Ato político marca os sete dias da morte de Lao Tsen

O Seeb-Rio abre seu auditório para homenagear seu ex-diretor e militante histórico da esquerda Lao Tsen de Araújo Dias, falecido no último sábado, 11. Aposentado da Caixa, foi sua a proposta de criação da Secretaria de Saúde do sindicato. Militante do extinto PCBR – Partido Comunista Brasileiro Revolucionário durante a ditadura, foi fundador do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ e fundador do PT, era figura fácil em todas as reuniões e manifestações importantes da esquerda carioca. Lao sofria de câncer desde 2010 e faleceu em casa, cercado da esposa, Maria Cândida Caetano, e das filhas Nadja, Moema e Luciana.

A homenagem será nesta sexta-feira, 17, às 18h, no auditório do Seeb-Rio (Av. Presidente Vargas, 502 / 21º andar).

 

 

 

Despedida

Hoje acordei com o meu celular avisando de uma ligação perdida. Logo fui verificar quem havia me ligado. Opa! Número domiciliar do Lao Tsen. Pensei: caramba o que pode ter saído no jornal que fez o velho Lao me ligar, para como sempre, comentar, reclamar, aconselhar ou propor alguma ação?

Mas como tem sido comum em nossas vidas, fui empurrado para olhar os Zap, aí veio a triste notícia: o velho Lao havia partido.

E a ligação não atendida com certeza havia sido feita, não pelo atento militante Lao, mas sim por sua firme e determinada companheira Cândida, para me dar a triste notícia: o combatente, irreverente, persistente, insistente, irritante, teimoso, solidário, consciente e sempre firme Lao havia sucumbido.

A tristeza tomou conta de mim, misturada com a alegria e orgulho de ter convivido com esse personagem de nossa história.

Lao, obrigado pela persistência de sempre.

Perdão pelas vezes que não te escutei como deveria.

Lao, obrigado pela fidelidade com as boas causas.

Perdão pelas vezes que não fui capaz de acompanhar o seu raciocínio.

Lao, obrigado pelo seu senso crítico sempre cortante.

Perdão pelas vezes que preferi a acomodação do “deixa como está”.

Lao, obrigado pelas vezes em que você, pelo exemplo, se fez indestrutível, combativo e guerreiro.

Perdão pelas vezes em que sorri covardemente ante aos comentários de que você era o “caçador de ossos”.

Lao, obrigado pela sua inabalável determinação em encontrar os nossos mortos, desaparecidos na ditadura e que, mesmo em restos de ossos, simbolizam os nossos ideias.

Lao, obrigado pela sua amizade, companheirismo, exemplo e determinação.

Perdão pelo tempo que não te dediquei, pela luta que você propôs e não fui capaz de enfrentar.

Perdão pelas palavras que você falou e que escutei, mas não fui capaz de ouvir e traduzir em ações.

Mas, sobretudo, muito obrigado pela sua amizade, companheirismo, cumplicidade, exemplo, solidariedade, consciência e ação.

Lao, descanse em paz, pois nós aqui continuaremos inquietos, inconformados, indignados e militantes, tal qual você sempre nos exigiu.

 

Por Adeilson Telles