Duas das maiores categorias do país, que negociam no segundo semestre – os bancários e petroleiros -foram às ruas nesta quarta-feira. Os trabalhadores dos Correios, que já estão em greve e enfrentam a intransigência da direção da companhia, também organizaram o ato e participaram ativamente. Havia também trabalhadores de várias categorias e até um representante dos petroleiros bolivianos. Foi um grande ato unificado para mostrar a disposição de luta de várias categorias contra o arroxo salarial que algumas empresas estão tentando impor a seus funcionários. O ato também teve como mote a luta por melhores condições de trabalho e respeito à vida, uma vez que os acidentes de trabalho continuam vitimando trabalhadores de várias categorias. “É muito importante a unidade de todas as categorias para mostrar e chamar a atenção da sociedade que nós não vamos aceitar a visão de alguns economistas, inclusive do BACEN, de que salário causa inflação. A melhor forma de enfrentar a crise é aumentando os salários, a renda, fortalecendo o mercado interno e é por isso que estamos nas ruas para defender salário, emprego, saúde e condição de segurança”, esclareceu Artur Henrique, presidente da CUT.
Construir a mobilização
Os bancários, que estão numa semana decisiva das negociações da Campanha Nacional, levaram às ruas a proposta de índice rebaixado, que supera a inflação do período em menos de meio ponto percentual. Os sindicalistas também deixaram claro que o assédio moral, as metas abusivas e a sobrecarga de trabalho estão adoecendo os trabalhadores. Também foi denunciada à população a alta rotatividade no setor, que demite trabalhadores para contratar outros por um salário mais baixo.
A proposta apresentada pelos banqueiros na última reunião, dia 20, nem se aproxima da reivindicação dos bancários. Ainda vai acontecer uma nova rodada no dia 23, mas os bancários já estão se preparando para uma possível greve. “A sinalização foi positiva porque a proposta apresentada pelos banqueiros zerou a inflação e deu 0,37 % de aumento real. Mas isso é insuficiente e, para mudarmos esta realidade, só com mobilização, assembleias cheias. É importante que todos os bancários e bancárias dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, a base da nossa Federação, junto com seus sindicatos, mobilizem toda a categoria para as assembleias do dia 22. E no dia 26 vamos ter novas assembleias para avaliar o resultado da reunião do dia 23”, anuncia Fabiano Júnior, presidente da Federação. As expectativas dos sindicalistas são de que a Fenaban faça uma proposta mais próxima do que foi reivindicado na rodada da próxima sexta-feira, mas sabem, pela experiência, que isso só acontece se houver muita pressão. “Já sabemos que, só com uma greve organizada da categoria vamos conseguir que a Fenaban apresente uma proposta melhor”, pondera Fabiano.
Problemas comuns
Mobilizados estão também os ecetistas, que estão em greve desde o último dia 13 e lidam com a ameaça de desconto dos dias parados, já que a empresa já anunciou que só vai abrir negociação se a paralisação for suspensa. Além de reajuste, os trabalhadores dos correios reivindicam aumento do piso. “Estamos pedindo a incorporação de R$ 400 e piso salarial de três salários mínimos para retomarmos o rumo da recomposição salarial”, informa Ronaldo Martins, presidente do SintECT-RJ. Também entrou na pauta de reivindicações o aumento do número de trabalhadores da empresa, já que nos últimos três anos não houve contratações. Um PDV recente também ajudou a piorar a situação e os Correios têm atualmente um déficit de 11 mil trabalhadores no país.
Em comum com os bancários, os ecetistas têm o problema dos correspondentes bancários. Depois de terminado um contrato de dez anos com o Bradesco para operar o Banco Postal, o governo acaba de fechar contrato com o BB para explorar o serviço. Mas o banco só entra no processamento de documentos, já que todo o serviço de caixa é feito pelos atendentes dos correios. “Hoje o Banco Postal dos Correios é um serviço bancário, mas os atendentes não recebem a quebra de caixa. Temos também a luta pela jornada de seis horas para estes trabalhadores. Hoje paga-se todas as contas, paga-se aposentadoria, mas não há segurança nas agências, não se paga a quebra de caixa aos atendentes. Nossa luta também vai na direção dos Correios terem seu próprio banco nesse novo modelo, para que tenha mais recursos para a empresa”, defende Ronaldo Martins.
A segurança também é um problema para os trabalhadores dos Correios. Carteiros, motoristas e atendentes são vítimas de assaltos com muita frequencia. “Nas agências não há câmeras de monitoramento, falta o profissional de segurança, falta a porta giratória. Os trabalhadores ficam expostos e há muitos trabalhadores afastados por problemas psicológicos. Isso acontece muito também com carteiros. A empresa, aqui no estado do Rio de Janeiro, só tem 12 carros de escolta. Dá para cobrir, muito mal, o município de São Gonçalo. Temos áreas onde fazemos entrega de valores, em que os trabalhadores são assaltados quase diariamente”, denuncia o dirigente ecetista.
Defesa da vida
Para os petroleiros, a manifestação também teve um mote específico: os acidentes do trabalho, que já vitimaram 15 trabalhadores – sendo a maioria terceirizados – em 2011, sendo 8 só no mês de agosto. Os manifestantes levaram cruzes simbolizando os 309 petroleiros e prestadores de serviço mortos no exercício de suas atividades profissionais desde 1995. Quando a passeata chegou à sede da Petrobras, as cruzes foram fincadas no gramado ou colocadas na calçada em frente ao edifício. “Há dois pilares que são as causas das mortes na Petrobras: primeiro, a terceirização. Depois, a redução dos efetivos, tanto próprio, quanto de terceirizados. E nós temos grandes propostas que já apresentamos à empresa, e vamos continuar insistindo para que haja uma mudança”, informa João Moraes, presidente da Federação Única dos Petroleiros – FUP.
Além dos acidentes, os petroleiros lutam para derrubar a determinação do governo de não conceder aumento real aos empregados das estatais. “Vamos mostrar que o caminho é o da recomposição salarial, de melhoria de condições de trabalho para o povo. Se o Brasil entrar nessa lógica de que salário causa inflação, vamos acabar como a Europa, como os EUA, sem mercado consumidor e em derrocada total”, avalia Moraes. O sindicalista petroleiro também lembra que a situação da Petrobras é excelente, já que atua num mercado em expansão, e que a empresa tem planos de investir US$ 170 bilhões nos próximos anos. “Os resultados disso vão ser estrondosos; os lucros, imensos e crescentes. Nada justifica que a Petrobras não apresente ganho real para esta categoria. E, se ela insistir em seguir esta orientação do governo – e a gente espera que o governo a reveja – a nossa resposta vai ser a mobilização e, se for necessário, a greve, a parada de produção”, anuncia o dirigente.
Em comum com os bancários, os petroleiros têm a luta contra as terceirizações, sobretudo o combate ao PL 4.330/04, do deputado Sandro Mabel (PR-GO), que amplia a legislação permitindo o trabalho terceirizado até mesmo nas atividades-fim. “O projeto do deputado Mabel vai na contramão da história, piora e precariza ainda mais as condições de trabalho. É um desserviço o que este deputado presta ao nosso país”, avalia Moraes.
Representatividade
Sindicalistas de várias bases estiveram presentes. Pelos bancários, compareceram diretores da Federação e representantes dos sindicatos da Baixada Fluminense, Petrópolis, Rio de Janeiro e Sul Fluminense, na base da Federação. A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Leite, e o presidente da ContrafCUT, Carlos Cordeiro, também participaram, ressaltando o caráter nacional do ato.
Pelos petroleiros, além de dirigentes da FUP, compareceram representantes de vários sindicatos do estado e do Sindipetro-BA, além do secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros da Bolívia, David Ruella. Pelos ecetistas, participaram o sindicato do Rio de Janeiro e a federação nacional da categoria, a FentECT. Representantes da Confederação Nacional dos Químicos – CNQ e da Federação Nacional dos Portuários (FNPortuarios) também compareceram. O ato teve ainda a presença de representantes dos metalúrgicos, eletricitários, radialistas e trabalhadores das telecomunicações do estado, além de integrantes da direção da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES. O vereador Reimont Otoni (PT) e o deputado estadual Gilberto Palmares (PT) levaram seu apoio ao ato dos trabalhadores.
À mesa com a Fenaban
Carlos Cordeiro, presidente da ContrafCUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários, concedeu à nossa reportagem uma breve entrevista. Confira:
Como está o clima das negociações? A negociação entre os bancários e a Fenaban está entrando num momento importante do processo. Depois de quatro rodadas de negociação a Fenaban apresentou uma proposta que eles chamam de global, diferente do ano passado, quando, na primeira proposta, os banqueiros não apresentaram nada. Estamos vendo claramente que é insuficiente a proposta apresentada porque oferece apenas 0,37 % de aumento real e isto está muito longe do lucro e da rentabilidade do banco. Não houve proposta de valorização do piso e, como nossa campanha não é meramente econômica, estamos preocupados porque a questão do emprego, da rotatividade, da falta de funcionários foi um tema que debatemos muito na mesa. Queremos que esta campanha, esta convenção coletiva possa apontar alguma solução. O que os bancários hoje mais reclamam é das péssimas condições de trabalho, do assédio moral, da pressão pelo cumprimento de metas e neste ponto também não avançou nada.
Estamos diante da possibilidade de greve? A mobilização está crescendo. Já rejeitamos a proposta na mesa, mas vamos submetê-la às assembleias do dia 22, já sinalizando a possibilidade de iniciarmos uma greve a partir do dia 27. A Fenaban está apontando para uma negociação antes disso e nós esperamos que, de fato, eles possam apresentar uma proposta boa para que o bancário possa se sentir contemplado frente aos lucros dos bancos. Mas, a persistir esta proposta ruim que os bancos estão colocando eu não tenho dúvidas de que nós vamos fazer uma greve talvez até maior que a que fizemos no ano passado.
A proposta da Fenaban de mandar a negociação de todas as cláusulas sociais para mesas temáticas tem alguma chance de passar? Temos um modelo de negociação em que negociamos o ano inteiro. Algumas coisas importantes são fruto das negociações que nós fizemos. Falamos que queríamos colocar peso maior nos temas não econômicos. Conquistamos, por exemplo, a não publicação dos rankings individuais de atingimento de metas, o que é um avanço que temos. Fora isso, estamos colocando a periodicidade de reuniões das mesas, apontando um calendário de negociação de temas importantes como a terceirização, por exemplo, a questão do call center. Estamos fazendo o debate de segurança bancária – infelizmente já são 31 mortes este ano!. Mas nada disso está fechado.
A proposta de periodicidade para as reuniões das mesas é trimestral, exceto para a de segurança bancária, que seria semestral. O Comando vai pressionar para que haja um intervalo menor entre as reuniões? Nós já batemos nisso. Os bancos, inclusive, já anotaram esta demanda e estão propondo rever. Esperamos que na próxima negociação eles já proponham uma frequencia maior para as reuniões. |
Fonte: Da Redação – FEEB-RJ/ES