17h, com dois turnos de trabalho, para que os bancários tenham sua jornada de seis horas respeitada. O Itaú está praticando horário estendido em algumas agências, mas não só não respeita as seis horas, como impõe jornadas exaustivas aos bancários. A medida foi implantada unilateralmente e sequer serviu para abrir novos postos de trabalho. Há ocasiões em que os funcionários de algumas dessas agências chegam a trabalhar 12 horas por dia, o dobro da jornada fixada pela CLT”, ressalta Adriana.


E não é só nas agências com horário estendido que a situação dos bancários é dramática. “Só no município do Rio de Janeiro foram eliminados cerca de dois mil postos de trabalho no Itaú. Com menos funcionários, os que permanecem acabam ficando sobrecarregados. E isso se reflete na saúde do bancário. Hoje, na secretaria de Saúde do sindicato, 57 % dos bancários atendidos são do banco Itaú. E, quando este bancário adoecido é afastado pelo INSS, quem paga a conta é o Estado”, acrescenta a vice-presidenta.


Além dos custos para o INSS, as dispensas também preocupam pelo efeito que provocam na sociedade como um todo. “Estas demissões geram outros desempregos. Quando os bancários perdem o emprego, deixam de consumir e isso acaba afetando vários setores da economia, é um efeito cascata”, ponderou Vinícius Assumpção, Secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário do município e ex-presidente do Seeb-Rio.


Ninguém acredita


Uma das dificuldades que o movimento sindical enfrenta é o reconhecimento, por parte do judiciário, de que as demissões são em massa. “É difícil convencer a Justiça e o Ministério Público de que estas dispensas são, no mínimo, coletivas. Os números estão aí e mostram que há demissões de muitos trabalhadores de uma só vez. Já fizemos denúncia ao MPT sobre as demissões no Itaú, mas o processo não andou”, aponta Ronald Carvalhosa, diretor do Seeb-Rio. Sobre este ponto, o deputado Paulo Ramos fez uma proposta concreta: marcar uma reunião com o presidente do TRT-RJ. O parlamentar sugeriu ainda que o sindicato prepare um material completo para apresentar durante a reunião, com todos os dados sobre as dispensas e as iniciativas já adotadas junto ao judiciário.


Não pode


A relação entre demissões e adoecimento não passa só pela sobrecarga de trabalho. Ronald Carvalhosa destacou que o banco está se livrando de todos os trabalhadores que não interessam mais à empresa. “Além das demissões serem em massa, muitas são ilegais. Hoje mesmo atendi um bancário que foi demitido, mesmo estando ainda no período de estabilidade depois de um afastamento prolongado”, relata o dirigente. Carvalhosa também informou que o banco vem abusando da justa causa, para descartar funcionários com estabilidade, alegando razões insuficientes para a imputação da pena máxima ao trabalhador. “Os bancos podem tudo? Me parece que as ruas estão dizendo que não”, ponderou o sindicalista, fazendo referência às manifestações populares que se espalham pelo Brasil desde o início do mês de junho.


Ronald lembrou que na mesma data completavam-se 16 anos da privatização do Banerj, com a venda para o Itaú. “Precisamos discutir as privatizações. Quando as empresas públicas começaram a ser vendidas, a justificativa era que sobraria mais dinheiro para educação, saúde e segurança pública, entre outras demandas da sociedade. Mas isso não aconteceu. Podemos fazer da Alerj um pólo para discutir as mudanças que o país reclama”, sugeriu o dirigente.


Para frente


Para Miguel Pereira, da Contraf-CUT, a audiência foi positiva. “É importante fazermos esforços em várias frentes a fim de conquistar aliados para a empreitada de garantir os direitos dos trabalhadores. Os números comprovam que há demissões em massa, mas ainda dependemos de entendimento e interpretação, não há uma definição clara. Esta aproximação que houve aqui com o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego é importante para a construção do conceito de demissão em massa”, analisa o sindicalista. Ele lembra que o esforço da Contraf-CUT neste sentido gerou a liminar que suspendeu as demissões no Santander em dezembro de 2012. “Fomos até a promotora, conversamos, demonstramos os números e conseguimos convencê-la”, lembra Miguel.


Os sindicalistas concordam que esta discussão também levanta outra questão. “Temos que discutir o papel do sistema financeiro do país. Os bancos ganham muito e não dão nenhum retorno à sociedade. Que responsabilidade social é esta, principalmente do Itaú, que faz tanta propaganda dizendo que é socialmente responsável? O maior banco privado do país eliminou mais de 14 mil postos de trabalho, isto é inaceitável”, pondera a vice-presidenta do Seeb-Rio, Adriana Nalesso.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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A plebe e a nobreza

Frei Betto *


Era uma vez um reino governado por um rei despótico. Sua majestade oprimia os súditos e mandava prender, torturar, assassinar quem lhe fizesse oposição. O reino de terror prolongou-se por 21 anos.


Os plebeus, inconformados, reagiram ao déspota. Provaram que ele estava nu, denunciaram suas atrocidades, ocuparam os caminhos e as praças do reino, até que o rei perdesse a coroa.


Vários ministros do rei deposto ocuparam sucessivamente o trono, sem que as condições econômicas dos súditos conhecessem melhoras. Decidiu-se inclusive mudar a moeda e batizar a nova com um título nobiliárquico: real.


Tal medida, se não trouxe benefícios expressivos à plebe, ao menos reduziu as turbulências que, com frequência, afetavam as finanças da corte.


Ainda insatisfeita, a plebe logrou conduzir ao trono um dos seus. Uma vez coroado, o rei plebeu tratou de combater a fome no reino, facilitar créditos aos súditos, desonerar produtos de primeira necessidade, ao mesmo tempo em que favorecia os negócios de duques, condes e barões, sem atender aos apelos dos servos que labutavam nas terras de extensos feudos e clamavam pelo direito de possuir a própria gleba.


O reino obteve, de fato, sucessivas melhoras com o rei plebeu. Este, porém, aos poucos deixou de dar ouvidos à vassalagem comum e cercou-se de nobres e senhores feudais, de quem escutava conselhos e beneficiava com recursos do tesouro real. Obras suntuosas foram erguidas, devastando matas, poluindo rios e, o mais grave, ameaçando a vida dos primitivos habitantes do reino.


Para assegurar-se no poder, a casa real fez um pacto com todas as estirpes de sangue azul, ainda que muitos tivessem os dedos multiplicados sobre o tesouro real.


Do lado de fora do castelo, os plebeus sentiam-se contemplados por melhorias de vida, viam a miséria se reduzir, tinham até acesso a créditos para adquirirem carruagens próprias.


Porém, uma insatisfação pairava no reino. Os vassalos eram conduzidos ao trabalho em carroças apertadas e pagavam caros reais pelo transporte precário. As escolas quase nada ensinavam além do beabá, e os cuidados com a saúde eram tão inacessíveis quanto as joias da coroa. Em caso de doença, os súditos padeciam, além das dores do mal que os afetava, o descaso da casa real e a inoperância de um SUStema que, com frequência, matava na fila o paciente em busca de cura.


Os plebeus se queixavam. Mas a casa real não dava ouvidos, exceto aos aplausos refletidos nas pesquisas realizadas pelos arautos do reino.


O castelo isolou-se do clamor dos súditos, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Infestado de crocodilos o fosso em torno, as pontes levadiças foram recolhidas e as audiências com os representantes da plebe canceladas ou, quando muito, concedidas por um afável ministro que quase nenhum poder tinha para mudar o rumo das coisas.


Em meados do ano, a corte promoveu, com grande alarde, os jogos reais. Vieram atletas de todos os recantos do mundo. Arenas magníficas foram construídas em tempo recorde, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos que orçavam um e embolsavam cem.


Foi então que o caldo entornou. A plebe, inconformada com o alto preço dos ingressos e o aumento dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente a impunidade dos corruptos e a tentativa de calar os defensores dos direitos dos súditos contra os abusos dos nobres.


A vassalagem queria mais: educação da qualidade à que se oferecia aos filhos da nobreza; saúde assegurada a todos; controle do dragão inflacionário cuja bocarra voltara a vomitar chamas ameaçadoras, capazes de calcinar, em poucos minutos, os parcos reais de que dispunha a plebe.


Então a casa real acordou! Archotes foram acesos no castelo. A rainha, perplexa, buscou conselhos junto ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram logo reduzidos.


Agora, o reino, em meio à turbulência, lembra que o povo existe e detém um poder invencível. O castelo promete abrir o diálogo com representantes da plebe. Príncipes hostis à rainha ameaçam tomar-lhe o trono. Paira no horizonte o perigo de algum déspota se valer do descontentamento popular para, de novo, impor ao reino o regime de terror.


A esperança é que se abram os canais entre a plebe e o trono, o clamor popular encontre ouvidos no castelo, as demandas sejam prontamente atendidas.


Sobretudo, dê a casa real ouvidos à voz dos jovens reinóis que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia, para que não haja o risco de retornarem ao castelo déspotas corruptos e demagogos, lacaios dos senhores feudais e de casas reais estrangeiras.



* Frei Betto é escritor, autor de “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros.
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Fonte: Frei Betto

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Congresso dos empregados do BNDES define reivindicações

Aconteceu nos dias 21 e 22 de junho o II Congresso Nacional dos Empregados do Sistema BNDES, realizado no Clube de Engenharia. Os funcionários do banco e suas subsidiárias – FINAME e BNDESPAR – se reuniram para debater as cláusulas da minuta de reivindicações que será entregue à direção do banco. Das negociações sairão os três novos acordos aditivos – de Trabalho, Jornada e PLR.


Após aprovarem o regimento interno, os funcionários assistiram a duas palestras. A primeira foi sobre “Cenários de fechamento e saldamento de planos de pensão”, apresentada por Luciano Fazio, da Anapar. Este tema é muito oportuno, já que a previdência complementar do sistema, a FAPES, precisa passar por alguns ajustes, para evitar problemas severos num futuro próximo. A outra palestra foi sobre conjuntura econômica e foi proferida pelo economista do Dieese Cloviomar Cararine.


Em seguida, grupos de trabalho discutiram os tópicos dos três grandes eixos temáticos do evento: Pleitos econômicos; Direitos trabalhistas e garantias do empregado; e Saúde e previdência. No dia seguinte, a plenária final fechou o texto da minuta, que será submetido a aprovação em assembleia.


Entre os temas discutidos, o fundo de pensão é talvez um dos mais críticos. “As associações vão insistir na criação de um grupo de trabalho paritário para discutir a situação e as soluções para a FAPES. Uma das propostas que serão avaliadas é a de saldamento do plano atual e criação de um novo, nos moldes que já vêm sendo adotados por outros fundos”, relata Maggi.


Organização


O diretor para Bancos Públicos da Federação, Luiz Ricardo Maggi, representou a entidade no congresso, participando como convidado. Ele destaca que a organização dos empregados está evoluindo. “Temos percebido um amadurecimento no processo de construção da campanha salarial dos funcionários do banco. E, para mim, foi um aprendizado importante, já que o BNDES tem estrutura e realidade completamente diferentes do que estamos acostumados a trabalhar na Caixa e no BB”, avalia o dirigente.


As associações de funcionários do BNDES se reaproximaram recentemente do movimento sindical bancário e a realização deste segundo congresso é um dos frutos desta proximidade. As negociações têm sido acompanhadas por quadros experientes do sindicalismo e houve deflagração de greve em 2012, algo que não acontecia há muitos anos. “A Federação estará presente em todas as etapas da negociação dos acordos do BNDES, como já vem acontecendo nos últimos anos,” anuncia Maggi. A Contraf-CUT também esteve presente no congresso, representada pelo secretário de organização, Miguel Pereira, e o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, pela diretora de Bancos Públicos, Luciana Vieira.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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São Gonçalo tem nova lei que amplia segurança bancária

A partir de outubro, as agências e postos de atendimento bancário de todas as instituições financeiras localizadas em São Gonçalo terão que obedecer a novas determinações de segurança. A lei 490/2013 foi sancionada em 11 de junho e traz inovações que atendem às reivindicações que bancários e vigilantes fazem para ampliar a segurança nos estabelecimentos bancários. O projeto de lei foi proposto pelo vereador Marlos Costa (PT), o mesmo que propôs a lei da fila no município, aprovada ano passado.


A lei exige porta giratória antes do autoatendimento, equipada com detector de metais, travamento automático, vidros à prova de balas e janela para entrega de objetos; armários com chaves para os clientes guardarem seus pertences que não possam ser levados para dentro do estabelecimento; vidros blindados nas fachadas; câmeras com captação de imagens em cores e boa definição para monitoramento e gravação, dotadas de caixa de proteção e bateria de emergência, com armazenamento das imagens em local fora do estabelecimento e fácil acesso às ultimas 24 horas de gravação em todas as áreas da agência, inclusive autoatendimento; divisórias entre guichês e biombos separando a área de atendimento da área de fila, tanto no interior da agência quanto no hall dos caixas automáticos; proibição dos vigilantes realizarem qualquer tarefa que não seja de segurança e obrigatoriedade de fornecimento de colete à prova de balas, arma de fogo e arma não letal autorizada, bem como assento e escudo de proteção.


Um detalhe importante da lei é que ela inclui medidas para coibir as saidinhas, assaltos que acontecem fora das agências. O uso de biombos e divisórias impede que quem está na fila ou no guichê ao lado observe a operação que a pessoa está realizando. Outra medida prevista é a instalação de câmeras voltadas para o lado de fora da agência, permitindo identificar os assaltantes – o que sempre inibe a ação de bandidos.


Para Ademir Wiederkehr, representante da Contraf-CUT na Comissão Nacional de Segurança Bancária, a lei é um avanço. “Esta lei aprovada em São Gonçalo é baseada no modelo de projeto de lei elaborado pela Contraf-CUT e CNTV para melhorar a segurança dos estabelecimentos e combater o crime da ‘saidinha de banco’. São medidas viáveis e eficientes para prevenir assaltos e sequestros” analisa Ademir.


Trabalho conjunto


A Comissão Nacional de Segurança Bancária é formada por representantes da Contraf-CUT e da CNTV – Confederação Nacional dos Vigilantes e vem trabalhando para melhorar as condições de trabalho e atendimento das agências. O bancário Ademir Wiederkehr preside a comissão, que vem atuando junto à Fenaban, à Polícia Federal e ao Congresso Nacional para promover a criação e implementação de medidas que tornem os bancos mais seguros para as pessoas. Uma das ações da Comissão foi elaborar um modelo de projeto de lei para ser levado pelos sindicatos de todo o país aos vereadores e deputados estaduais. Em alguns municípios as medidas tem sido propostas isoladamente, mas em outros, como São Gonçalo, a lei aprovada contempla todos os tópicos propostos pela comissão. “A aprovação da nova legislação é uma resposta positiva do poder público diante da insegurança e certamente vai ajudar a proteger a vida de trabalhadores e clientes dos bancos”, acredita o Ademir.


Punição


A lei aprovada em São Gonçalo impõe aos bancos punições em caso de não cumprimento do que determina o texto sancionado. Os estabelecimentos infratores sofrerão advertência, multa de 10 mil UFISGs, multa de reincidência no valor de 20 mil UFISGs após 30 dias e interdição, um mês após a aplicação da segunda multa.


Outro avanço é que, segundo a lei, os sindicatos locais de bancários e de vigilantes poderão denunciar ao poder público local as infrações cometidas pelos bancos.

Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES

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CUT e demais centrais sindicais decidem realizar ato conjunto no dia 11 de julho

A CUT, as demais centrais sindicais (CTB, Força, UGT, CSP/Conlutas, CGTB, CSB  e NCST), e o MST decidiram, em reunião realizada nesta terça-feira (25), em São Paulo, organizar atos conjuntos – do movimento sindical e social – no próximo dia 11 de julho em todo o País – e também os itens da pauta que serão levados à presidenta Dilma Roussef, em audiência que será realizada amanhã (26), no Palácio do Planalto, em Brasília.


As paralisações, greves e manifestações terão como objetivo destravar a pauta da classe trabalhadora no Congresso Nacional e nos gabinetes dos ministérios e também construir e impulsionar a pauta que veio das ruas nas manifestações realizadas em todo o país dos últimos dias.


“Vamos chamar à unidade das centrais sindicais e dos movimentos sociais para dialogar com a sociedade e construir uma pauta que impulsione conquistas, as reivindicações que vieram das ruas à pauta da classe trabalhadora”, disse o presidente da CUT, Vagner Freitas.


Segundo o dirigente, além de mais investimentos em saúde, educação e transporte público de qualidade, como os manifestantes pediram e que é também uma pauta dos trabalhadores e das trabalhadoras, os atos de julho irão reivindicar o fim dos leilões do petróleo, o fim do fator previdenciário, a redução da jornada para 40 horas semanais sem redução do salário, a reforma agrária e o fim do Projeto de Lei 4330 – “esse PL nefasto que acaba com as relações de trabalho no Brasil e é, na verdade uma reforma trabalhista escondida atrás de uma proposta de regulamentação da terceirização”, de acordo com Vagner.


“O que motivou a população a ir às ruas, a princípio, foi a revogação do aumento da tarifa do transporte coletivo. Concordamos que o transporte coletivo tem de ser subsidiado pelos governos, mas isso não pode impedir investimentos em saúde, educação e segurança e transporte de qualidade para a classe trabalhadora”, apontou o presidente da CUT.


Para ele, o Brasil melhorou muito nos últimos dez anos, mas a melhora foi mais da porta para dentro do que da porta para fora. “A insegurança aumentou, a piora nas condições do ensino e da saúde está fazendo com que o trabalhador gaste as conquistas, os ganhos salariais em escola, saúde e segurança privados”, justificou Vagner.


“Não fizemos as mudanças estruturais necessárias, a reforma agrária não ocorreu, o sistema político está falido, a representatividade não é democrática, as pessoas não são ouvidas, só elegem. A sociedade tem de controlar o trabalho dos políticos depois das eleições,” completou o dirigente.


Plebiscito


Sobre o plebiscito proposto ontem pela presidenta Dilma Rousseff para consultar a população sobre a Reforma Política, Vagner disse que a proposta é positiva porque o povo brasileiro quer participar.


Segundo ele, independentemente do debate técnico sobre a constitucionalidade ou não da consulta popular, a proposta é positiva porque a  sociedade tem de ter mecanismos para vigiar.


“Ouvir o povo é importante. Os governantes têm de ter esse tipo de postura – que a presidenta Dilma teve – de, durante seu mandato ouvir os eleitores, isso é democracia representativa”, disse Vagner, esclarecendo sempre que não estava falando da Constituição, de questões jurídicas e, sim, da importância de se ouvir a opinião da população.


“Votar não é dar tutela. Tem de ouvir a voz que veio das ruas e o que veio foi, principalmente, a insatisfação do povo com a prática política pequena, para dentro e não para fora. O povo não aguenta mais e quer participar”, concluiu  Vagner.


O calendário de mobilizações construído hoje, as manifestações e paralisações no dia 11 de julho será debatido pela Direção Nacional da CUT, que se reunirá em São Paulo na próxima quinta-feira, dia 27. Só neste dia, a CUT vai referendar, oficialmente, o calendário.


Pela CUT, participaram da reunião desta terça-feira, na sede da UGT, além de Vagner, Julio Turra (diretor Executivo), Valeir Ertle (secretário adjunto de Organização) e Quintino Severo (secretário de Administração e Finanças).

Escrito por: Marize Muniz

Fonte: CUT Nacional

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Todos sob controle

Frei Betto *


O novo herói da transparência democrática se chama Edward Snowden, tem 29 anos, e nasceu em Maryland, vizinho do Fort Meade, sede da poderosa NSA (sigla em inglês para designar a Agência de Segurança Nacional dos EUA). Ele nunca completou o ensino médio e foi dispensado do serviço militar, em 2003, devido a um ferimento. Como demonstrava grande talento para a informática, a CIA o recrutou.


Agora ele se encontra refugiado em Hong Kong por denunciar, com provas, que o governo dos EUA, através da NSA, controla a vida privada de milhões de cidadãos. Os jornais The Guardian, britânico, e Washington Post, estadunidense, publicaram os documentos sobre o projeto Prisma, vazados por Snowden em maio deste ano. Ele trabalhava para empresas contratadas pela NSA, como a Dell e, nos últimos meses, para a Booz Allen Hamilton.


Os documentos comprovam que a NSA tornou-se o verdadeiro Big Brother, descrito no célebre romance 1984, de George Orwell. Ela pode entrar em seu email, gravar todos os seus telefonemas, apropriar-se de todos os dados de seu cartão de crédito, como já vem monitorando a vida privada de quase 5 milhões de cidadãos. Segundo Snowden, basta conhecer o email de uma pessoa para se ter acesso a todo conteúdo do computador dela.


Com a invenção do Facebook já não é preciso recrutar espiões. Muitos usuários descrevem ali sua rotina diária, preferências e até intimidades amorosas. Mark Zuckerberg, seu inventor, admite que “utilizamos as informações (divulgadas pelos internautas) para prevenir atividades potencialmente ilegais.” Todo adepto do Facebook, ao clicar seu acordo às normas, aceita que todos os seus dados sejam “transferidos e estocados nos EUA”.


“Não quero viver num mundo em que tudo que faço e digo fica registrado”, justificou-se Snowden. Acrescentou que agiu assim porque “progressivamente tomei consciência de que os presidentes podem mentir para se manter no poder e ignorar suas promessas públicas sem consequências.”


O governo Obama não sabe onde enfiar a cara. Os documentos comprovam que a NSA burla inúmeras leis dos EUA, além de ser protegida por “leis secretas”, recurso que, ao arrepio dos princípios do Direito, é adotado pelas ditaduras. A esperança de Snowden é que a Justiça de seu país venha a contestar a vigilância eletrônica praticada em larga escala pela NSA.


Edward Snowden ingressa, agora, na seleta lista dos whistleblowers (acionadores de alertas). Um dos mais famosos deles é Daniel Ellsberg, funcionário do Departamento de Estado que, em 1971, vazou os papéis do Pentágono denunciando o verdadeiro caráter da guerra do Vietnam. Na época, ele trabalhava para a Rand Corporation, um instituto de pesquisa estreitamente vinculado aos serviços secretos estadunidenses.


Ellsberg fez vazar 43 volumes ultra confidenciais, com 7 mil páginas, provando que, de Eisenhower a Nixon, todos os presidentes mentiram sobre o envolvimento dos EUA no Vietnam. Isso fez mudar a opinião pública que, a partir de então, passou a exigir o fim da guerra, que terminou com a derrota de Tio Sam.


Nixon ficou tão furioso que, após ofender a progenitora do denunciante, mandou invadir o consultório do psiquiatra dele, em busca de informações que pudessem desacreditá-lo, e tentou colocar LSD em sua sopa. O processo se encerrou em 1973, quando a defesa de Ellsberg comprovou que houve escutas ilegais e “provas” fabricadas. Hoje, aos 82 anos, ele defende os jovens acionadores de alertas.


Outro é Bradley Manning, analista militar no Iraque que, aos 22 anos, repassou ao WikiLeaks de Julian Assange 700 mil documentos.


Como Snowden e Manning, funcionários subalternos, puderam ter acesso a documentos ultra secretos? A resposta, segundo analistas, é o pânico que tomou conta dos EUA após a queda das Torres Gêmeas, em 2001. A pressa em recrutar agentes para os serviços de espionagem impede uma seleção mais criteriosa.


“Uma de nossas obrigações é garantir que os EUA permaneçam seguros”, declarou a senadora democrata Dianne Feinstein após a denúncia de Snowden. Obama não foi menos enfático: “É preciso admitir que não se pode ter 100 % de segurança e, ao mesmo tempo, 100 % de privacidade e nenhum inconveniente.”


Eis a consagração do Estado Policial, capaz de controlar todos os seus cidadãos. O medo do terrorismo doméstico faz com que, hoje, 56 % dos estadunidenses apoiem a vigilância telefônica e eletrônica da população.


Temos, então, um arremedo de democracia. Uma democracia sem liberdade e privacidade. Comprovar que democracia e liberdade individual não são compatíveis é, sem dúvida, uma vitória de Osama Bin Laden.


 


* Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.
www.freibetto.org     twitter: @freibetto.






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Fonte: Frei Betto